terça-feira, 30 de setembro de 2008

KARL MARX (1869) [*][1]

Friedrich Engels
Tornou-se hábito na Alemanha ver Ferdinand Lassalle como o fundador do movimento de trabalhadores alemão. Ainda assim, nada pode ser menos correto. Se há seis ou sete anos, em todos os distritos manufatureiros, em todas as principais cidades, os centros de população trabalhadora, o proletariado transbordava em grande número para vê-lo, e suas jornadas eram marchas triunfais, às quais os príncipes reinantes devem ter invejado – não teria esse terreno sido calmamente fertilizado de antemão, de modo a que pudesse dar frutos tão rapidamente? Se os trabalhadores aplaudem entusiasticamente seus ensinamentos, será porque esses ensinamentos são novos para eles ou porque eles já estão há muito mais ou menos familiarizados a pensadores entre eles?

A vida passa rapidamente para a geração de hoje e eles esquecem rápido. O movimento dos anos quarenta, que culminou na revolução de 1848 e terminou com a reação de 1849 a 1852, já foi esquecido, juntamente com sua literatura política e socialista. É, portanto, necessário relembrar que antes e durante a revolução de 1848 existiu entre os trabalhadores, precisamente na parte ocidental da Alemanha, um partido socialista bem organizado[2], que foi dissolvido após o julgamento dos comunistas de Colônia[3], é verdade, mas cujos membros, individualmente, continuaram calmamente a preparar o terreno que Lassalle mais tarde tomou posse. Além disso, devemos lembrar que existiu um homem que, além de organizar aquele partido, devotou o trabalho de sua vida ao estudo científico do que era chamado de questão social, isto é, a crítica da economia política, e mesmo antes de 1860 publicou alguns dos significativos resultados de suas pesquisas[a]. Lassalle era um companheiro altamente talentoso e bem educado, um homem de grande energia e de versatilidade quase sem limites; ele era claramente moldado a desempenhar um papel na política, quaisquer que fossem as circunstâncias. Mas ele não foi nem o fundador do movimento dos trabalhadores alemães, nem um pensador original. Tudo o que ele escreveu foi derivado de outro lugar, não sem algumas incompreensões também; ele teve um predecessor e um superior intelectual, cuja existência ele manteve em segredo, é claro, enquanto ele vulgarizava seus escritos, e o nome desse superior intelectual é Karl Marx[4].

Karl Marx nasceu em 5 de maio de 1818 em Trier, onde recebeu uma educação clássica. Ele estudou jurisprudência em Bonn e mais tarde em Berlim, onde, no entanto, sua preocupação com filosofia rapidamente o afastou do direito. Em 1841, depois de passar cinco anos na “metrópole dos intelectuais”, ele retornou a Bonn com intenção de tornar-se professor. Naquele tempo, a primeira “Nova Era”[5] estava em voga na Prússia. Frederico Guilherme IV havia declarado sua afeição por uma oposição leal e tentativas foram feitas em vários lugares para organizá-la. Então a Gazeta Renana [Reinische Zeitung] foi fundada em Colônia; com coragem sem precedentes, Marx usou-a para criticar as deliberações da Assembléia Provincial do Reno, em artigos que atraíram grande atenção[b]. Ao final de 1842 ele assumiu pessoalmente a editoria e foi um tal espinho para os censores que eles lhe concederam a honra de mandar um censor[c] de Berlim especialmente para cuidar da Gazeta Renana. Quando isso também se provou inútil, o jornal foi submetido à censura dupla já que, adicionalmente ao procedimento usual, todos os números estavam sujeitos a uma segunda etapa de censura pelo escritório do Regierungspräsident de Colônia[d]. Mas essa medida também foi inútil contra a “malevolência obstinada” da Gazeta Renana e, no início de 1843, o ministério editou um decreto declarando que a Gazeta Renana deveria deixar de ser publicada no final do primeiro trimestre. Marx imediatamente renunciou pois os acionistas tentavam buscar um acordo, mas isso também deu em nada e o periódico deixou de ser publicado[6].

