sábado, 26 de dezembro de 2015

Podem, na atual conjuntura brasileira, a classe operária e os comunistas tomar partido nas disputas entre facções[1] burguesas a favor de uma ou de outra?

Sobre o processo de impeachment de Dilma

A decisão do Presidente da Câmara dos Deputados de aceitar o pedido de impeachment da Presidente Dilma Rousseff, formulado por Hélio Bicudo (ex-PT), Miguel Reale Jr. (PSDB) e outros, certamente irá ocupar o centro das discussões políticas nos próximos dias, semanas, meses. Esse processo tende a ser longo e tumultuado, com indas e vindas dentro do próprio governo e do Congresso, envolvendo ministros e parlamentares dos partidos da dita base de apoio ao governo, dentro da Comissão Especial que vai analisar o pedido de impeachment, no Plenário da Câmara dos Deputados, no Supremo Tribunal Federal, tudo marcado por um sem número de acordos e traições, trocas de favores e conchavos de toda a espécie – ou seja, a política burguesa em toda a sua plenitude, sem suas máscaras habituais – e com algum reflexo nas ruas, em manifestações de ambos os lados. A favor ou contra, todas as facções burguesas (PT, PCdoB, CUT, PMDB, PSDB, Força Sindical, Movimento Brasil Livre, Vem Pra Rua, etc.) defenderão que sua posição sobre o impeachment significa a defesa da democracia, das instituições, do estado democrático de direito e a saída para a crise política, quem sabe também a saída para a própria crise econômica. 

De agora em diante, e a todo o momento, a classe operária e os comunistas serão chamados a se posicionar sobre o impeachment, quer de forma “indireta”, pelo domínio do tema no noticiário, quer por pressões diretas, pelos partidos de “esquerda” (sic!), sindicatos, “movimentos populares”, nos locais de trabalho e de militância ou, mais importante, pelos próprios operários mais avançados, pelas bases ou pelos simpatizantes, amigos e leitores. 

A ideologia burguesa dominante e seus aparelhos ideológicos de Estado – que sempre buscam limitar as lutas de classe das classes dominadas aos limites das “reivindicações” institucionais – vão buscar limitar esse posicionamento a respeito do processo de impeachment necessariamente a uma escolha binária, sim ou não, excluindo qualquer outra hipótese ou possibilidade. 

Ainda pior, sob a hegemonia de posições reformistas burguesas, centrais sindicais, sindicatos e “movimentos populares” vão pressionar o proletariado e os comunistas para que se posicionem em defesa do governo burguês de Dilma e do PT, de sua legitimidade eleitoral, e defenderão que esse processo pode ser (mais) uma “oportunidade” para mobilizações que apoiem o governo e o pressionem a mudar sua correlação de forças, adotando uma política “progressista”, contrária à atual política recessiva “neoliberal”. Exemplo disso já seriam as manifestações de 16 de dezembro e a queda de Joaquim Levy do Ministério da Fazenda. 

É preciso, desde logo, deixar muito claro que essa posição reformista do PT, da CUT, do MST, do MTST e outros, a favor do governo burguês de Dilma e do PT, portanto essa posição “anti-impeachment”, não passa do mais velho, explícito e deslavado oportunismo. 

Qual deveria, então, ser a posição do proletariado e dos comunistas diante desse importante momento da conjuntura política brasileira atual? Em outras palavras, podem, na atual conjuntura brasileira, a classe operária e os comunistas tomar partido nas disputas entre facções burguesas a favor de uma ou de outra? 

A resposta a essas perguntas deve ser a mesma do poeta: E o operário disse: Não! / E o operário fez-se forte / Na sua resolução. 

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Viva a Vitória das Ocupações das Escolas Estaduais em São Paulo!

Escola Estadual Diadema: uma das primeiras a ser ocupada, em 9 de novembro 


A luta de classes na vida cotidiana da classe operária e das classes dominadas e de suas famílias se expressa pela contradição exploração / luta ou ainda opressão / resistência. 

