quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Cem Flores

Para ler o texto completo "Por que razão discutir a crise do Marxismo?" é só clicar em "Leia mais..." abaixo da citação do Marx no cabeçalho do blog.
Os comentários sobre este texto serão feitos aqui, logo abaixo.
Começamos agora definitivamente nosso debate.
Esgrimemos nossas idéias para que as cem flores e as cem escolas possam desabrochar em sua luta.

18 comentários:

Aline disse...

Camarada Aphonso,

Certamente não tenho todos os ensinamentos que uma longa prática na militância pode fornecer aqueles que tiverem olhos e ouvidos abertos, mas ao ler seu 'manifesto', com o qual concordo aliás integralmente, chamou-me a atenção o trecho que reproduzo abaixo, e sobre o qual gostaria de mais explicações:

"avançar na teoria marxista até situá-la integralmente em outro terreno, no terreno do materialismo, como quer Lenine, materialismo até o teto, avançar até o terreno da dialética materialista, até o ponto onde cada camarada se vê diante do dilema de trocar de pele, lutar para avançar sem nenhuma concessão"
Aline

Anônimo disse...

Concordo plenamente com o texto. Retomar e desenvolver a arma teórica da luta de classes do proletariado é tarefa sine qua non para que se possa pensar em revolução hoje. Mas, o Marxismo é hoje, como diz um professor meu de universidade, "o ópio dos intelectuais, assim como Marx dizia que a religião é o ópio do povo", porém, não me refiro a ciência que Karl Marx fundou em "O Capital", e sim a esse arremedo de teoria que muitos partidos que dizem lutar pela revolução citam a torto e a direito para justificar suas práticas que, ao fim e ao cabo, não fazem mais que fortalecer a luta de classes burguesa. É preciso remover toda a névoa que cerca esta teoria, limpar terreno, por assim dizer. Espero que a a iniciativa do Blog prospere e, não cem, mas mas milhares de flores desabrochem.

Gilson disse...

A camarada Aline levantou questões de um trecho que devemos, a meu ver, precisar, esclarecer. O que significa mudar de terreno? Ou ainda, o que significa “acabamento até o teto do edifício da filosofia materialista” como nos diz Lenine? Entendo que, sendo o marxismo-leninismo uma teoria científica, onde além de sua contradição teoria e prática, comporta ainda a da ciência e ideologia, onde esse estatuto de ciência é dado sob a hegemonia, ou melhor, sob o domínio do aspecto ciência sobre o ideológico, domínio que não é uma casualidade, um acidente, é dado sob o crepitar dos fogos e do derrame de sangue de uma batalha cujo palco sempre é uma conjuntura concreta, um estágio da luta de classes concreta, onde os seus conceitos são colocados a prova pelos desvios impostos pelas noções ideológicas burguesas. Mudar de terreno será então impor uma derrota ao revisionismo e suas manifestações esquerdistas e reformistas a ponto de atingirmos outro patamar, sem condições de retorno em dada conjuntura.
Na conjuntura onde vivemos nossa crise, o não amadurecimento da compreensão de fundo da dialética materialista impede nossa precisão sobre alguns conceitos fundamentais do marxismo,como por exemplo, o de mais-valia e de ditadura do proletariado, que concretamente significa precisar como se dá a exploração, a correlação de forças da luta de classes (mais-valia), bem como, quais as tarefas de nossa revolução, da tomada do poder e do desmonte dos aparelhos de estado capitalista (ditadura do proletariado).

Aline disse...

Camarada Aphonso,

Eu fiquei meio atordoada com sua resposta... para mim o marxismo seria uma doutrina (como diz Lênin, como diz Lefebvre), mas isso de ciência foge à minha compreensão. Por exemplo, luta de classes como um 'conceito' parece tão estranho! Luta de classes não é a luta travada pelas classes? Peço desculpas se minha questão soa tão primária.
Aline Maria

Anônimo disse...

