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É
com imensa satisfação que divulgamos o blog Francisco Martins Rodrigues – Escritos de
uma Vida (https://franciscomartinsrodrigues.wordpress.com),
que recolhe artigos esparsos escritos por aquele dirigente comunista. O Cem
Flores, ao divulgar o blog com os escritos do camarada Francisco, saúda essa
iniciativa que contribui para o avanço da luta de classes do proletariado, para
a reafirmação do leninismo e a crítica ao revisionismo, para a reconstrução do
partido comunista e para o campo da revolução.
Francisco Martins Rodrigues: resumo
biográfico[1]
Nascido
em 1927, em Portugal, Francisco Martins Rodrigues trabalhou, ainda adolescente,
em uma livraria em Lisboa, antes de tornar-se aprendiz de mecânico na TAP,
emprego que perdeu em seguida, por causa de sua primeira prisão pela ditadura
portuguesa, ainda em 1950. Participava, então, do Movimento de Unidade
Democrática (MUD) juvenil, movimento de oposição autorizado pelo governo
salazarista, o qual contava com importante participação do Partido Comunista
Português (PCP), partido no qual entra logo depois.
Preso
seguidas vezes no começo dos anos 1950, contrai tuberculose e passa boa parte
do ano de 1954 em tratamento. Curado, torna-se militante profissional do PCP e
entra na clandestinidade. Em 1957 é preso novamente e enviado para a prisão de
Peniche, da qual foge espetacularmente em janeiro de 1960, com outros nove
camaradas, incluindo Álvaro Cunhal[2].
Em 1961 é cooptado para o Comitê Central do PCP e, em 1962, para a sua comissão
executiva, na esteira de uma onda de prisões de dirigentes. Trabalha, também,
na redação do Avante!
Nesse começo dos anos 1960, Francisco
Martins Rodrigues começa a formular importantes críticas ao PCP e sua linha de “revolução
democrática e nacional” contra a ditadura salazarista. O
PCP propunha então um “levantamento nacional”, no qual participariam todas as
classes e setores de classe em contradição com a ditadura. O que era menos
explicado, digamos, era que isso implicava conter a “revolução” dentro dos
limites aceitáveis pela “burguesia democrática” e pelos “militares patriotas”. Em suma, subordinar os interesses próprios
da classe operária aos da burguesia.
Um
exemplo disso são as chamadas guerras coloniais, nas quais Portugal se opôs ao
movimento de libertação nacional, principalmente em Angola e Moçambique. Ao
invés de chamar operários, camponeses e soldados a derrotar seu próprio governo,
contribuindo com isso tanto para a vitória do MPLA e da Frelimo, quanto para a
própria revolução portuguesa – não é esse o espírito da Internacional? Nós fomos de fumo embriagados / Paz entre
nós, guerra aos senhores / Façamos greve de soldados / Somos irmãos,
trabalhadores / Se a raça vil, cheia de galas / Nos quer à força canibais /
Logo verás que as nossas balas / São para os nossos generais – o PCP
adotava uma retórica mais “neutra”, de forma a não se isolar dos “democratas” e
das “forças patrióticas”.
Nesse
período toma conhecimento das críticas de Mao Tsé-tung e do Partido Comunista
da China ao moderno revisionismo soviético e suas teses de “estado de todo o
povo” e da “transição pacífica” ao socialismo. Critica a linha política e a
estratégia “revolucionária” do PCP e propõe a abertura do debate sobre o
conflito sino-soviético, porém sem maior repercussão no partido. Em 1963, ano
no qual escreve diversos documentos criticando a posição do partido e tentando
fazer a discussão interna,[3]
é convocado para uma reunião do Comitê Central do PCP em Moscou. No final
daquele ano, em Paris, rompe com o PCP com uma carta aberta à militância sobre
a questão da luta pacífica e da luta armada[4].
Em 1964, com um conjunto de camaradas exilados, funda o Comitê
Marxista-Leninista Português (CMLP) e visita a China e a Albânia.
No
ano seguinte regressa, clandestino, a Portugal para organizar o CMLP, mas em
1966, pouco mais de sete meses após seu retorno, é preso e torturado pela PIDE[5].
Segue preso até o 25 de abril de 1974.
Após
a saída da prisão participa do processo de unificação de vários grupos maoístas
em Portugal, bem como da criação da União Democrática Popular (UDP), ainda no
final de 1974. Esse processo que culmina com o congresso de fundação do Partido
Comunista Português Reconstruído, PC(R), em dezembro de 1975. Segue-se quase
uma década de atividade frenética naquele Portugal recém-saído de décadas de
ditadura salazarista. Após o quarto congresso do PC(R), em 1983, desliga-se
daquele partido em função do seu sectarismo, dogmatismo, ausência de discussões
e esquerdismo.
No
processo de crítica ao PC(R) busca fazer um estudo aprofundado do leninismo, de
suas teses sobre a hegemonia do
proletariado e da estratégia e tática da revolução socialista. Nesse
período realiza também estudo da experiência internacional do movimento
comunista após a Revolução de Outubro, das raízes da degeneração que veio a
culminar com o revisionismo explícito do XX Congresso do PCUS, em 1956, e com a
trilha para a restauração do capitalismo. Desse processo resulta o livro Anti-Dimitrov: 1935/1985 – meio século de
derrotas da revolução. Sobre esse livro, publicamos, em 2012, uma resenha
crítica: Anti-Dimitrov, um livro indispensável no combate ao revisionismo
contemporâneo (http://cemflores.blogspot.com.br/2012/12/anti-dimitrov-um-livro-indispensavel-no.html).
Em
1985 funda a revista marxista Política Operária, a qual se mantém vinculado até
sua morte, em 2008.
O blog Francisco Martins Rodrigues – Escritos de uma Vida pode ser acessado no link https://franciscomartinsrodrigues.wordpress.com.
[1] Este resumo biográfico aproveita-se, largamente, do
livro História de uma Vida, Lisboa: Abrente Editora/Dinossauro
Edições, abril de 2009.
[2] Esse período das prisões e do início da militância
nos anos 1950-1960 é descrito em texto de 2006, Os Anos do Silêncio,
publicado em volume com o mesmo nome, em junho de 2008 (Lisboa: Abrente
Editora/Dinossauro Edições).
[3] Boa parte desses documentos está publicada em João
Madeira. Francisco Martins Rodrigues: documentos e papéis da clandestinidade e
da prisão. Lisboa: Ela por Ela/Abrente Editora, março de 2015.
[4] Luta Pacífica e Luta Armada no Nosso
Movimento, dezembro de 1963. https://franciscomartinsrodrigues.wordpress.com/2016/01/30/luta-pacifica-e-luta-armada-no-nosso-movimento/.
[5] Evento sobre o qual escreve, ainda em 1966, o relato A
Privação do Sono, publicado em Os Anos do Silêncio, Lisboa: Abrente
Editora/Dinossauro Edições, junho de 2008.
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