Suas críticas às deliberações da Assembléia Provincial do Reno levaram Marx a estudar as questões do interesse material. Perseguindo isso ele foi confrontado com pontos de vista que nem a jurisprudência nem a filosofia levavam em consideração[7]. Partindo da filosofia do direito de Hegel, Marx chegou à conclusão de que não era o estado, que Hegel havia descrito como o “topo do edifício”, mas a “sociedade civil,” que Hegel havia julgado com desdém, que era a esfera na qual uma chave para o entendimento do processo de desenvolvimento histórico da humanidade deveria ser buscada. Entretanto, a ciência da sociedade civil é a economia política, e essa ciência não podia ser estudada na Alemanha, ela só poderia ser estudada de forma completa na Inglaterra ou na França.

Portanto, no verão de 1843, após ter se casado, em Trier, com a filha do Conselheiro von Westphalen (irmã do von Westphalen que mais tarde se tornou o Ministro do Interior da Prússia), Marx se mudou para Paris, onde ele se dedicou principalmente ao estudo da política econômica e da história da grande Revolução Francesa. Ao mesmo tempo ele colaborou com Ruge na publicação do Anuário Franco-Alemão [Deutsch-Französische Jahrbücher], do qual, entretanto, apenas um número seria publicado. Expulso da França por Guizot em 1845, ele foi para Bruxelas e lá permaneceu, prosseguindo nos mesmos estudos, até o começo da revolução de fevereiro. Quão pouco ele concordava com a versão do socialismo comumente aceita lá, mesmo na sua forma que soava mais erudita, foi demonstrado na sua crítica ao principal trabalho de Proudhon, Philosophie de la misere[e], que foi publicada em 1847 em Bruxelas e Paris sob o título de Miséria da Filosofia. Nesse trabalho já podem ser encontrados muitos dos pontos essenciais da teoria que ele agora apresentou com todos os detalhes[f]. O Manifesto do Partido Comunista, Londres, 1848, escrito antes da revolução de fevereiro e adotado pelo congresso de trabalhadores em Londres, é também, fundamentalmente, seu trabalho[g].

Expulso mais uma vez, agora pelo governo belga sob a influência do pânico causado pela revolução de fevereiro, Marx retornou a Paris por convite do governo provisório francês[8]. O maremoto revolucionário jogou toda a atividade científica para segundo plano; o que importava agora era se envolver no movimento. Depois de haver trabalhado, durante esses turbulentos primeiros dias, contra as noções absurdas dos agitadores, que queriam organizar trabalhadores alemães, a partir da França, como voluntários para lutar por uma república na Alemanha[9], Marx foi para Colônia com seus amigos e fundou lá a Nova Gazeta Renana [Neue Rheinische Zeitung], que foi publicada até junho de 1849 e da qual as pessoas do Reno ainda se lembram bem até hoje. A liberdade de imprensa de 1848 provavelmente não foi, em nenhum lugar, explorada de forma tão bem sucedida quanto naquela época, no centro da fortaleza prussiana, por aquele jornal. Depois de o governo ter tentado em vão silenciar o jornal por meio de processos nos tribunais – Marx foi levado duas vezes perante o júri, por uma ofensa contra as leis de imprensa e por incitar a população a se recusar a pagar seus impostos, e foi absolvido e ambas as ocasiões – ele teve que ser fechado durante as revoltas de maio de 1849 quando Marx foi expulso sobre o pretexto de não ser mais um cidadão prussiano, com pretextos similares tendo sido usados para expulsar os outros editores. Marx teve, portanto, que retornar a Paris, de onde ele foi novamente expulso e de onde, no verão de 1849[h], ele se mudou para o seu atual domicílio em Londres.

Naquele tempo estava reunida em Londres toda a fina flor [fine fleur] de refugiados de todas as nações do continente. Comitês revolucionários de todos os tipos estavam sendo formados, combinações, governos provisórios in partibus infidelium[i], havia discussões e disputas de todos os tipos, e os cavalheiros envolvidos sem dúvida olham agora para aquele período como o mais mal sucedido de suas vidas. Marx permaneceu à distância de todas essas intrigas. Por um tempo ele continuou a produzir sua Nova Gazeta Renana sob a forma de uma revista mensal (Hamburgo, 1850), mais tarde ele se retirou para o Museu Britânico e trabalhou em sua imensa e até então, em sua maior parte, inexplorada biblioteca em relação a tudo o que ela continha sobre economia política. Ao mesmo tempo ele foi um colaborador regular da Tribuna de Nova Iorque [New York Tribune], atuando, até o início da Guerra Civil Americana, como, por assim dizer, editor para política européia do principal jornal anglo-americano.