Em primeiro lugar quero louvar a iniciativa do blog. Só retomando o marxismo poderemos pensar em transformar, revolucionariamente, nosso país e nosso mundo. A "esquerda" brasileira (e nisto ela não está só) abandonou esse campo e está ganha pelos pressupostos políticos, morais, ideológicos da classe dominante. Atua a partir desses pressupostos, por mais que, uma vez ou outra, de forma tacanha, doutrinária, repita alguns termos do marxismo.
Retomar o marxismo é, em minha opinião, retomar a possibilidade da revolução triunfar, único caminho para a libertação das classes dominadas.

Anônimo disse...

Aline,

Acho que o Aphonso, quando se refere ao marxismo como ciência, está se referindo a teoria fundada por Marx e Engels, ao longo de sua trajetória de luta teórica, mas, especialmente, em "O Capital". Isto é, se refere a um conjunto de conceitos que nos permitem ter um determinado conhecimento da "realidade", situando-o dentro de certa problemática, a da luta de classes. Dentre estes conceitos poderíamos citar, por exemplo, mais-valia, relações-de-produção, forças-produtivas, ditadura-do-proletariado, entre outros.

O que torna este corpo sistemático de conceitos uma ciência é o fato de eles dizerem respeito a um mesmo "objeto teórico", o modo-de-produção, que não é a experiência vivida no seu estado bruto, mas um representação teórica desta realidade, ordenando-a de um modo determinado, tornando-a inteligível.

A principal diferença do marxismo para todas as outras ciências que se propõe a estudar a "realidade social" é este objeto teórico, que só pode ser concebido ao fazer-se uma mudança de problemática, uma mudança de terreno, ou seja, ao colocar-se outras perguntas. Não se trata mais de saber como libertar o "homem genérico" de sua alienação, uma problemática filosófica, nem de determinar qual a "forma de estado" mais adequada para uma nação, uma problemática das "ciências sociais". Essas problemáticas não "enxergam" a luta-de-classes. A ciência "marxista", pelo contrário, tem como cerne a luta-de-classes e os seus problemas: quais as formas de exploração do proletariado pela burguesia e como é possível superá-las?

Acrescento que não se trata de um ponto de vista neutro, como se isso fosse possível para qualquer ciência, mas do ponto de vista do proletariado, o único ponto de vista revolucionário dentre do capitalismo.

A ciência marxista é, portanto, a posição do proletariado na luta teórica, construída não pelo gênio de um homem, embora Marx e Engels tenham sido geniais, mas pela própria luta de classes proletária, que forjou nesses homens os seus representantes mais avançados, os seus Titãs, pois eles fizeram parte ativamente da organização e luta do proletariado enquanto viveram, aprendendo, na luta, a enxergar com os olhos do proletariado, assim como Lenin, Stalin e Mao, depois deles.

A ciência marxista, o materialismo-histórico (a posição materialista na história), é a principal arma do proletariado, "um míssel apontado para a cabeça dos burgueses", pois tendo o conhecimento das condições objetivas de sua exploração o proletariado pode construir os caminhos que levam até a sua ditadura e ao fim das classes. Daí porque a burguesia não se cansa de anunciar a morte dessa teoria, tentando encobrir com um véu fúnebre o que mais teme. Inutilmente, pois, enquanto houver luta de classes proletária, o "marxismo" se mantém vivo.

Concordo com o Walter, retomar o marxismo é condição sine qua non ("sem a qual não") para o triunfo da revolução proletária. Por isso, temos de combater, em primeiro lugar, todas as deturpações que dela são feitas pelos aliados da burguesia, os partidos revisionistas.

Desculpem ter-me alongado no comentário.

Gilson disse...

Aline,
"A ciência é mais que um corpo de conhecimentos , é um modo de pensar." (Carl Sagan, “O mundo assombrado pelos demônios”, 2006, Companhia de Bolso, pág. 43)

Vamos por parte, você diz:

“Eu fiquei meio atordoada com sua resposta... para mim o marxismo seria uma doutrina (como diz Lênin, como diz Lefebvre), mas isso de ciência foge à minha compreensão.”

