A crise do capital no Brasil tem se agravado
continuamente. Depois de uma queda do PIB de
3,8% em 2015, a imprensa divulga expectativas de contração similar neste ano, o
que será um evento inédito desde o início dos anos 1930. Enquanto a crise
continua a afetar severamente a produção industrial, ela se espalha rapidamente
para o comércio e os serviços. O desemprego iniciou o ano subindo para 9,5%,
taxa que significa 9,6 milhões de trabalhadores desempregados e um aumento de
2,9 milhões nesse contingente em apenas um ano. Esse massacre sobre a classe
operária e os demais trabalhadores piora ainda mais com o aumento da
informalização das relações de trabalho, com a queda nos salários (que o IBGE
diz ser de 2,4%), com a carestia, com a piora acentuada na qualidade dos
serviços públicos, com a ofensiva burguesa para a retirada de conquistas
trabalhistas e sociais. Essa é a face da
crise do imperialismo, vista do Brasil, do ponto de vista das classes dominadas.
Crise do imperialismo que, ao redor do mundo,
também tem se agravado recentemente, como todos podemos
constatar todos os dias, mesmo que seja apenas com uma rápida olhada nos
jornais e sítios de notícias. O FMI reduz seguidamente as suas projeções de
crescimento mundial e o comércio mundial, que ficou estagnado no ano passado,
pode se retrair neste ano. Na Europa e no Japão a estagnação produz deflação e
nem taxas de juros negativas conseguem qualquer sinal de recuperação. A China
tem taxas de crescimento que hoje são a metade do que costumavam a ser e devem
cair ainda mais, causando graves problemas no setor bancário, crash na bolsa de valores, fuga de
capitais de mais de US$ 800 bilhões desde o ano passado, ameaça de explosão de
bolha imobiliária e queda abrupta dos preços internacionais de commodities. Politicamente, a crise do
imperialismo gera em importantes setores das burguesias dos países
imperialistas o crescimento de tendências fascistas, do racismo e da xenofobia,
da militarização e da repressão, tendências de que são prova Donald Trump (EUA)
e Marine Le Pen (França), além dos partidos Alternativa para a Alemanha e
Aurora Dourada (Grécia).
Nesse pano
de fundo – os determinantes em última instância – se desenrola uma acirrada
crise política no Brasil envolvendo os partidos burgueses (PT, PSDB, PMDB,
etc.) em disputa pelo “privilégio” de gerir o aparelho de Estado capitalista. Crise
política que subiu de patamar com a abertura do processo de impeachment na
Câmara dos Deputados, ao final do ano passado, e que se acirra diariamente, a
cada novo movimento no Congresso, no Executivo, no Supremo Tribunal Federal,
nas ruas e a cada nova fase da operação Lava-Jato.
Buscamos
analisar esse cenário em dezembro do ano passado no artigo “Podem,
na atual conjuntura brasileira, a classe operária e os comunistas tomar partido
nas disputas entre facções burguesas a favor de uma ou de outra? Sobre o
processo de impeachment de Dilma” (http://cemflores.blogspot.com.br/2015/12/podem-na-atual-conjuntura-brasileira.html). Confirmando o que afirmávamos então, o impeachment efetivamente
passou a “ocupar o centro das discussões
políticas”, em um processo que tem se mostrado “longo e tumultuado”. Com a acentuação da crise política e o
desenrolar do impeachment, crescem as pressões sobre a classe operária e os
comunistas para se posicionar sobre esse tema, posicionamento que o senso
comum, a ideologia burguesa, a imprensa, e as partes em disputa buscam limitar,
necessariamente, “a uma escolha binária,
sim ou não, excluindo qualquer outra hipótese ou possibilidade”.
Desde a
publicação daquele texto até agora, o STF mandou refazer os passos iniciais do
processo de impeachment; existem ações ou investigações sobre os presidentes da
Câmara e do Senado; o alcance da Lava-Jato cresceu, atingindo o líder do
governo no Senado (Delcídio do Amaral), o marqueteiro das campanhas de Lula e
Dilma (João Santana), e, pessoalmente, Lula e Dilma; Lula foi nomeado ministro
e depois afastado; a comissão do impeachment foi instalada; houve grandes
manifestações de rua a favor e contra o impeachment; e agora, a maior
empreiteira do país afirmou que vai fazer uma “delação definitiva” e as
planilhas já divulgadas listam mais de 200 políticos, “democraticamente”
distribuídos entre governo e oposição (incluindo Aécio Neves).
Na nossa avaliação, todos esses novos fatos
não apenas não alteram a validade da análise que efetuamos em dezembro passado,
como a reafirmam.
Ambos os
lados envolvidos nessa disputa sobre o impeachment – que ocupa o centro da luta
política institucional atual – são compostos, exclusivamente, por partidos ou
facções burguesas. Sua única disputa é por saber quem vai se colocar à frente
do Poder Executivo. Todos se perfilam em defesa da democracia burguesa (e cada
lado acusa o outro de violações da “ordem democrática”) e do capitalismo e
também mostram identidade na defesa de medidas de “ajuste” econômico sobre o
proletariado e as demais classes dominadas. Como escrevemos em dezembro: nos “períodos de crescimento ou para tentar
evitar a recessão, beneficiam o lucro dos patrões. Uma vez instalada a recessão
e para sair dela, aumentam a exploração sobre a classe operária”. Ou seja,
uma mesma e única política econômica. Por fim, todos chafurdam na podridão da
corrupção capitalista.
Nessa conjuntura, sindicatos, centrais e
“movimentos populares”, em sua absoluta maioria, têm reafirmado sua histórica posição
oportunista. Têm chamado o proletariado e o
conjunto dos trabalhadores para a defesa de uma democracia que não é sua e de
um governo que não é seu. Mais uma vez cabe reafirmar a posição do texto de dezembro:
“o proletariado e os comunistas devem
declarar abertamente sua posição: não apoiamos nem apoiaremos qualquer facção
burguesa em suas disputas fraticidas pelo poder e pela posse provisória do
aparelho de Estado capitalista”.
Denunciar o oportunismo, denunciar as
posições burguesas no meio da classe operária e das demais classes dominadas é
um imperativo político e prático para os comunistas. Assim como também o é a defesa intransigente pela construção de
uma posição própria, autônoma, independente, do proletariado na luta de classes
contra a burguesia. E nesse processo, reconstruir o instrumento de lutas da
classe operária, o Partido Comunista, dotado de sua teoria científica, o
marxismo-leninismo.
Eis o único
caminho real, embora longo e difícil, não apenas para fazer frente à atual
ofensiva das posições burguesas em todos os aspectos (político, econômico,
ideológico, repressivo), mas também para permitir a construção do caminho para
a ruptura com a sociedade burguesa e o reinício da grandiosa tarefa de
construir o socialismo e o comunismo.
Clique aqui
para ler a íntegra do texto “Podem, na atual conjuntura brasileira, a
classe operária e os comunistas tomar partido nas disputas entre facções
burguesas a favor de uma ou de outra? Sobre o processo de impeachment de Dilma”
(http://cemflores.blogspot.com.br/2015/12/podem-na-atual-conjuntura-brasileira.html).
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