O golpe de estado de 2 de dezembro o levou a escrever um panfleto, O Dezoito Brumário de Louis Bonaparte, Nova Iorque, 1852, que está atualmente sendo reeditado (Meissner, Hamburgo), e que fará uma contribuição não desprezível para a compreensão da insustentável posição na qual o mesmo Bonaparte acaba de colocar-se. O herói do golpe de estado é apresentado aqui como ele é na realidade, despido da glória com a qual o seu sucesso momentâneo o cercou. O filisteu que considera seu Napoleão III o maior homem do século e é agora incapaz de explicar a si mesmo como seu milagroso gênio subitamente está tendo fracasso atrás de fracasso e cometendo um erro político atrás do outro – esse mesmo filisteu pode consultar a obra mencionada de Marx para sua informação.

Apesar de, durante toda sua estada em Londres, Marx ter optado por não se colocar na linha de frente, ele foi forçado por Karl Vogt, depois da campanha italiana de 1859, a entrar em uma polêmica, que foi encerrada com a obra de Marx Herr Vogt (Londres, 1860). Aproximadamente na mesma época, seu estudo sobre economia política deu seu primeiro fruto: Contribuição à Crítica da Economia Política, Parte Um, Berlim, 1859. Esse fascículo contém apenas a teoria da moeda, apresentada a partir de aspectos completamente novos. A continuação demorou algum tempo para aparecer, já que o autor descobriu uma quantidade tão grande de material nesse meio tempo que considerou necessário empreender estudos adicionais.

Finalmente, em 1867, foi publicado, em Hamburgo, Capital. Crítica da Economia Política, Volume I. Esse trabalho contém os resultados de estudos aos quais toda uma vida foi devotada. Ele é a economia política da classe trabalhadora, descrita em sua formulação científica. Esse trabalho preocupa-se[j] não com fraseologia eloqüente para agitar as multidões, mas com deduções estritamente científicas. Qualquer que seja a atitude de alguém em relação ao socialismo, esse alguém terá que de qualquer maneira reconhecer que nesse trabalho o socialismo está apresentado pela primeira vez de forma científica, e que foi precisamente a Alemanha que realizou isso. Qualquer um que ainda queira combater o socialismo terá que enfrentar Marx, e se for bem sucedido nisso, então realmente não haverá a necessidade de mencionar dei minorum gentium[k].

Existe também outro ponto de vista pelo qual o livro de Marx tem interesse. Ele é o primeiro trabalho no qual as reais relações existentes entre capital e trabalho, em sua forma clássica tal qual alcançada na Inglaterra, são descritas como um todo e de maneira clara e inequívoca. Os relatórios parlamentares forneceram amplo material para isso, atravessando um período de quase quarenta anos e praticamente desconhecidos mesmo na Inglaterra, material tratando das condições dos trabalhadores em quase todos os ramos da indústria, trabalho de mulheres e crianças, trabalho noturno, etc[10].; tudo isso se tornou disponível ali pela primeira vez. Além disso, há a história da legislação fabril na Inglaterra que, a partir de seu modesto começo com as primeiras leis de 1802[11], agora chegaram ao ponto de limitar as horas de trabalho em quase todas as indústrias manufatureiras ou familiares a 60 horas por semana para mulheres e jovens até a idade de 18 anos, e a 39 horas por semana para crianças até 13 anos[12]. Desse ponto de vista, o livro é do maior interesse para cada industrial.

Por muitos anos, Marx tem sido o “melhor difamado” dos escritores alemães, e ninguém negará que ele foi inflexível em sua retaliação e que todos os golpes que ele desferiu acertaram o alvo violentamente. Mas a polêmica, com a qual ele tanto lidou, foi basicamente apenas um meio de autodefesa para ele. Em última análise seu interesse real está com a sua ciência, a qual ele estudou e refletiu por vinte e cinco anos com escrupulosidade incomparável, uma escrupulosidade que o impediu de apresentar suas descobertas ao público de forma sistemática até que elas o tivessem satisfeito em relação à forma e conteúdo, até que ele estivesse convencido de não ter deixado nenhum livro sem ler, nenhuma objeção sem ser levada em consideração, e que ele tivesse examinado cada ponto em todos os seus aspectos. Pensadores originais são muito raros nessa era de epígonos; se, no entanto, um homem é não apenas um pensador original, mas também dispõe de um saber inigualável em sua matéria, então ele merece ser duplamente reconhecido.