Procurei na internet a definição mais próxima do que penso dos conceitos de ciência e doutrina, vamos começar por eles:

O termo doutrina pode ser definido como o conjunto de princípios que servem de base a um sistema religioso, político, filosófico, científico, entre outros. http://pt.wikipedia.org/wiki/Doutrina

Ciência: Do latim scientia, conhecimento, é um sistema de conhecimentos que são obtidos de leis gerais, testadas através de métodos científicos, dependentes da lógica. A ciência tem princípios e critérios que a regem. Nenhuma ciência está acabada. http://www.zenite.nu/ ou, de forma parecida, em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncia

Em que contexto os nossos grandes teóricos nos falam de ciência ou doutrina é mais importante, no nosso caso, do que a palavra em si, haja vista que:

“A dificuldade própria da terminologia teórica consiste, pois em que, por de trás do significado usual da palavra, é sempre preciso discernir o seu significado conceitual, que é sempre diferente do seu significado usual.” (Althusser, “Sobre o Trabalho Teórico”, Biblioteca de Ciências Humanas, Editorial Estampa, pág. 50) apesar de que a precisão do conceito é uma tarefa inarredável, faz parte da luta da ciência contra as ideologias que a cercam.

“Quando uma terminologia teórica é boa, isto é, bem determinada e bem referenciável, ela assume a função precisa de impedir as confusões entre o significado usual das palavras e o significado teórico (conceitual) das mesmas palavras.” (Althusser, “Sobre o Trabalho Teórico”, Biblioteca de Ciências Humanas, Editorial Estampa, pág. 51)

Dessa forma, também, entendemos ciência, como nos diz Althusser:

“(...) toda disciplina de caráter científico, se manifesta sob dois aspectos: 1. Uma teoria, que contem o sistema conceitual teórico no qual se pensa o objeto; 2. Um método que expressa a relação que mantém a teoria com seu objeto na sua aplicação ao mesmo.” (Althusser, Materialismo Histórico e Dialético, Editora Global, Coleção Bases, 1986, pág. 45)

Portanto, conceitos que pensam o objeto, que expressam os seus aspectos, fazem a abstração desses aspectos e do objeto em sua totalidade, bem como, uma relação, uma forma de se relacionar com esse objeto. Isso arrisco a dizer, é o que pensa o marxismo sobre ciência.

Neste texto que inauguramos o blog, usamos uma citação de Marx afirmando que o marxismo é uma ciência: “Não há estrada já aberta para a ciência (...)” ou, como diz Lenine: “(...) mas ao ‘desenvolvimento’ teórico sério do materialismo, à sua aplicação à história, quer dizer, ao acabamento até o teto do edifício da filosofia materialista.” Nos impondo que a revolução teórica de Marx, revolução de uma Teoria, ou de um desenvolvimento científico (materialismo) é algo a tal ponto que se atinge o acabamento até o teto do edifício da filosofia materialista. Repetir isso é necessário para dizer o que eles entenderam do que estavam fazendo e, ao mesmo tempo, falar isso nos coloca um problema que é a alma do nosso texto: se isso é uma ciência, pode uma ciência errar? Ou, pelo contrário, seriam os desvios dos caminhos da ciência (do desenvolvimento do marxismo) que nos colocaram distantes da precisão do seu objeto (luta de classes)? Eu fico com a segunda pergunta, propondo que esse blog colabore para respondê-la, levando em consideração a sua minúscula influência e o limite de nossos conhecimentos, bem como, com sua preciosa ajuda e de outros com o seu perfil, retificar e ampliar o horizonte dessa pergunta e da sua possível resposta.

Gilson disse...

Aline nos diz;

“Por exemplo, luta de classes como um 'conceito' parece tão estranho! Luta de classes não é a luta travada pelas classes?”

São os dois. Da mesma forma que a Força é um conceito teórico na física ao mesmo tempo em que é o movimento (variação de velocidade) de uma determinada massa em uma determinada direção e sentido.

A luta de classes é o conceito chave do marxismo, é o seu objeto. A luta de classes, suas formas, sua singularidade e seus aspectos gerais é o que define uma classe, que só é explicada em face das outras classes em luta. Portanto, não existem classes sem luta de classes. Esse é um detalhe muito importante, haja vista que não escolhemos ou criamos a luta de classes, tomamos partido dentro dela nos movendo para que possamos intervir na “direção” e no “sentido” dessa luta.

