quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

FRANCISCO MARTINS RODRIGUES - Escritos de uma vida.



É com imensa satisfação que divulgamos o blog Francisco Martins Rodrigues – Escritos de uma Vida (https://franciscomartinsrodrigues.wordpress.com), que recolhe artigos esparsos escritos por aquele dirigente comunista. O Cem Flores, ao divulgar o blog com os escritos do camarada Francisco, saúda essa iniciativa que contribui para o avanço da luta de classes do proletariado, para a reafirmação do leninismo e a crítica ao revisionismo, para a reconstrução do partido comunista e para o campo da revolução.

Francisco Martins Rodrigues: resumo biográfico[1]
Nascido em 1927, em Portugal, Francisco Martins Rodrigues trabalhou, ainda adolescente, em uma livraria em Lisboa, antes de tornar-se aprendiz de mecânico na TAP, emprego que perdeu em seguida, por causa de sua primeira prisão pela ditadura portuguesa, ainda em 1950. Participava, então, do Movimento de Unidade Democrática (MUD) juvenil, movimento de oposição autorizado pelo governo salazarista, o qual contava com importante participação do Partido Comunista Português (PCP), partido no qual entra logo depois.


Preso seguidas vezes no começo dos anos 1950, contrai tuberculose e passa boa parte do ano de 1954 em tratamento. Curado, torna-se militante profissional do PCP e entra na clandestinidade. Em 1957 é preso novamente e enviado para a prisão de Peniche, da qual foge espetacularmente em janeiro de 1960, com outros nove camaradas, incluindo Álvaro Cunhal[2]. Em 1961 é cooptado para o Comitê Central do PCP e, em 1962, para a sua comissão executiva, na esteira de uma onda de prisões de dirigentes. Trabalha, também, na redação do Avante!

Nesse começo dos anos 1960, Francisco Martins Rodrigues começa a formular importantes críticas ao PCP e sua linha de “revolução democrática e nacional” contra a ditadura salazarista. O PCP propunha então um “levantamento nacional”, no qual participariam todas as classes e setores de classe em contradição com a ditadura. O que era menos explicado, digamos, era que isso implicava conter a “revolução” dentro dos limites aceitáveis pela “burguesia democrática” e pelos “militares patriotas”. Em suma, subordinar os interesses próprios da classe operária aos da burguesia.

Um exemplo disso são as chamadas guerras coloniais, nas quais Portugal se opôs ao movimento de libertação nacional, principalmente em Angola e Moçambique. Ao invés de chamar operários, camponeses e soldados a derrotar seu próprio governo, contribuindo com isso tanto para a vitória do MPLA e da Frelimo, quanto para a própria revolução portuguesa – não é esse o espírito da Internacional? Nós fomos de fumo embriagados / Paz entre nós, guerra aos senhores / Façamos greve de soldados / Somos irmãos, trabalhadores / Se a raça vil, cheia de galas / Nos quer à força canibais / Logo verás que as nossas balas / São para os nossos generais – o PCP adotava uma retórica mais “neutra”, de forma a não se isolar dos “democratas” e das “forças patrióticas”.

Nesse período toma conhecimento das críticas de Mao Tsé-tung e do Partido Comunista da China ao moderno revisionismo soviético e suas teses de “estado de todo o povo” e da “transição pacífica” ao socialismo. Critica a linha política e a estratégia “revolucionária” do PCP e propõe a abertura do debate sobre o conflito sino-soviético, porém sem maior repercussão no partido. Em 1963, ano no qual escreve diversos documentos criticando a posição do partido e tentando fazer a discussão interna,[3] é convocado para uma reunião do Comitê Central do PCP em Moscou. No final daquele ano, em Paris, rompe com o PCP com uma carta aberta à militância sobre a questão da luta pacífica e da luta armada[4]. Em 1964, com um conjunto de camaradas exilados, funda o Comitê Marxista-Leninista Português (CMLP) e visita a China e a Albânia.
No ano seguinte regressa, clandestino, a Portugal para organizar o CMLP, mas em 1966, pouco mais de sete meses após seu retorno, é preso e torturado pela PIDE[5]. Segue preso até o 25 de abril de 1974.

Após a saída da prisão participa do processo de unificação de vários grupos maoístas em Portugal, bem como da criação da União Democrática Popular (UDP), ainda no final de 1974. Esse processo que culmina com o congresso de fundação do Partido Comunista Português Reconstruído, PC(R), em dezembro de 1975. Segue-se quase uma década de atividade frenética naquele Portugal recém-saído de décadas de ditadura salazarista. Após o quarto congresso do PC(R), em 1983, desliga-se daquele partido em função do seu sectarismo, dogmatismo, ausência de discussões e esquerdismo.

No processo de crítica ao PC(R) busca fazer um estudo aprofundado do leninismo, de suas teses sobre a hegemonia do proletariado e da estratégia e tática da revolução socialista. Nesse período realiza também estudo da experiência internacional do movimento comunista após a Revolução de Outubro, das raízes da degeneração que veio a culminar com o revisionismo explícito do XX Congresso do PCUS, em 1956, e com a trilha para a restauração do capitalismo. Desse processo resulta o livro Anti-Dimitrov: 1935/1985 – meio século de derrotas da revolução. Sobre esse livro, publicamos, em 2012, uma resenha crítica: Anti-Dimitrov, um livro indispensável no combate ao revisionismo contemporâneo (http://cemflores.blogspot.com.br/2012/12/anti-dimitrov-um-livro-indispensavel-no.html).

Em 1985 funda a revista marxista Política Operária, a qual se mantém vinculado até sua morte, em 2008.

O blog Francisco Martins Rodrigues – Escritos de uma Vida pode ser acessado no link https://franciscomartinsrodrigues.wordpress.com.



[1] Este resumo biográfico aproveita-se, largamente, do livro História de uma Vida, Lisboa: Abrente Editora/Dinossauro Edições, abril de 2009.

[2] Esse período das prisões e do início da militância nos anos 1950-1960 é descrito em texto de 2006, Os Anos do Silêncio, publicado em volume com o mesmo nome, em junho de 2008 (Lisboa: Abrente Editora/Dinossauro Edições).

[3] Boa parte desses documentos está publicada em João Madeira. Francisco Martins Rodrigues: documentos e papéis da clandestinidade e da prisão. Lisboa: Ela por Ela/Abrente Editora, março de 2015.

[4] Luta Pacífica e Luta Armada no Nosso Movimento, dezembro de 1963. https://franciscomartinsrodrigues.wordpress.com/2016/01/30/luta-pacifica-e-luta-armada-no-nosso-movimento/.

[5] Evento sobre o qual escreve, ainda em 1966, o relato A Privação do Sono, publicado em Os Anos do Silêncio, Lisboa: Abrente Editora/Dinossauro Edições, junho de 2008. 

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