Como seria de se esperar, além dos seus estudos Marx está ocupado com o movimento dos trabalhadores; ele é um dos fundadores da Associação Internacional dos Trabalhadores, que tem sido o centro de tanta atenção recentemente e que já mostrou em mais de um lugar na Europa que é uma força a ser considerada. Nós acreditamos não estar enganados ao dizer que nessa, ao menos no que diz respeito ao movimento de trabalhadores, organização memorável, o elemento alemão – graças precisamente a Marx – detém a posição influente que lhe é devida.

Notas

[*]Traduzido do inglês a partir de ENGELS, F. (1869). Karl Marx. In: MARX, Karl e ENGELS, Frederick. Collected Works, volume 21, fevereiro de 1867 a meados de julho de 1870. Moscou: Progress Publishers, 1985, pp. 59-64. Texto parcialmente disponível, em inglês, no sítio Marxists Internet Archive (http://www.marxists.org/), em Marx & Engels Internet Archive, Marx/Engels Collected Works (http://www.marxists.org/archive/marx/works/cw/index.htm). O link direto para o texto é: http://www.marxists.org/archive/marx/bio/marx/eng-1869.htm.
Escrito por volta de 28 de julho de 1869. Publicado pela primeira vez em Die Zukunft, nº 185, de 11 de agosto de 1869. A edição citada, a primeira para esse texto traduzido para o inglês, o publicou de acordo com a publicação original, verificada com o manuscrito.
[1] Essa pequena biografia de Karl Marx baseia-se na versão original de Engels, escrita ao final de julho de 1868, para o jornal literário alemão Die Gartenlaube (ver a carta de Engels a Marx de 29 de julho e a carta de Marx a Kugelmann de 26 de outubro de 1868, volume 43 da presente edição), mas que não foi publicada pelos editores. Em julho de 1869, Engels a reescreveu para o jornal Die Zukunft, nº 185, de 11 de agosto de 1869. Essa primeira biografia de Marx, escrita por Engels, também foi publicada no Demokratisches Wochenblatt, nº 34 (suplemento), de 21 de agosto de 1869, por Wilhelm Liebknecht, que omitiu um trecho dos mais importantes, no qual [Engels, NT] afirmava que Lassalle não era um pensador original, mas que tomava emprestado de Marx o conteúdo para seus escritos e vulgarizava os seus trabalhos [de Marx, NT].
NT: as cartas mencionadas na nota acima não estão disponíveis nos Collected Works de Marx e Engels publicados na internet.
Em 26 de julho de 1868, Ludwig Kugelmann escreveu a Engels comunicando-lhe que, de acordo com o escritor liberal húngaro Kertbény, o editor alemão Ernst Keil teria concordado em publicar uma biografia de Marx no Die Gartenlaube, editado em Leipzig. Para essa publicação Kugelmann propôs o título de “Um Economista Político Alemão”.
A possibilidade da publicação, que Engels em carta a Marx de 29 de julho daquele ano, chama de “esplêndida” se confirmada, levou-o a “rabiscar na maior pressa o rascunho anexo”, que enviou a Marx na carta citada para comentários. O objetivo de Engels com a publicação da biografia era o de divulgar o marxismo, a Associação Internacional de Trabalhadores e, principalmente, O Capital, então recém publicado. Sobre esse último Engels estava preparando à época diversas resenhas. Embora considerasse o Die Gartenlaube um “trapo miserável”, a opinião de Engels era de que o periódico tinha credibilidade entre seus leitores e que essa publicação poderia, ademais, impressionar Meissner, o editor de O Capital.
No mesmo dia Marx envia seus comentários enfatizando 1) os fatos do fechamento da Gazeta Renana, em especial afirmando: “Eu renunciei porque os acionistas – mesmo em vão, como se demonstrou posteriormente – tentaram negociar com o governo prussiano, 2) o convite por escrito do governo provisório francês para retornar à França (ver nota 8, abaixo), 3) que sua expulsão da Prússia em função os episódios da Nova Gazeta Renana ocorreu por ordem real, após as tentativas nos tribunais, e 4) que ele preferiria o título “Um Socialista Alemão”, embora também não o achasse muito significativo. O artigo mostra que, à exceção do título, afinal de contas o Die Gartenlaube não publicou o texto, Engels acrescentou todos os pontos sugeridos por Marx.
Dois dias depois, Engels envia carta a Kugelmann, com o manuscrito corrigido em anexo, e ressalta: “Seria desejável que Kertbény não soubesse nem quem é o autor do artigo nem que visse o manuscrito original”.
Em 26 de outubro do mesmo ano, Marx retoma o assunto em resposta a uma carta de Kugelmann. A resposta é dura. Marx afirma que sua “convicção era decididamente contrária” à publicação da biografia em Die Gartenlaube, e que só “cedeu” porque Kugelmann e Engels acharam que seria útil. Pedindo a Kugelmann que “por fim abandone urgentemente essa piada”, afirma que “esse tipo de coisa é mais prejudicial que útil e abaixo da dignidade de um homem da ciência”. Marx menciona pedido similar de outro periódico e afirma: “Não somente eu não mandei [a biografia]; eu nem sequer respondi à carta”. Por fim, em relação a Keil e Kertbény, ressalta que quanto menos tratar com ambos, melhor.