Unknown disse...

Apesar de não ter muitas leituras, acredito que a dificuldade em conceber o marxismo como ciência é uma das principais causas de crise. Concordo plenamente com o sr. Aphonso quando salienta que "avançar na teoria marxista até situá-la integralmente em outro terreno(...)até o ponto onde cada camarada se vê diante do dilema de trocar de pele" adotar o marxismo enquanto "modo de pensar" pressupõe um rompimento muito difícil com a ideologia burguesa que nos cerca a todo momento e por todos os lados.É necessário estudar o marxismo e desenvolvê-lo, pois, devemos saber que ele não é uma ciência pronta e acabada. Além disso, ele deve ser a base teórica para nossa prática, pois, se há problemas na teoria, com certeza haverão problemas na prática. Dizer que o marxismo está morto ou que não passa de uma ideologia é a opinião burguesa de quem tem medo das mudanças ciência pode realizar na sociedade. Digo e repito: o marxisto está e continuará vivo enquanto a luta de classes continuar a existir.

Aline disse...

Camaradas Aphonso e Inácio,

Gostaria de agradecer pelos excelentes comentários, que não são apenas respostas às minhas indagações simplórias, mas verdadeiros ensinamentos a todos que pretendemos "esgrimar" nossas idéias neste espaço virtual. Gostei muito da citação
"A ciência é mais que um corpo de conhecimentos , é um modo de pensar." No meu modo de ver, esse "modo de pensar" ele mesmo já está marcado por um ponto de vista, e, ainda que eu esteja tateando nisso que os camaradas afirmam de modo tão seguro - o marxismo é uma ciência - penso que essa questão também é importante. Ou seja, ainda que o marxismo seja uma ciência, um conjunto de conceitos, saber disso por si só não basta, é preciso lembrar sempre de que lado estamos na luta de classes, e nesse ponto concordo com a camarada Adhara, uma grata companhia feminina nesta discussão: "adotar o marxismo enquanto "modo de pensar" pressupõe um rompimento muito difícil com a ideologia burguesa que nos cerca a todo momento e por todos os lados". Eu penso que se o marxismo é um "guia para a ação" como disse Lênin, então é preciso "colocar para funcionar" esta 'ciência', é preciso assumir uma posição na luta de classes. Como isso pode ser colocado do ponto de vista teórico?
Aline Maria

Gilson disse...

Obrigado a todos e, em especial a Aline, que nos traz mais um questionamento importante. Vamos a ele:

Eu penso que se o marxismo é um "guia para a ação" como disse Lênin, então é preciso "colocar para funcionar" esta 'ciência', é preciso assumir uma posição na luta de classes. Como isso pode ser colocado do ponto de vista teórico?

Entendendo a prática como expressão de uma teoria, ou seja, a militância na luta de classes para organizar, mobilizar e elevar o nível de consciência de classe até o ponto em que o proletariado, por sua própria experiência, consegue se reconhecer a si mesmo, que significa reconhecer sua exploração e seus exploradores, reconhecer sua condição de luta e a necessidade do poder como a forma necessária, irredutível, inarredável de um processo teórico.

Guia para ação, instrumento de precisão para a ação, como o teodolito, o gps está para o agrimensor que constantemente se move reconhecendo sua localização na mata se movendo nas escarpas, no capoeiral, nos igarapés, optando dentro da realidade que lhe enfrenta a forma necessária de chegar ao ponto definido como chegada.

Ir para a realidade identificando as formas concretas, singulares de manifestação dos conceitos abstratos de nossa teoria até encontrarmos nela os seus conceitos concretos. O que significa, para a formação econômica e social do Brasil, inserido dentro do estágio do imperialismo, colocar para funcionar os conceitos de imperialismo formação social e econômica, luta de classes, mais-valia, lei do valor, crise estrutural, tendência a queda da taxa de lucro, centralização e concentração do capital, etc, etc até o ponto em que, no mesmo exercício, encontramos, arrisco eu, repetindo outros, um processo de regressão a uma nova forma de colonização pelo Brasil (conceito concreto), inserido em uma crise do imperialismo desde a década de 70 que lhe faz necessária essa regressão, até o ponto que identificamos o estágio concreto da luta de classes e as formas de retomar, fazer crescer a luta.

