segunda-feira, 16 de julho de 2018

Bolsonaro e a chacina de Eldorado do Carajás.

No último dia 13 de julho o candidato a presidente Jair Bolsonaro esteve em Eldorado dos Carajás, no sudeste paraense, em campanha. Lá, na Curva do S, local em que foram mortos no mínimo 19 camponeses em 1996, essa figura sinistra disse que “Quem tinha que estar preso era o pessoal do MST [Movimento dos Sem Terra], gente canalha e vagabunda. Os policiais reagiram para não morrer....” (https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/agencia-estado/2018/07/14/no-para-bolsonaro-defende-pm-por-massacre-em-carajas.htm).

Esse candidato, que vem se esforçando para ser o representante principal da burguesia nas próximas eleições presidenciais (https://brasil.elpais.com/brasil/2018/07/04/politica/1530727099_691325.html), pode se tornar o instrumento necessário para tentar garantir a “lei e a ordem” que os capitais necessitam para valorizar-se, nesses tempos em que a crise empurra os trabalhadores para a luta e a resistência. Como disse o Presidente da UDR (União Democrática(?) Ruralista), entidade histórica do latifúndio assassino no Brasil na cara desse candidato capacho: “Bolsonaro, aqui o recado da classe produtora é direto: procuramos um presidente que não nos atrapalhe e não nos persiga”.Ou seja, querem (mais) um presidente que persiga os camponeses e trabalhadores rurais e que amplie ainda mais o apoio ao latifúndio brasileiro (financiamentos subsidiados, perdão das dívidas nos bancos públicos, garantia de compra das safras, legislação trabalhista e ambiental de acordo com seus interesses, polícia, repressão e morte aos trabalhadores do campo, enfim a continuidade das vantagens que sempre tiveram).

Para informar aos camaradas e leitores do site do Cem Flores sobre o que foi o Massacre de Eldorado do Carajás, em 1996, numa análise à luz da luta de classes no campo, reproduzimos abaixo material que recebemos de um colaborador e que publicamos em 2011. Segue atual e ajuda a desmascarar a quem interessa a ofensiva conservadora e fascista no Brasil, cuja candidatura de Bolsonaro (entre outras) é expressão.

sábado, 7 de julho de 2018

A Crise Infinita

António Barata

Nos dias que correm é unanimemente considerado, da esquerda à direita, que a crise que vivemos é culpa do neoliberalismo, da intervenção da troica e do FMI. Se a estes factores o BE, e principalmente o PCP, acrescentam a falta de patriotismo das camadas dominantes da burguesia portuguesa, sempre pronta a aceitar as imposições do Eurogrupo, do Banco Central Europeu, da Alemanha, da França e do FMI, já o PS, PSD e o CDS, preferem responsabilizar o “despesismo” de Guterres e dos governos que se lhe seguiram, em particular os de Sócrates, que teriam levado o país à bancarrota.

AS ILUSÕES DA ESQUERDA

Sendo tudo isto é verdade, o simplismo de tais pontos de vista em vez de esclarecer, confunde e mascara a realidade. Porquê?

Em primeiro lugar, porque ao responsabilizar o neoliberalismo – ou como dizem, o “sequestro do poder político pelo económico”, a “desregulamentação dos mercados” e a “financiarização da economia” – a esquerda nada mais fez e faz que estabelecer uma divisão artificial entre um capitalismo supostamente bom (aquele que produz mercadorias e cria riqueza) e um outro capitalismo supostamente mau (aquele que, sendo improdutivo, vive da especulação financeira, isto é, da compra e venda de dinheiro, ações e títulos). Colocadas as coisas desta maneira, o caminho que esta esquerda nos aponta é o da derrota (a crise ser paga pelos trabalhadores e pelos pobres e não pelos ricos), iludindo-nos sobre a possibilidade de um capitalismo ético, aclassista, regulado, democrático e ao serviço do “bem comum”. A que somam a crença de que as falências, destruição de valor, precariedade, desemprego, miséria, guerras, regressão social e fascização provocadas pela crise capitalista actual podem levar ao fim do neoliberalismo e do capitalismo tal como o conhecemos. É como se – por artes mágicas, sem a “chatice” de terem de propor projectos alternativos de sociedade, mobilizadores e capazes de elevar a consciência dos trabalhares enquanto classe com interesses opostos aos do capital e a sentir-se obrigados a se organizar politicamente para os fazer valer – o neoliberalismo e o capitalismo pudessem ser derrotados em resultado exclusivo das suas contradições internas, sem a necessidade de alguma classe os derrubar.