São os baixos salários em uma dura e prolongada jornada de trabalho; as longas horas de deslocamento em meios de transporte superlotados e precários; os bairros com infraestrutura urbana mínima, muitas vezes sem asfalto nem rede de esgoto, e neste ano também com racionamento de água; uma sucateada rede pública de ensino para seus filhos, entre muitos outros etc. 

Pois em São Paulo, um dos estados mais castigados com o aumento do desemprego na atual crise do capital no país, foram justamente os filhos dos operários e dos trabalhadores paulistas que passaram a assumir a frente na luta e na resistência. 

sábado, 5 de dezembro de 2015

Vídeo sobre a ocupação das escolas em São Paulo.

Reproduzimos abaixo o excelente vídeo sobre as ocupações das escolas públicas do estado de São Paulo, resultado de reportagem da Folha de S. Paulo em escolas da periferia (Itaquera, Perus, Diadema), mas que desapareceu da TV Folha, agora recuperado: “O vídeo que sumiu da TV Folha”. O vídeo mostra a luta dos estudantes, bem como sua organização nas ocupações das mais de 200 escolas.
Após semanas ocupando as escolas,  enfrentando forte repressão pelo governo paulista com uso de "táticas de guerrilha" e "ações de guerra" (declaração do chefe de gabinete da Secretaria Estadual de Educação, Fernando Padula) para retirar os estudantes das escolas ocupadas e das ruas (acessem: Em vídeos e fotos a repressão da PM aos estudantes secundaristas e Estudantes param São Paulo com "trancamentos" e enfrentam dura repressão), os estudantes, com o apoio de pais, professores e manifestações de trabalhadores nas ruas, conseguiram fazer o governo estadual recuar e retirar sua proposta de "reorganização" do ensino no Estado.
A luta dos estudantes paulistas é um exemplo de que, com participação massiva e organização, é possível resistir à ofensiva das classes dominantes e de seu aparelho estatal.



terça-feira, 10 de novembro de 2015

Programa de Proteção ao Emprego (sic): caminho para novas formas de exploração da classe operária com o apoio da CUT e do sindicato dos metalúrgicos do ABC

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2015/09/545113.shtml

O Congresso Nacional aprovou o chamado Programa de Proteção ao Emprego – PPE, instituído pelo governo Dilma/PT.
O que vamos mostrar nesse artigo é que, apesar do nome, o PPE não constitui política para proteger o emprego, nem mesmo o dos trabalhadores das empresas que entram no programa.
O PPE representa sim a abertura para novas formas de intensificação da exploração da classe operária pela burguesia, sancionada pelo Estado burguês sob a direção do PT e com o aval do sindicalismo pelego, para fazer retroceder a posição da classe operária na luta de classes.
O PPE avança novas formas de intensificação da exploração do trabalhador pelos capitalistas que se projetam para além da situação imediata, setorial ou local. Também ensaia o Acordo Coletivo Especial – ACE, projeto do sindicato dos metalúrgicos do ABC e da CUT que faz o negociado prevalecer sobre o legislado, ou seja, flexibiliza a legislação trabalhista para cortar direitos conquistados pelos trabalhadores.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

"A GLÓRIA DE UM COMUNISTA É LUTAR DE FORMA INCANSÁVEL E PERSISTENTE POR FAZER A REVOLUÇÃO NO SEU PAÍS" - Carlos Morais, dirigente comunista da Galícia.

