quinta-feira, 30 de junho de 2016

O CAMINHO É PARA A FRENTE, HÁ QUE RETOMÁ-LO - ANA BARRADAS

Ana Barradas nas XV Jornadas Independentistas Galegas
O coletivo Cem Flores recebeu a carta abaixo da comunista portuguesa Ana Barradas com "reflexões sobre o estado a que chegaram os comunistas e suas propostas de debate para poder superar essa situação".
Por considerarmos importante documento para o debate da necessária retomada do marxismo e reconstrução do Partido Comunista, reproduzimos abaixo. 


O CAMINHO É PARA A FRENTE, HÁ QUE RETOMÁ-LO


Actual estrutura do capitalismo

A actual crise mundial do capitalismo tem gerado aumento do desemprego, crescimento das desigualdades sociais, concentração da renda e riqueza como nunca se viu antes, reforço das funções repressivas do Estado e da guerra imperialista contra os povos, sempre que necessário, para preservar o estado de coisas. O grande capital mostra-se incapaz de apontar saídas para essa crise do capitalismo. Ela apresenta-se como uma crise profunda e prolongada que exigirá reformas estruturais, com consequências sociais imprevisíveis. À crise internacional do capitalismo soma-se o esgotamento do modelo económico dos países mais frágeis, dependentes e periféricos como Portugal.

As classes dominantes que gerem o contexto internacional dos principais espaços imperialistas (EUA, Europa) demonstram não ter unidade em torno de um projecto hegemónico. Uma parcela procura a retoma e o aprofundamento do modelo neoliberal à custa de mais austeridade sobre os trabalhadores; outra esforça-se por temperar os excessos que abalam a integração social, causando insatisfação e rejeição social e fragilizando o apoio popular.

domingo, 5 de junho de 2016

A legalização da classe operária de Bernard Edelman


Fruto de um trabalho coletivo de tradutores e colaboradores, a publicação do livro A legalização da classe operária[1] (Boitempo, 2016), do advogado francês Bernard Edelman, vem minimizar uma lacuna no mundo editorial brasileiro. Lacuna que diz da ausência quase absoluta de novas edições e traduções das obras do grupo de militantes que, como Edelman, compartilhava das teses do militante comunista Louis Althusser. A recente publicação da editora Unicamp, Por Marx (Coleção Marx 21, 2015), de Althusser, também se insere nesse horizonte, cuja consequência será certamente estimular o debate teórico e a prática comunista em nosso país.

A legalização da classe operária centra sua análise e crítica sobre o chamado direito coletivo do trabalho[2] que, como forma ideológica,  incide sobre a luta de classes. Nos é apresentado um vasto estudo empírico que envolve legislações e peças processuais francesas, do século XIX até o momento do lançamento do livro (1978), referentes, sobretudo, ao direito de greve e de organização e representação sindical e por local de trabalho naquele país. Edelman demonstra a armadilha criada pelas classes dominantes através da ideologia jurídica: ao longo do tempo e da "legalização" das chamadas “conquistas” operárias, o capital consegue cooptar, violentamente, a classe operária e prendê-la em sua "fortaleza", a empresa. 

"A burguesia 'apropriou-se' da classe operária; impôs seu terreno, seu ponto de vista, seu direito, sua organização de trabalho, sua gestão." (p. 112).

Nessa questão o autor não poupa palavras. Ele fala que a burguesia, através de seus "representantes" inclusive e principalmente no meio operário, inventaram uma classe operária, legalizada e individualizada, e "mandou destruir, esfolar, mutilar e leiloar" (p. 147), "capturar, neutralizar, amordaçar" (p. 8) a classe operária enquanto classe politicamente autônoma.