V. I. Lênin
Primeira Edição: Escrito em fins de 1899. Publicado pela
primeira vez em 1924, na revista Proletarskaia Revoliutsia (A Revolução
Proletária). N.° 8/9. Encontra-se in Obras, t. IV, págs. 286/295.
Nos últimos
anos, as greves operárias são extraordinariamente frequentes na Rússia. Não
existe nenhuma província industrial onde não tenha havido várias greves. Quanto
às grandes cidades, as greves não cessam. Compreende-se, pois, que os operários
conscientes e os socialistas se coloquem cada vez mais amiúde a questão do
significado das greves, das maneiras de realizá-las e das tarefas que os
socialistas se propõem ao participarem nelas.
Queremos
tentar fazer uma exposição de algumas de nossas considerações sobre esses
problemas. No primeiro artigo, pensamos falar do significado das greves no
movimento operário em geral; no segundo, das leis russas contra as greves, e,
no terceiro, de como se desenvolveram e desenvolvem as greves na Rússia e qual
deve ser a atitude dos operários conscientes diante delas.
Em primeiro
lugar, é preciso ver como se explica o nascimento e a difusão das greves. Quem
se lembra de todos os casos de greve conhecidos por experiência própria, por
relatos de outros ou através dos jornais, verá logo que as greves surgem e se
expandem onde aparecem e se expandem as grandes fábricas. Das fábricas mais
importantes, onde trabalham centenas (e, às vezes, milhares) de operários,
dificilmente se encontrará uma em que não tenha havido greves. Quando eram
poucas as grandes fábricas na Rússia, rareavam as greves; mas visto que elas
crescem com rapidez, tanto nas antigas localidades fabris como nas novas
cidades e aldeias industriais, as greves tornam-se cada vez mais frequentes.
Por que a
grande produção fabril leva sempre às greves?
Isso se deve
a que o capitalismo leva necessariamente à luta dos operários contra os
patrões, e quando a produção se transforma numa produção em grande escala essa
luta se converte necessariamente em luta grevista.
Esclareçamos.
Denomina-se
capitalismo a organização da sociedade em que a terra, as fábricas, os
instrumentos de produção, etc, pertencem a um pequeno número de latifundiários
e capitalistas, enquanto a massa do povo não possui nenhuma ou quase nenhuma
propriedade e deve, por isso, alugar sua força de trabalho. Os latifundiários e
os industriais contratam os operários, obrigando-os a produzir tais ou quais
artigos, que eles vendem no mercado. Os patrões pagam aos operários
exclusivamente o salário imprescindível para que estes e sua família mal possam
subsistir, e tudo que o operário produz acima dessa quantidade de produtos
necessária para a sua manutenção o patrão embolsa; isso constitui seu lucro.
Portanto, na economia capitalista, a massa do povo trabalha para outros, não
trabalha para si, mas para os patrões, e o faz por um salário. Compreende-se
que os patrões tratem sempre de reduzir o salário; quanto menos entreguem aos
operários, mais lucro lhes sobra. Em compensação, os operários tratam de
receber o maior salário possível, para poder sustentar a sua família com uma
alimentação abundante e sadia, viver numa boa casa e não se vestir como
mendigos, mas como se veste todo mundo. Portanto, entre patrões e operários há
uma constante luta pelo salário: o patrão tem liberdade de contratar o operário
que quiser, pelo que procura o mais barato. O operário tem liberdade de
alugar-se ao patrão que quiser, e procura o mais caro, o que paga mais.
Trabalhe o operário na cidade ou no campo, alugue seus braços a um
latifundiário, a um fazendeiro rico, a um contratista ou a um industrial,
sempre regateia com o patrão, lutando contra ele pelo salário.
Mas, pode o
operário, por si só, sustentar essa luta? É cada vez maior o número de
operários: os camponeses se arruínam e fogem das aldeias para as cidades e para
as fábricas. Os latifundiários e os industriais introduzem máquinas, que deixam
os operários sem trabalho. Nas cidades aumenta incessantemente o número de
desempregados, e nas aldeias o de gente reduzida à miséria; a existência de um
povo faminto faz baixarem ainda mais os salários. É impossível para o operário
lutar sozinho contra o patrão. Se o operário exige melhor salário ou não aceita
a sua rebaixa, o patrão responde: vá para outro lugar, são muitos os famintos
que esperam à porta da fábrica e ficarão contentes em trabalhar, mesmo que por
um salário baixo.