Reproduzimos abaixo o discurso do camarada Carlos Morais, dirigente do Primeira Linha, organização comunista da Galícia, realizado em 11 de outubro, o Dia da Galícia Combatente.
Nessa intervenção o dirigente galego afirma a necessidade da organização do "partido comunista combatente, patriótico e revolucionário" como alternativa para se atingir o objetivo de "tomar o poder para construir uma nova sociedade num novo País".
Mostra que "sem uma direção e uma nítida orientação operária o movimento de libertação nacional está condenado ao fracasso" e afirma a necessidade de "combater sem trégua o fetichismo eleitoral, o movimentismo cidadanista e desmascarar o ilusionismo de mudar o regime empregando a sua empodrecida e corrupta estrutura jurídico-política"
Afirma ainda com precisão: "A glória de um comunista é lutar de forma incansável e persistente por fazer a Revolução no seu país como o melhor contributo a felicidade do povo trabalhador e à emancipação da humanidade".
O original pode ser lido aqui. Mantivemos o discurso em galego, língua que é parte da luta de libertação desse povo do domínio colonial espanhol.




DISCURSO DE CARLOS MORAIS NO DIA DA GALIZA COMBATENTE

Boa tarde camaradas!

Saudaçons comunistas, revolucionárias e patrióticas!

Por primeira vez desde que o Dia da Galiza Combatente foi instaurado por NÓS-UP em 2001, Primeira Linha convoca esta importante data do calendário político do movimento de libertaçom nacional galego.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Crise Capitalista, Aumento do Desemprego e Arrocho Salarial: a Única Saída para a Classe Operária é a sua Luta!


O capitalismo brasileiro vive mais uma séria crise econômica. Essa crise, que ainda não chegou nem na sua metade, já é a mais grave em quase um quarto de século, desde o mal fadado governo Collor. Após se arrastar por alguns anos, a crise do capital no Brasil se tornou aberta com a recessão iniciada em 2014, que se agravou tremendamente neste ano e vai permanecer, pelo menos, até o próximo ano.

Numa crise capitalista, a burguesia se vê impossibilitada de seguir adiante com as mesmas condições anteriores de produção, ou seja, não consegue mais realizar sua taxa de lucro esperada. Para buscar contrarrestar essa queda nos seus lucros, a burguesia luta para aumentar de todos os modos a exploração sobre a classe operária e demais classes dominadas. Com o fundamental auxílio do Estado burguês (qualquer que seja o governo de plantão), a ofensiva da burguesia na luta de classes em períodos de crise se dá sob a forma de demissões em massa, cortes de salários, revisão de conquistas trabalhistas e outros diversos tipos de precarização do trabalho, além de ameaças e chantagens cotidianas. Com isso, a burguesia busca, por um lado, repor, de imediato, sua taxa de lucro, com a redução dos seus gastos com a força de trabalho. Por outro lado (e não menos importante), a burguesia busca fazer retroceder a posição da classe operária na luta de classes de forma mais perene, mediante o aumento do exército industrial de reserva, o rebaixamento dos salários e das condições de vida das massas trabalhadoras.

Não é diferente o que está acontecendo no Brasil neste ano. Isso pode ser comprovado, primeiramente, pela evolução da taxa de desemprego, que é uma das dimensões do impacto da crise econômica sobre a classe operária e o conjunto dos trabalhadores[i]. O gráfico abaixo traz as duas medidas “oficiais” de desemprego no país, ambas calculadas pelo IBGE[ii].


quinta-feira, 16 de julho de 2015

Comunicado do CC do KKE acerca do novo acordo-memorando.

Reproduzimos abaixo comunicado do Partido Comunista da Grécia (KKE) sobre os acordos estabelecidos entre o governo grego e a troika (Banco Central Europeu, FMI e União Europeia). Nosso objetivo com essa publicação é aprofundar a compreensão dos fatos nesse país, buscando analisa-los a partir de uma perspectiva de classe, marxista.

A análise da crise na Grécia (e no Brasil também), como desdobramento da crise do imperialismo, do ponto de vista do marxismo, nos possibilita compreender a impossibilidade de soluções paliativas, burguesas, de conciliação, que atendam aos interesses da burguesia e do proletariado ao mesmo tempo, a exemplo do que defendem (e sempre defenderam) o SYRIZA por lá e o PT por aqui (com o apoio aqui e lá dos reformistas iludidos de sempre).