Isso não é, ao contrário de outros, tomar os conceitos abstratos, gerais e colá-los na realidade e, sim, utilizá-los como instrumento, “guia da ação”, para transformar a realidade, única forma de identificá-la, mover a massa pra sua revolução.

Você praticamente nos deu a resposta: tomar posição e colocar para funcionar esta ciência.

Anônimo disse...

Srs.
Esse blog é, realmente, um achado.

Para ajudar a acompanhar o debate, vou resumir algumas das teses apresentadas até aqui, nesse debate, e avançarei outras que creio corretas:

- O marxismo é uma ciência. O que pressupõe que "dominar" essa ciência possibilita "navegar, orientar-se, atuar" cientificamente em seu objeto.

- O objeto dessa ciencia é a luta de classes. A "história é a história da luta de classes" (Marx). "Dominar" essa ciência possibilita "navegar, localizar-se, atuar" na história/luta de classes. Um fato importante: não estamos de fora desse "objeto". "Os filósofos só tratam de interpretar o mundo, do que se trata é de transformá-lo" (Marx).

- Como qualquer fenômeno, essa ciencia é contraditória, ou seja, tem elementos "científicos" e elementos "pré-científicos". Desenvolver essa ciência significa desenvolver os elementos, ou o aspecto científico dela, e fazer regredir seus elementos/aspectos "pré-científicos".

- Se o objeto dessa ciencia é a luta de classes (como diz Lenin: o marxismo é a análise concreta da realidade concreta), seu desenvolvimento só pode se dar analisando, e transformando, essa realidade, que sempre é concreta, ou seja, é nova, diferente, específica.

- Se somos parte desse objeto (luta de classes) não é possível não "tomar partido", não assumir um dos "pontos de vista" (Mao) da luta de classes, não "trocar de pele". Mais do que isso. É necessário transformar transformando-se.

Com esses pressupostos, toscamente reduzidos, com certeza partiremos muito mais armados para discutir o que realmente interessa: o que fazer?

Walter

Anônimo disse...

Camarada Aphonso,

há duas questões que me incomodam. A primeira diz respeito às obras da juventude de Marx, pois, sabemos que Althusser sofreu várias críticas ao fazer a separação das obras do Marx jovem e do Marx maduro, considerando apenas as obras que surgiram a partir do manifesto comunista como os verdadeiros guias para a ação, mas, alguns teóricos até hoje consideram isso um erro e não aceitam o fato de que Marx estaria influenciado pela teoria Hegeliana nas suas obras da juventude. A segunda diz respeito ao papel desempenhado por Stálin na URSS, pois, a cisão do movimento comunista se deu principalmente em torno da sua experiência a frente da Revolução Russa. Comente sobre isso por favor.

Anônimo disse...

Caro Ruivo,

No que for possível tentarei responder suas duas questões.

1) As obras de juventude de Marx: é conhecida a posição de Althusser de que a Ideologia Alemã e o Manifesto do Partido Comunista constituem marcos na obra de Marx. Mais precisamente, um “corte epistemológico”, uma ruptura, um salto de qualidade. A diferenciação entre um Marx “não-marxista” e outro Marx, marxista.

A primeira crítica que Althusser recebeu, apesar de feita por “marxistas” ou mesmo “comunistas”, era eivada de idealismo e pode ser resumida na não-aceitação de críticas a Marx. Essa visão idealizada de um Marx “perfeito”, que sempre foi marxista (portanto não evoluiu!) é o contrário da visão científica e dialética. Não apenas isso, é contrária à própria biografia do Marx, imerso no grupo de hegelianos de esquerda em sua juventude, com o qual rompe em seguida para seguir sua própria trajetória.

Outra crítica, mais elaborada porém mais explicitamente revisionista e reformista, é a dos que criticam Althusser por querer “tirar” Hegel de Marx, defendendo um “marxismo hegeliano”, “humanista” e outras coisas do gênero. Como se o próprio Marx não tivesse modificado suas questões/problemas nas suas obras posteriores, especialmente em O Capital, e não tivesse dito que seu método em relação ao de Hegel é “antítese direta”, não tivesse acusado a dialética idealista de “tornar sublime o existente” enquanto a sua “é, em sua essência, crítica e revolucionária” (citações do posfácio à 2ª Ed. de O Capital).