[2] Referência à Liga dos Comunistas, a primeira organização comunista do proletariado na Alemanha e internacionalmente, formada sob a liderança de Marx e Engels em Londres no começo de junho de 1847, como resultado da reorganização da Liga dos Justos (associação secreta de trabalhadores e artesãos refugiados que surgiu na década de 1830 e tinha comunidades na Alemanha, França, Suíça e Inglaterra). O programa e os princípios organizacionais da Liga dos Comunistas foram escritos com a participação direta de Marx e Engels. Os membros da Liga tiveram participação ativa nas revoluções democrático-burguesas de 1848-49 na Alemanha. Apesar da derrota da revolução ter representado um golpe na Liga, ela foi reorganizada em 1849-50 e continuou suas atividades. No verão de 1850, surgiram divergências na Liga entre os apoiadores de Marx e Engels e o grupo sectário de Willich-Schapper que tentou impor à Liga sua tática aventureirista de desencadear imediatamente a revolução sem levar em consideração a situação atual e as possibilidades práticas. Essas divergências levaram a uma divisão na Liga em setembro de 1850. Devido às perseguições policiais e à prisão de membros da Liga em maio de 1851, as atividades da Liga dos Comunistas enquanto organização praticamente acabaram na Alemanha. Em 17 de novembro de 1852, por proposta de Marx, o distrito de Londres anunciou a dissolução da Liga.
A Liga dos Comunistas teve um importante papel histórico como o primeiro partido proletário guiado pelos princípios do comunismo científico, como uma escola para os revolucionários proletários, e como o precursor histórico da Associação Internacional dos Trabalhadores.

[3] O julgamento dos comunistas de Colônia (de 4 de outubro a 12 de novembro de 1852) foi organizado e manipulado pelo governo prussiano. Os acusados eram membros da Liga dos Comunistas presos na primavera de 1851 sob acusação de “planos de traição”. Os documentos forjados e as falsas evidências apresentados pelas autoridades policiais não serviam apenas para assegurar a condenação dos acusados, mas também para comprometer seus camaradas de Londres e a organização proletária como um todo. As táticas desonestas às quais recorreu o estado policial prussiano para lutar contra o movimento internacional da classe trabalhadora foram expostas por Engels no seu artigo “O Julgamento Tardio em Colônia” e, em maior detalhe, por Marx em seus panfletos Revelações a Respeito do Julgamento Comunista em Colônia (ver na presente edição, vol. 11) e Herr Vogt, capítulo 3, seção 4 (ver na presente edição, vol. 17).
NT: a obra de Engels citada na nota acima está disponível, em inglês, em http://www.marxists.org/archive/marx/works/1852/11/29a.htm, e o artigo de Marx, em http://www.marxists.org/archive/marx/works/1853/revelations/index.htm. O sítio mencionado não publicou o Herr Vogt.