Para o povo, a “solução” à crise que a burguesia indica é ampliar a exploração e a dominação a que estão submetidos, aumentando a miséria e a fome de milhões para atender a imperiosa necessidade do capital em tentar retomar a taxa de lucro mesmo que a custa da barbárie.

Porém, a conjuntura atual nos mostra ainda que a única alternativa possível à crise e a tudo o que ela representa no aprofundamento da exploração e da dominação capitalista em todo o mundo, é a revolução. É essa a tarefa urgente! Construir as condições para, com a revolução, barrar a barbárie que a crise do imperialismo impõe aos povos de todo o mundo.


Comunicado do CC do KKE acerca do novo acordo-memorando.

1. O KKE conclama os trabalhadores, empregados, as camadas populares pobres, os pensionistas, desempregados e jovens a dizerem um real e inflexível grande NÃO ao acordo-memorando, o qual foi assinado pela coligação governamental SYRIZA-ANEL com a UE-BCE-FMI e a combater contra as medidas selvagens nele incluídas nas ruas e nos locais de trabalho. Estas medidas serão acrescentadas às medidas bárbaras do memorando anterior. Devem organizar o seu contra-ataque para  que o povo não seja conduzido à bancarrota completa. Que fortaleçam o movimento operário, a aliança do povo, de modo a que possam abrir caminho para o povo ser libertado de uma vez para sempre do poder do capital e das uniões imperialistas que estão a levar-nos para uma barbárie cada vez maior.

Nem um dia, nem uma hora devem ser desperdiçados. Agora, sem tardança, a atividade do povo deve ser intensificada dentro de lugares de trabalho, fábricas, hospitais, serviços, bairros, sindicatos, por comités populares e comités de solidariedade social e assistência. O acordo levará a uma nova redução significativa do rendimento do povo e ao esmagamento dos direitos populares. Ele legitima e dá sinal verde a demissões, à expansão do trabalho não pago, ao férias compulsórias e outras medidas anti-trabalhadores, as quais têm sido adotadas pelo grande patronato no período recente, aproveitando as restrições sobre transações bancárias.

terça-feira, 7 de julho de 2015

E os operários disseram: NÃO!


E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução. [1]

Na última sexta-feira, 3 de julho, a esmagadora maioria dos operários da fábrica da Mercedes-Benz de São Bernardo votou: NÃO!

A votação secreta, em urna (e não nas tradicionais assembleias), era sobre a proposta da “Troika brasileira”[2] – união de interesses e de ação entre governo, patrões e sindicatos pelegos – de redução dos salários, neste e nos próximos anos. E os operários disseram: NÃO!

Essa votação, no entanto, não foi um evento isolado. Ela deve ser entendida no contexto da crise econômica (crise do capital) pela qual atravessa a economia brasileira e dos interesses antagônicos das classes (luta de classes), agravados pela crise.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Lenin: En los Primeros Dias de Octubre

Se você não conseguir visualizar o livro, clique aqui.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Viva o 1º de Maio! Viva o Dia Internacional dos Trabalhadores!

Em comemoração ao Dia Internacional dos Trabalhadores o Coletivo Cem Flores preparou o vídeo abaixo como homenagem àqueles que constroem esse mundo e que um dia serão os donos dele.


Viva o 1º de Maio! Viva o Dia Internacional dos Trabalhadores!



Pode-se acessar o vídeo no Youtube
https://www.youtube.com/watch?v=b9ngiUitenE

ou no Facebook
https://www.facebook.com/CemFloresDesabrochem/videos/889531021106340/?pnref=story


segunda-feira, 27 de abril de 2015

Inês Etienne Romeu: uma exemplo de revolucionária.



É com imenso pesar que o coletivo Cem Flores informa o falecimento hoje da revolucionária Inês Etienne Romeu. Sua vida, desde os primeiros anos de juventude até seus últimos dias, foi um exemplo de dedicação à luta de nosso povo. Seu nome nunca será esquecido entre aqueles que lutam para construir a verdadeira libertação do povo brasileiro.
Inês estará sempre presente por seu exemplo de vida em nossa memória.