2) Papel de Stálin: essa questão, definitivamente, está no cerne da crise do marxismo que procuramos tratar no texto de lançamento do blog. A “cisão do movimento comunista”, como você diz, se deu em função do papel de Stálin pelas condições concretas da luta de classes após a sua morte, quer dizer, pelo fato da experiência do socialismo na URSS constituir, à época, a vanguarda do socialismo no mundo e Stálin, seu líder máximo. O que Kruchov e sua corja quiseram, ao atingir Stálin, foi atingir o projeto de construção socialista e a “cisão do movimento comunista” que isso causou representa, de fato, o abandono da opção comunista pelos que se aliaram a Kruchov.

Críticas a Stálin, às suas posições teóricas, ao seu papel na liderança do movimento comunista mundial e na construção do socialismo na URSS, são bem-vindas e imprescindíveis ao desenvolvimento teórico e prático do movimento revolucionário. Isso não só o sabia Mao como o praticou em suas análises durante a discussão com o PCUS e na crítica ao livro de Stálin sobre os problemas econômicos do socialismo na URSS. O que necessitamos são críticas marxistas-leninistas, que reconheçam e aprendam com seus inegáveis e colossais méritos, critiquem radicalmente suas deficiências e apontem os novos caminhos para a revolução, a construção do socialismo e o caminho para o comunismo.


Antonio.

Anônimo disse...

Caro Aphonso,

Depois de ler o seu texto, as suas explicações e do Inácio sobre o caráter científico do marxismo e o bom resumo de posições feito pelo Walter, só me restou deixar uma pequena contribuição sobre o que significa a crise do marxismo e como nos posicionar a respeito dela.

1) A crise do marxismo hoje representa a falta da experiência revolucionária de construção do socialismo, que marcou todo o século XX, a partir da Revolução de Outubro de 1917 até sua derrocada na URSS pós-Stálin, em 1953, e na China pós-Mao, em 1976.

2) A crise do marxismo hoje representa a falta de um significativo movimento comunista internacional, algo que Marx e Engels iniciaram com a fundação da Associação Internacional de Trabalhadores (AIT, a 1ª Internacional), que atingiu seu estágio mais importante com a Internacional Comunista (3ª), impulsionada por Lênin após a Revolução Russa.

3) A crise do marxismo hoje representa a falta de partidos comunistas solidamente ligados às massas trabalhadoras em todos os países do mundo, utilizando a teoria marxista, aplicando-a concretamente e, com isso, desenvolvendo essa mesma teoria e construindo a revolução, tarefa inescapável de todos os revolucionários.

4) A crise do marxismo hoje representa a falta da teoria marxista no posto de comando, sendo apreendida, aplicada, retificada e desenvolvida por todos e cada um dos militantes comunistas em seu trabalho coletivo cotidiano.

Como sintetizou Mao, com a política correta [fundamentada na teoria] se ganham os homens e as armas, com a política errada, se perdem os homens e as armas. Por isso a crise do marxismo é, necessariamente, teórica e prática. Para os marxistas, os comunistas, esses dois aspectos são indissolúveis. O marxismo e o comunismo são a união dos pólos negativo (derrubada revolucionária do capitalismo) e positivo (construção da nova sociedade socialista e comunista). Destruir para construir. Essa é a nossa tarefa.

Um abraço e vamos em frente,

António

PS: não poderia deixar de observar dois erros no texto. O primeiro, atribuo a uma redação mal feita, apressada. Não existe uma “verdade inquestionável”, nem dos conceitos nem de nada, se estamos falando de ciência. Qualquer teoria científica se baseia na falseabilidade e está constantemente posta à prova, tanto dos fatos quanto de outras teorias. Acho que o que se quis dizer foi que os conceitos do marxismo permanecem sólidos e inabaláveis por passaram nesse teste.