[4] Essa frase foi omitida por Liebknecht no Demokratisches Wochenblatt, nº 34 (suplemento) de 21 de agosto de 1869, o que Engels notou com desaprovação em sua carta à Marx de 5 de setembro de 1869 (ver na presente edição, vol. 43).
NT: a carta mencionada na nota acima não está disponível nos Collected Works de Marx e Engels publicados na internet.
Os termos de Engels são os seguintes: “Wilhelmchen caiu agora tão baixo que ele não pode mais dizer que Lassalle plagia de você, e erroneamente. Isso emasculou toda a biografia e somente ele pode saber por que continua a imprimi-la”. Liebknecht afirmara a Marx, em carta de 17 de agosto, que ele havia abreviado o texto, pois o mesmo poderia “ofender” os lassalleanos se publicado na íntegra.

[5] Engels se refere ao começo do reino de Frederico Guilherme IV da Prússia (1840-57) no qual a burguesia liberal depositava grandes esperanças. Mas essa “Nova Era” de vida curta trouxe concessões insignificantes para a burguesia liberal.

[6] Em 19 de janeiro de 1843, o governo prussiano aprovou uma decisão banindo a Gazeta Renana a partir de 1º de abril de 1843 e impondo uma rigorosa censura durante o período remanescente. O decreto foi promulgado em 21 de janeiro. Após a publicação do anúncio legal de 21 de janeiro, Marx dirigiu seus esforços para assegurar a rejeição do decreto. Ao final de janeiro de 1843, ele já estava pensando em renunciar à editoria (ver carta para Ruge de 25 de janeiro de 1843, na presente edição, vol. 1, pg. 397), mas não considerava possível levar a cabo sua intenção durante a campanha pela rejeição do banimento. Em março, entretanto, ele acreditava que mudanças no comitê editorial poderiam tornar possível a salvação do periódico, e ele se convenceu a renunciar oficialmente ao seu posto (o anúncio da sua renúncia foi publicado em 17 de março de 1843). Marx também foi, provavelmente, impelido a tomar essa decisão pela sua indisposição de tomar para si a responsabilidade por uma possível mudança na linha editorial do periódico, através da qual os acionistas liberais desejavam prolongar sua existência.
O anúncio legal, no entanto, não foi revogado. O último número do periódico foi publicado em 31 de março de 1843.
NT: a carta mencionada está disponível, em inglês, no link http://www.marxists.org/archive/marx/works/1843/letters/43_01_25.htm.

[7] Mais tarde, Marx escreveu no prefácio à sua Contribuição à Crítica da Economia Política (1859): “Nos anos de 1842-43, como editor da Gazeta Renana, eu me encontrei, pela primeira vez, na embaraçosa posição de ter que discutir o que é conhecido como interesses materiais. Os debates na Assembléia Provincial renana sobre o roubo de lenha e a divisão da propriedade fundiária; a polêmica oficial iniciada pelo Herr Von Schapper, então primeiro presidente da Província do Reno, contra a Gazeta Renana sobre a condição dos camponeses do Mosela e, finalmente, os debates sobre o livre comércio e as tarifas protecionistas fizeram-me em primeiro lugar voltar minha atenção às questões econômicas” (ver presente edição, vol. 29).
NT: traduzido da NE feita a partir da versão em inglês para os Collected Works e verificada com a tradução para o português de Maria Helena Barreiro Alves, com revisão de Carlos Roberto F. Nogueira, in: MARX, Karl. Contribuição à Crítica da Economia Política, 2ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1983.

[8] NT: no mesmo 3 de março em que recebeu a ordem, assinada pelo rei da Bélgica, para deixar o país em 24 horas, Marx recebeu a resposta do governo provisório francês ao seu pedido de cancelamento de sua ordem de expulsão anterior, nos seguintes termos:
“Bravo e leal Marx,
O solo da República Francesa é um lugar de refúgio para todos os amigos da liberdade. A tirania baniu você, a França livre abre suas portas a você e a todos os que lutam pela santa causa, pela fraternal causa de todos os povos. Todo funcionário do governo francês deve interpretar sua missão neste sentido. Saudações e fraternidade.
Ferdinand Elocon
Membro do Governo Provisório” (In: McLELLAN, David. Karl Marx, vida e pensamento. Petrópolis: Vozes, 1990, pg. 206).