Indicamos ainda, nessa homenagem a Inês Etienne Romeu, o depoimento de familiares e amigos da guerrilheira à Comissão Nacional da Verdade, que mostram toda a valentia de sua vida heróica. Acessem no link abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=MCxW3W0Qu9w






segunda-feira, 20 de abril de 2015

EM NOME DA RAZÃO? MARXISMO, RACIONALISMO, IRRACIONALISMO - Étienne Balibar

Apresentação.
"Em nome da razão? Marxismo, racionalismo, irracionalismo" é um texto de 1976 do filósofo e então comunista francês Étienne Balibar.

O texto possui, a nosso ver, uma dupla atualidade. Em primeiro lugar, por trazer uma reflexão sobre o problema teórico e político da luta ideológica no capitalismo "em geral". Ou, mais precisamente, entre o marxismo e a ideologia burguesa e suas diversas variantes. Essa luta é uma das frentes e formas da luta de classes que, como mostra o autor, não pode ser menosprezada, nem, por outro lado, isolada na prática revolucionária.
Em segundo lugar, para nossa conjuntura de crise imperialista, é atual pelo fato do autor partir do seguinte questionamento: como praticar essa luta ideológica, através da posição revolucionária, em períodos de crise capitalista? Isso porque nas crises a ideologia dominante tende a sofrer significativas modificações, apresentando inclusive algumas temáticas e questões a primeira vista "revolucionárias" (exemplo: crítica do "crescimento econômico" ou das "instituições burguesas"). Apesar dos exemplos dessas modificações dizerem respeito, no texto, à época e contexto do autor, vários deles são ainda pertinentes hoje, ou mesmo se radicalizaram na crise atual.

Nesse texto Balibar  traz especificamente a temática do racionalismo e seu aparente oposto (irracionalismo), e sua relação com o marxismo. O racionalismo, como o autor demonstra, foi e é a fundamentação (ideológica) do mundo burguês, desde sua luta contra o obscurantismo feudal. Como diz Balibar, é a "filosofia dominante" do mundo moderno. Mesmo seus avanços para o materialismo estiveram "condicionados", em última instância, pela necessidade prática e política da burguesia na consolidação das relações de produção capitalista.
No entanto, os períodos de crise fazem surgir "subprodutos" da ideologia burguesa que aparentam ser "anti-capitalista" e possuem um caráter pessimista-irracional (de direita, ou de “esquerda”; entre os intelectuais, ou entre as massas). Essas "inversões mecânicas" na ideologia dominante, como diz o autor, precisam ser compreendidas a fundo, em suas bases materiais e históricas, a fim de travar a luta ideológica através da posição revolucionária. Caso contrário, os marxistas tenderão a tomar essas inversões como reais rupturas, ou até combater o irracionalismo como inimigo principal (muitas vezes identificado ao nazi-fascismo e à burguesia em decadência) e identificando automaticamente o marxismo com o racionalismo.
Mas o quão o irracionalismo seria útil ao sistema em crise? O proletariado seria o paladino do racionalismo? O marxismo seria um ou o racionalismo?
Balibar basicamente expõe e polemiza com as posições em jogo nesse campo. Relacionando ideologia, ciência e sociedade burguesa em suas diferentes conjunturas de luta de classes e da luta entre o materialismo e idealismo, ele consegue recolocar e reposicionar diversas questões com fundamento nos pilares do marxismo. Mostra um quadro complexo, muitas vezes paradoxal e marcado por lutas de duas frentes, imperioso de ser entendido e debatido pelos comunistas a fim de uma intervenção justa. Afinal, como diz o mesmo, é essa intervenção que será, ao fim e ao cabo, a resolução daquilo que a ideologia burguesa aponta como beco sem saída (exatamente por ser beco sem saída para esse sistema e suas classes dirigentes).

terça-feira, 14 de abril de 2015

Eduardo Galeano: presente!

