sábado, 27 de dezembro de 2008

Sobre o Marxismo

No espaço ao lado colocaremos alguns textos que buscam retomar e/ou aprofundar o debate sobre o marxismo e artigos de análise da conjuntura. É o caso de dois documentos de 2000, "Algumas teses para retomar o marxismo - Materialismo Dialético" e "Algumas teses para retomar o marxismo - Materialismo Histórico". Nosso objetivo é, como diz a introdução do primeiro texto, procurar contribuir para "retomar o marxismo, estudar, compreender, expor e buscar desenvolver a teoria marxista".
Com o 3º texto, "O Pós Imperialismo é o Socialismo. O Que Vivemos é a Crise do Imperialismo", também de 2000, buscamos difundir textos que, a partir do marxismo, do ponto de vista do proletariado, analisam a conjuntura brasileira e mundial do período em que vivemos.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O Capital falando sobre crédito e crise

Num sistema de produção em que toda a conexão do processo de reprodução repousa sobre o crédito, quando então o crédito subitamente cessa e passa apenas a valer pagamento em espécie, tem de sobrevir evidentemente uma crise, uma corrida violenta aos meios de pagamento, À primeira vista, a crise toda se apresenta portanto apenas como crise de crédito e crise monetária. E de fato trata-se apenas da conversibilidade das letras em dinheiro. Mas essas letras representam em sua maioria compras e vendas reais, cuja extensão, que ultrapassa de longe as necessidades sociais, está, em última instância, na base de toda a crise. Ao lado disso, entretanto, uma enorme quantidade dessas letras representa negócios meramente fraudulentos que agora vêm à luz do dia e estouram; além de especulações feitas com capital alheio, mas fracassadas; e, finalmente, capitais-mercadorias desvalorizados ou até invendáveis ou refluxos que jamais podem entrar. Todo esse sistema artificial de expansão forçada do processo de reprodução não pode naturalmente ser curado pelo fato de um banco, por exemplo, o Banco da Inglaterra, dar a todos os caloteiros, em seu papel, o capital que lhes falta e comprar todas as mercadorias desvalorizadas a seus antigos valores nominais. De resto, tudo aparece aqui invertido, pois nesse mundo de papel o preço real e seus momentos reais nunca aparecem, mas apenas barras, dinheiro metálico, notas, letras de câmbio e papéis de crédito. Essa inversão aparece sobretudo nos centros em que se concentra todo o negócio monetário do país, como Londres; todo o processo se torna incompreensível; já menos, nos centros de produção.

De resto, quanto à superabundância de capital industrial, que se manifesta nas crises, há que observar: o capital-mercadoria é em si ao mesmo tempo capital monetário, isto é, determinada soma de valor expressa no preço da mercadoria. Como valor de uso, é determinado quantum de determinados objetos úteis, existente em excesso no momento da crise. Mas, como capital monetário em si, como capital monetário potencial, está sujeito a constante expansão e contração. Na véspera da crise e dentro da mesma, o capital-mercadoria, em sua qualidade de capital monetário potencial, está contraído. Representa para seu possuidor e para os credores deste (e como garantia de letras e empréstimos) menos capital monetário que ao tempo em que foi comprado e em que se efetuaram os descontos e os negócios pignoratícios baseados nele. Se deve ser este o sentido da afirmação de que o capital monetário de um país em tempos de crise fica diminuído, então isso é idêntico à proposição de que caíram os preços das mercadorias. Tal colapso dos preços de resto apenas compensa sua inchação anterior.
(MARX, Karl. O Capital: Crítica da economia política. Vol. III, tomo 2. Tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo: Abril Cultural, p. 28-29, 1983 – Economistas).
Os negritos são meus.