[9] Isso se refere à Sociedade Democrática Alemã, formada em Paris após a revolução de fevereiro de 1848 e liderada por democratas pequeno-burgueses que fizeram campanha para criar uma legião voluntária de refugiados alemães com a intenção de marchar para a Alemanha. Dessa maneira, eles esperavam iniciar uma revolução na Alemanha e estabelecer uma república. Marx e Engels condenaram resolutamente esse plano aventureirista de “exportar a revolução”. Ao final de abril de 1848, a legião voluntária chegou a Baden onde foi dispersada pelas tropas governamentais.

[10] Engels se refere aos relatórios dos comissários indicados para pesquisar a situação em vários ramos da indústria inglesa, publicados nos Livros Azuis [Blue Books].
Livros Azuis: coletâneas de documentos do Parlamento inglês e do Ministério do Exterior, publicados desde o século XVII.

[11] A Lei sobre a Saúde e a Moral dos Aprendizes de 1802 limitou a jornada de trabalho de crianças aprendizes a doze horas e proibiu seu emprego à noite. Essa lei era aplicável apenas às indústrias de algodão e lã; a lei não previa controle pelos inspetores de fábrica e foi virtualmente desrespeitada pelos donos das fábricas.

[12] Referência à lei de 15 de agosto de 1867, que incluiu novos ramos nas leis industriais (incluindo a de 1847) sobre a jornada de trabalho de dez horas, e à lei de 21 de agosto de 1867 sobre o trabalho de crianças, adolescentes e mulheres em oficinas. A primeira lei abrangia principalmente grandes empresas enquanto a segunda englobava pequenas empresas e oficinas.


[a] Referência ao trabalho de Marx Contribuição à Crítica da Economia Política (Nota dos Editores, NE).

[b] K. Marx. “Atas da Sexta Assembléia Provincial do Reno” (NE).

[c] Wilhelm Saint-Paul (NE).

[d] Karl Heinrich von Gerlach (NE).

[e] P. J. Proudhon. Sistema das Contradições Econômicas, ou Filosofia da Miséria, em 2 tomos. Paris: 1846 (NE).

[f] Engels refere-se à publicação do volume I de O Capital, em alemão, no ano de 1867 (Nota dos Tradutores, NT).

[g] Escrito por Marx e Engels, o Manifesto foi adotado no segundo congresso da Liga dos Comunistas (29 de novembro a 8 de dezembro de 1847) (NE).

[h] Em 26 de agosto de 1849 (NE).

[i] Literalmente: em locais habitados por infiéis. As palavras são acrescentadas ao título de bispos católicos romanos apontados para dioceses puramente nominais em países não-cristãos; aqui significa “no exílio” (NE).
[j] Acrescentado no manuscrito: “não com propaganda política” (NE).

[k] Deuses de menor popularidade; significando aproximadamente: celebridades de menor estatura (NE).

2 comentários:

Unknown disse...

Camarada Aphonso!!
acredito que é impossível ler umtexto marxisto sem perceber que este ratifique a importância desse gênio que foi Marx para a história do movimento operário e para toda a classe que sustenta com seu sangue e suor a vida deste sistema maldito chamado capitalismo. Portanto, se não for pedir demais, gostaria que voê expusesse um pouco da história da Internacional.
Adhara

Gilson disse...

Adhara,

Você lançou um desafio. Requer uma pesquisa mais apurada de minha parte, bem como, vencer dúvidas e desconhecimentos.

Peço tempo e paciência. Solicito que esse desafio fique de pé para todos os que frequentam esse blog. Vamos discutir, tanto sobre o que você levantou, quanto aos temas centrais e as formas que esse debate vai prosseguir.

Penso que devemos entrar, também, em assuntos como a crise estrutural do imperialismo, a situação da Formação social e econômica brasileira e etc.

Enquanto fazemos esse debate sobre essas questões, peço um crédito de vocês para postar alguns textos que já estão em andamento e que precisam ser terminados.

O que vocês acham?

Um forte abraço