Reproduzimos abaixo, como homenagem ao grande escritor que faleceu ontem em Montevidéu, Uruguai, a introdução do seu livro As Veias Abertas da América Latina. 
Essa obra, de 1971, é uma profunda denúncia da colonização mercantilista/imperialista que caracterizou (e ainda caracteriza) a história de nosso continente. Segue extremamente atual.
Conhecer nossa realidade como ela concretamente é, e não como a ideologia burguesa busca apresenta-la é a garantia de construir o futuro que queremos. Como afirma Galeano nessa introdução: "A história é um profeta com o olhar voltado para trás: pelo que foi e contra o que foi, anuncia o que será".

*  *  *

CENTO E VINTE MILHÕES DE CRIANÇAS NO CENTRO DA TORMENTA

Eduardo Galeano
Introdução ao livro As Veias Abertas da América Latina

Há dois lados na divisão internacional do trabalho: um em que alguns países especializam-se em ganhar, e outro em que se especializaram em perder. Nossa comarca do mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se abalançaram pelo mar e fincaram os dentes em sua garganta. Passaram os séculos, e a América Latina aperfeiçoou suas funções. Este já não é o reino das maravilhas, onde a realidade derrotava a fábula e a imaginação era humilhada pelos troféus das conquistas, as jazidas de ouro e as montanhas de prata. Mas a região continua trabalhando como um serviçal. Continua existindo a serviço de necessidades alheias, como fonte e reserva de petróleo e ferro, cobre e carne, frutas e café, matérias-primas e alimentos, destinados aos países ricos que ganham, consumindo-os, muito mais do que a América Latina ganha produzindo-os. São muito mais altos os impostos que cobram os compradores do que os preços que recebem os vendedores; e no final das contas, como declarou em julho de 1968 Covey T. Oliver, coordenador da Aliança para o Progresso, “falar de preços justos, atualmente, é um conceito medieval. Estamos em plena época da livre comercialização...” Quanto mais liberdade se outorga aos negócios, mais cárceres se torna necessário construir para aqueles que sofrem com os negócios. Nossos sistemas de inquisidores e carrascos não só funcionam para o mercado externo dominante; proporcionam também caudalosos mananciais de lucros que fluem dos empréstimos e inversões estrangeiras nos mercados internos dominados. “Ouve-se falar de concessões feitas pela América Latina ao capital estrangeiro, mas não de concessões feitas pelos Estados Unidos ao capital de outros países... É que nós não fazemos concessões”, advertia, lá por 1913, o presidente norte-ameiricano Woodrow Wilson, Ele estava certo: “Um país - dizia - é possuído e dominado pelo capital que nele se tenha investido.” E tinha razão. Na caminhada, até perdemos o direito de chamarmo-nos americanos, ainda que os haitianos e os cubanos já aparecessem na História como povos novos, um século antes de os peregrinos do Mayflower se estabelecerem nas costas de Plymouth. Agora, a América é, para o mundo, nada mais do que os Estados Unidos: nós habitamos, no máximo, numa sub-América, numa América de segunda classe, de nebulosa identificação.

terça-feira, 3 de março de 2015

A Tática de Luta de Classe do Proletariado

Camaradas,

Publicamos abaixo, do artigo de Lênin “Karl Marx”, de 1914, o capítulo “A Tática de Luta de Classe do Proletariado”.

Esse texto se soma a outros já publicados no blog, como Sobre as Greves, com o objetivo de destacar a ofensiva da luta das massas exploradas no Brasil e a necessidade da resistência operária frente a sua exploração pela burguesia; e o recém publicado sobre a greve dos operários da Volks-Anchieta A Luta Operária Contra a Exploração Capitalista e o Sindicalismo de Parceria com o Capital e o Governo onde demonstramos que, a partir do exemplo da luta dos operários dessa montadora, existem

“duas posições distintas: a da direção sindical, de viabilizar a redução dos custos salariais e o aumento dos lucros dos patrões, apresentados como garantia do emprego, comprovando na prática, mais uma vez, o seu peleguismo; e a da classe operária, centrada na luta e enfrentamento da exploração.”