O segundo é de digitação, quando se diz que Kautsky editou o quarto volume de O Capital e as Teorias da Mais Valia. Na verdade, as Teorias da Mais Valia são o quarto volume d’O Capital.

Antonio

Aline disse...

Camarada Aphonso,

Estive temporariamente impossibilitada de acessar seu blog, mas vejo que vários outros comentários foram postados, o que, no meu entendimento, significa que há pessoas interessadas na crise do marxismo.

Adorei a nota biográfica de Marx escrita por Engels! Um luxo! Temos sim que divulgar o marxismo e também esse grande gênio que foi Marx, no sentido de ter compreendido a importância do desenvolvimento da teoria (como disse Lenin, sem teoria revolucionária não pode haver prática revolucionária, isto é, revolução) para o avanço do movimento operário e revolucionário.

Eu gostaria de fazer alguns comentários no que diz respeito à sua última "resposta" aos meus infindáveis, e por certo pouco profundos, questionamentos:

- a questão, como você mesmo diz "necessária, irredutível, inarredável" da tomada do poder pela classe operária, guiada por seu partido é, a meu ver, essencial para começo de qualquer conversa. Aqueles que não partem desse princípio estão irremediavelmente destituídos de qualquer chance de sucesso na condução da luta de classes operária;

- creio ter começado a compreender a questão do marxismo enquanto ciência: é sim um guia para a ação, mas como a ação se desenrola numa 'situação' concreta, é preciso sempre e sempre avançar no desenvolvimento, na retificação desse guia, e isso só pode ser feito sem deturpar seus 'fundamentos' (os conceitos já existentes?). Ou seja, do meu ponto de vista, à medida que a luta de classes avança, novas situações concretas surgem e precisam ser 'acomodadas' pela teoria. Se já existe desenvolvimento teórico, é preciso tentar 'aplicá-lo' à essas novas situações e verificar se 'funciona', ou então é preciso retificação/desenvolvimento; senão, é preciso desenvolver novos 'instrumentos'. Creio que um dos exemplos mais claros disso é o próprio 'conceito' de imperialismo' elaborado por Lenin;

- lembrei de um texto de Etienne Balibar, publicado na revista Tempo Brasileiro do início dos anos 1970, chamado "A Ciência de O Capital", e à luz de nosso debate, o reli. Nesse texto, o autor afirma que há conceitos abstratos e conceitos concretos em O Capital, como por exemplo modo de produção (que ele afirma não existir enquanto tal(!)), ao mesmo tempo em que 'existem' somente seus efeitos numa dada formação econômico-social na qual domine um dado modo de produção... nesse sentido, e tendo em vista que o camarada escreveu sobre um conceito concreto (um processo de regressão a uma nova forma de colonização pelo Brasil), gostaria que fossem colocados mais elementos sobre essa questão.
Aline Maria

Gilson disse...

Camaradas,
Agradeço a contribuição do Antônio e concordo com suas retificações ao texto. Logo logo colocaremos o novo texto já retificado.

Em relação as sugestões da Aline, tentaremos falar não somente dessa forma de inserção do Brasil ao imperialismo, como também, de um outro aspecto dessa mesma realidade, ou dizendo melhor, que compõe essa mesma unidade: a crise estrutural do sitema, cujos efeitos estão estampados nas manchetes de todos os jornais do mundo.

Gilson disse...

Camaradas,
Fiz um comentário em resposta a camarada Adhara em outra postagem, na qual ela sugeria temas para o nosso debate que acho pertinente repetir aqui:

Você lançou um desafio. Requer uma pesquisa mais apurada de minha parte, bem como, vencer dúvidas e desconhecimentos.

Peço tempo e paciência. Solicito que esse desafio fique de pé para todos os que frequentam esse blog. Vamos discutir, tanto sobre o que você levantou, quanto aos temas centrais e as formas que esse debate vai prosseguir.

Penso que devemos entrar, também, em assuntos como a crise estrutural do imperialismo, a situação da Formação social e econômica brasileira e etc.

Enquanto fazemos esse debate sobre essas questões, peço um crédito de vocês para postar alguns textos que já estão em andamento e que precisam ser terminados.

O que vocês acham?

Um forte abraço