segunda-feira, 27 de abril de 2015

Inês Etienne Romeu: uma exemplo de revolucionária.



É com imenso pesar que o coletivo Cem Flores informa o falecimento hoje da revolucionária Inês Etienne Romeu. Sua vida, desde os primeiros anos de juventude até seus últimos dias, foi um exemplo de dedicação à luta de nosso povo. Seu nome nunca será esquecido entre aqueles que lutam para construir a verdadeira libertação do povo brasileiro.
Inês estará sempre presente por seu exemplo de vida em nossa memória.

Indicamos ainda, nessa homenagem a Inês Etienne Romeu, o depoimento de familiares e amigos da guerrilheira à Comissão Nacional da Verdade, que mostram toda a valentia de sua vida heróica. Acessem no link abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=MCxW3W0Qu9w






segunda-feira, 20 de abril de 2015

EM NOME DA RAZÃO? MARXISMO, RACIONALISMO, IRRACIONALISMO - Étienne Balibar

Apresentação.
"Em nome da razão? Marxismo, racionalismo, irracionalismo" é um texto de 1976 do filósofo e então comunista francês Étienne Balibar.

O texto possui, a nosso ver, uma dupla atualidade. Em primeiro lugar, por trazer uma reflexão sobre o problema teórico e político da luta ideológica no capitalismo "em geral". Ou, mais precisamente, entre o marxismo e a ideologia burguesa e suas diversas variantes. Essa luta é uma das frentes e formas da luta de classes que, como mostra o autor, não pode ser menosprezada, nem, por outro lado, isolada na prática revolucionária.
Em segundo lugar, para nossa conjuntura de crise imperialista, é atual pelo fato do autor partir do seguinte questionamento: como praticar essa luta ideológica, através da posição revolucionária, em períodos de crise capitalista? Isso porque nas crises a ideologia dominante tende a sofrer significativas modificações, apresentando inclusive algumas temáticas e questões a primeira vista "revolucionárias" (exemplo: crítica do "crescimento econômico" ou das "instituições burguesas"). Apesar dos exemplos dessas modificações dizerem respeito, no texto, à época e contexto do autor, vários deles são ainda pertinentes hoje, ou mesmo se radicalizaram na crise atual.

Nesse texto Balibar  traz especificamente a temática do racionalismo e seu aparente oposto (irracionalismo), e sua relação com o marxismo. O racionalismo, como o autor demonstra, foi e é a fundamentação (ideológica) do mundo burguês, desde sua luta contra o obscurantismo feudal. Como diz Balibar, é a "filosofia dominante" do mundo moderno. Mesmo seus avanços para o materialismo estiveram "condicionados", em última instância, pela necessidade prática e política da burguesia na consolidação das relações de produção capitalista.
No entanto, os períodos de crise fazem surgir "subprodutos" da ideologia burguesa que aparentam ser "anti-capitalista" e possuem um caráter pessimista-irracional (de direita, ou de “esquerda”; entre os intelectuais, ou entre as massas). Essas "inversões mecânicas" na ideologia dominante, como diz o autor, precisam ser compreendidas a fundo, em suas bases materiais e históricas, a fim de travar a luta ideológica através da posição revolucionária. Caso contrário, os marxistas tenderão a tomar essas inversões como reais rupturas, ou até combater o irracionalismo como inimigo principal (muitas vezes identificado ao nazi-fascismo e à burguesia em decadência) e identificando automaticamente o marxismo com o racionalismo.
Mas o quão o irracionalismo seria útil ao sistema em crise? O proletariado seria o paladino do racionalismo? O marxismo seria um ou o racionalismo?
Balibar basicamente expõe e polemiza com as posições em jogo nesse campo. Relacionando ideologia, ciência e sociedade burguesa em suas diferentes conjunturas de luta de classes e da luta entre o materialismo e idealismo, ele consegue recolocar e reposicionar diversas questões com fundamento nos pilares do marxismo. Mostra um quadro complexo, muitas vezes paradoxal e marcado por lutas de duas frentes, imperioso de ser entendido e debatido pelos comunistas a fim de uma intervenção justa. Afinal, como diz o mesmo, é essa intervenção que será, ao fim e ao cabo, a resolução daquilo que a ideologia burguesa aponta como beco sem saída (exatamente por ser beco sem saída para esse sistema e suas classes dirigentes).

terça-feira, 14 de abril de 2015

Eduardo Galeano: presente!

Reproduzimos abaixo, como homenagem ao grande escritor que faleceu ontem em Montevidéu, Uruguai, a introdução do seu livro As Veias Abertas da América Latina. 
Essa obra, de 1971, é uma profunda denúncia da colonização mercantilista/imperialista que caracterizou (e ainda caracteriza) a história de nosso continente. Segue extremamente atual.
Conhecer nossa realidade como ela concretamente é, e não como a ideologia burguesa busca apresenta-la é a garantia de construir o futuro que queremos. Como afirma Galeano nessa introdução: "A história é um profeta com o olhar voltado para trás: pelo que foi e contra o que foi, anuncia o que será".

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CENTO E VINTE MILHÕES DE CRIANÇAS NO CENTRO DA TORMENTA

Eduardo Galeano
Introdução ao livro As Veias Abertas da América Latina

Há dois lados na divisão internacional do trabalho: um em que alguns países especializam-se em ganhar, e outro em que se especializaram em perder. Nossa comarca do mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se abalançaram pelo mar e fincaram os dentes em sua garganta. Passaram os séculos, e a América Latina aperfeiçoou suas funções. Este já não é o reino das maravilhas, onde a realidade derrotava a fábula e a imaginação era humilhada pelos troféus das conquistas, as jazidas de ouro e as montanhas de prata. Mas a região continua trabalhando como um serviçal. Continua existindo a serviço de necessidades alheias, como fonte e reserva de petróleo e ferro, cobre e carne, frutas e café, matérias-primas e alimentos, destinados aos países ricos que ganham, consumindo-os, muito mais do que a América Latina ganha produzindo-os. São muito mais altos os impostos que cobram os compradores do que os preços que recebem os vendedores; e no final das contas, como declarou em julho de 1968 Covey T. Oliver, coordenador da Aliança para o Progresso, “falar de preços justos, atualmente, é um conceito medieval. Estamos em plena época da livre comercialização...” Quanto mais liberdade se outorga aos negócios, mais cárceres se torna necessário construir para aqueles que sofrem com os negócios. Nossos sistemas de inquisidores e carrascos não só funcionam para o mercado externo dominante; proporcionam também caudalosos mananciais de lucros que fluem dos empréstimos e inversões estrangeiras nos mercados internos dominados. “Ouve-se falar de concessões feitas pela América Latina ao capital estrangeiro, mas não de concessões feitas pelos Estados Unidos ao capital de outros países... É que nós não fazemos concessões”, advertia, lá por 1913, o presidente norte-ameiricano Woodrow Wilson, Ele estava certo: “Um país - dizia - é possuído e dominado pelo capital que nele se tenha investido.” E tinha razão. Na caminhada, até perdemos o direito de chamarmo-nos americanos, ainda que os haitianos e os cubanos já aparecessem na História como povos novos, um século antes de os peregrinos do Mayflower se estabelecerem nas costas de Plymouth. Agora, a América é, para o mundo, nada mais do que os Estados Unidos: nós habitamos, no máximo, numa sub-América, numa América de segunda classe, de nebulosa identificação.