Nossa intenção com o conjunto desses textos é destacar a possibilidade e a necessidade do desenvolvimento da posição proletária na luta da classe operária, da resistência dos trabalhadores aos interesses do capital a partir de sua situação concreta, desenvolvimento que se dá, entre outras coisas, no aprofundamento da crítica à prática tanto dos pelegos quanto dos esquerdistas que tentam rebaixar a luta dos trabalhadores para o campo do reformismo, do cretinismo parlamentar, do dogmatismo.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A Luta Operária Contra a Exploração Capitalista e o Sindicalismo de Parceria com o Capital e o Governo


Se em seus conflitos diários com o capital cedessem covardemente ficariam os operários, por certo, desclassificados para empreender outros movimentos de maior envergadura.” (Marx)[1]

Cada greve lembra aos capitalistas que os verdadeiros donos não são eles, e sim os operários, que proclamam seus direitos com força crescente. Cada greve lembra aos operários que sua situação não é desesperada e que não estão sós. Vejam que enorme influência exerce uma greve tanto sobre os grevistas como sobre os operários das fábricas vizinhas ou próximas, ou das fábricas do mesmo ramo industrial.” (Lênin)[2]

O fato político mais importante deste início do ano foi, sem dúvida, a greve de 11 dias consecutivos (6 a 16 de janeiro) dos operários da Volkswagen (Anchieta) de São Bernardo do Campo. A última greve realizada na Volks-Anchieta aconteceu em setembro de 2006, assim como hoje, contra a demissão, à época, de 3.600 trabalhadores.

A unanimidade das correntes políticas sindicais consideraram a greve como uma vitória. Podemos, realmente, falar em vitória da greve? O que significa, para a classe operária, a vitória em uma greve? Melhor dizendo, quais os sentidos da greve para a luta operária? Uma resposta a estas questões deve assumir, do nosso ponto de vista, a perspectiva da classe operária, situar-se da posição dos operários na conjuntura da luta de classes.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Brasil: Crise e Regressão (Parte 3)


Postamos abaixo a terceira parte (de um total de quatro) da sequência de publicações sobre a conjuntura econômica brasileira, analisando os desdobramentos em nossa formação da crise do imperialismo e dos rearranjos da economia mundial, e seus impactos nas classes dominadas. Nesse documento abordamos a tendência de reprimarização e especialização na produção de commodities para exportação.
A primeira parte do documento pode ser acessada aqui (http://cemflores.blogspot.com.br/2014/11/teses-sobre-conjuntura-nacional.html) e a segunda parte aqui (http://cemflores.blogspot.com.br/2014/12/brasil-crise-e-regressao-parte-2.html).

V. Reprimarização

constituição de um setor agroindustrial voltado à exportação. Na exportação de commodities minerais. Assim, o pólo dinâmico da economia se transfere para setores voltados à exportação. Portanto, um conjunto de setores que se realizam no exterior. No geral, setores de elaboração de produtos primários. Ou seja, os novos setores dinâmicos têm seu ciclo produtivo concluído no exterior, realizado no exterior. Nesse sentido, o Brasil aprofunda a característica de país exportador de mercadorias intensivas em força de trabalho e derivadas da exploração de seus recursos naturais, baseando-se, para competir no mercado mundial, em sua disponibilidade de força de trabalho barata e de pouca qualidade. A especialização na produção e exportação de commodities é outra das características da regressão colonial”.
(Formação econômico-social brasileira: regressão a uma situação colonial de novo tipo, negritos nossos, https://sites.google.com/site/cemescolasrivalizem/home/textos-novos/Regress%C3%A3o.pdf?attredirects=0&d=1)

Também em relação à tendência de reprimarização da economia brasileira, com sua maior especialização na produção e exportação de commodities agropecuárias e minerais, apontadas no texto sobre regressão, a realidade do país nos últimos anos, reforçou as tendências apontadas em 2006. Não apenas o agronegócio e a extração mineral representam parcela expressiva da atividade econômica brasileira como as exportações e os fluxos líquidos de divisas são cada vez mais dependentes das vendas desses produtos básicos.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

E o Bradesco emplacou mais um!

Relembremos aos camaradas leitores deste blog Cem Flores, sumariamente, o enredo em questão: vencidas as eleições, Lula e Dilma decidem que, no segundo mandato de Dilma, o governo do PT precisaria explicitar (ainda mais!) sua submissão às classes dominantes. Para isso, concluem que nada melhor do que colocar um banqueiro no comando do governo, para realizar o, digamos, “ajuste”. Na verdade, uma baita recessão, com arrocho fiscal e monetário, reformas trabalhistas e aumento do desemprego. O governo do PT precisaria de um “primeiro-ministro” banqueiro, como bem sintetizou o petista desiludido André Singer[1].

Lula de imediato correu para seu velho parceiro Henrique Meirelles, ex-presidente do BankBoston, que foi presidente do Banco Central nos oito anos de Lula. Confortavelmente instalado na empresa monopolista transnacional do setor de carnes, Meirelles disse não.

A busca frenética continuou e, dessa vez, Lula e Dilma buscaram se socorrer no Bradesco. A opção seria o próprio presidente do banco, Trabuco. O patriarca do Bradesco, o quase nonagenário Lázaro Brandão, disse não. Não querendo, no entanto, perder a chance de comandar diretamente o governo, Brandão indicou seu funcionário Joaquim Levy.

Até ai já contamos essa história. Os camaradas podem ler todos os detalhes e uma avaliação sumária da crise econômica brasileira atual no post “Os Três Banqueiros, o PT e a Crise Econômica Brasileira”, de 7 de dezembro do ano passado (http://cemflores.blogspot.com.br/2014/12/o-tres-banqueiros-o-pt-e-crise.html).

Eis que nesta segunda-feira, dia 5 de janeiro, pudemos constatar, pela enésima vez, quão insaciável é a fome das classes dominantes pelo controle do seu aparelho de Estado. O Bradesco, não satisfeito com ter indicado o Ministro da Fazenda, indicou agora o número dois do ministério. Na cerimônia de transmissão do cargo, Joaquim Levy anunciou que o Secretário-Executivo do Ministério da Fazenda, também chamado de “vice-ministro”, será Tarcísio Godoy, que vem a ser, nada mais nada menos, que o Diretor do Bradesco Seguros e Previdência![2]

Ora, um governo dos banqueiros e pelos banqueiros, ao implantar sua política econômica, defenderá e beneficiará quais classes? A classe operária já sente essa questão na pele, com os mais de mil operários demitidos nesta semana apenas na Volkswagen e na Mercedes-Benz. A única resposta possível para a classe operária é sua mobilização e luta, como a atual greve na Volks e na Mercedes Benz, e sua organização política, reconstruindo seu partido revolucionário, o Partido Comunista!



[1] Ver a coluna “Muito Barulho por Nada”, na Folha de São Paulo de 06.12.2014, disponível em http://www1.folha.uol.com.br/colunas/andresinger/2014/12/1558491-muito-barulho-por-nada.shtml. A pérola da desilusão tem um excelente primeiro parágrafo: “Depois da tragédia, a farsa. Semana passada, foi melancólico ver a junta econômica assumir o poder em Brasília. Dilma Rousseff, como se fosse uma futura rainha da Inglaterra, ficou confinada em algum cômodo de Buckingham, enquanto o primeiro ministro, ladeado pelos auxiliares principais, anunciava o programa do próximo período em solenidade britanicamente fria” (negrito nosso).
[2] Ver perfil publicado por O Globo, em 06.01.2015, reproduzido pelo próprio Ministério da Fazenda em https://www1.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/MostraMateria.asp?page=&cod=1012974.