Quando a
ruína do povo chega a tal ponto que nas cidades e nas aldeias há sempre massas
de desempregados, quando os patrões amealham enormes fortunas e os pequenos
proprietários são substituídos pelos milionários, então o operário isolado
transforma-se num homem absolutamente desvalido diante do capitalista. O
capitalista obtém a possibilidade de esmagar por completo o operário, de
condená-lo à morte num trabalho de forçados, e não só ele, como também sua
mulher e seus filhos. Com efeito, vejam as indústrias em que os operários ainda
não conseguiram ficar amparados pela lei e não podem oferecer resistência aos
capitalistas e comprovarão que a jornada de trabalho é incrivelmente longa, até
de 17 e 19 horas, que criaturas de cinco ou seis anos executam um trabalho
extenuante e que os operários passam fome constantemente, condenados a uma
morte lenta. Exemplo disso é o caso dos operários que trabalham a domicílio
para os capitalistas; mas, qualquer operário se lembrará de muitos outros
exemplos! Nem mesmo na escravidão e sob o regime de servidão existiu uma
opressão tão terrível do povo trabalhador como a que sofrem os operários quando
não podem opor resistência aos capitalistas nem conquistar leis que limitem a
arbitrariedade patronal.
Pois bem,
para não permitir que sejam reduzidos a essa tão extrema situação de penúria,
os operários iniciam a mais encarniçada luta. Vendo que cada um deles por si só
é absolutamente impotente e vive sob a ameaça de perecer sob o jugo do capital,
os operários começam a erguer-se, juntos, contra seus patrões. Dão início às
greves operárias. A princípio, é comum que os operários não tenham nem sequer
uma ideia clara do que procuram conseguir, não compreendem porque atuam
assim: simplesmente quebram as máquinas e destroem as fábricas. A única coisa
que desejam é fazer sentir aos patrões a sua indignação; experimentam suas
forças mancomunadas para sair de uma situação insuportável, sem saber ainda
porque sua situação é tão desesperada e quais devem ser suas aspirações.
Em todos os
países, a indignação começou com distúrbios isolados, com motins, como dizem em
nosso país a polícia e os patrões. Em todos os países, estes distúrbios deram
lugar, de um lado, a greves mais ou menos pacíficas e, de outro, a uma luta
multifacética da classe operária por sua emancipação.
Que
significado têm as greves na luta da classe operária? Para responder a esta
pergunta devemos determo-nos primeiro em examinar com mais detalhes as greves.
Se o salário do operário se determina — como vimos — por um convênio entre o
patrão e o operário, e se cada operário por si só é de todo impotente, torna-se
claro que os operários devem necessariamente defender juntos as suas
reivindicações, devem necessariamente declarar-se em greve para impedir que os
patrões baixem os salários, ou para conseguir um salário mais alto. E,
efetivamente, não existe nenhum país capitalista em que não sejam deflagradas
greves operárias. Em todos os países europeus e na América, os operários se
sentem, em toda parte, impotentes quando atuam individualmente e só podem opor
resistência aos patrões se estiverem unidos, quer declarando-se em greve, quer
ameaçando com a greve. E quanto mais se desenvolve o capitalismo, quanto maior
é a rapidez com que crescem as grandes fábricas, quanto mais se veem deslocados
os pequenos pelos grandes capitalistas, mais imperiosa é a necessidade de uma
resistência conjunta dos operários, porque se agrava o desemprego, aguça-se a
competição entre os capitalistas, que procuram produzir mercadorias de modo
mais barato possível (para o que é preciso pagar aos operários o menos
possível), e acentuam-se as oscilações da indústria e as crises(1). Quando a indústria prospera, os patrões
obtêm grandes lucros e não pensam em reparti-los com os operários; mas durante
a crise os patrões tratam de despejar sobre os ombros dos operários os
prejuízos. A necessidade das greves na sociedade capitalista está tão
reconhecida por todos nos países europeus, que lá a lei não proíbe a declaração
de greves; somente na Rússia subsistiram leis selvagens contra as greves
(destas leis e de sua aplicação falaremos em outra oportunidade).
Mas as
greves, por emanarem da própria natureza da sociedade capitalista, significam o
começo da luta da classe operária contra esta estrutura da sociedade. Quando
operários despojados que agem individualmente enfrentam os potentados
capitalistas, isso equivale à completa escravização dos operários. Quando,
porém, estes operários desapossados se unem, a coisa muda. Não há riquezas que
os capitalistas possam aproveitar se estes não encontram operários dispostos a
trabalhar com os instrumentos e materiais dos capitalistas e a produzir novas
riquezas. Quando os operários enfrentam sozinhos os patrões continuam sendo
verdadeiros escravos, que trabalham eternamente para um estranho, por um pedaço
de pão, como assalariados eternamente submissos e silenciosos. Mas quando os
operários levantam juntos suas reivindicações e se negam a submeter-se a quem
tem a bolsa de ouro, deixam então de ser escravos, convertem-se em homens e
começam a exigir que seu trabalho não sirva somente para enriquecer a um
punhado de parasitas, mas que permita aos trabalhadores viver como pessoas. Os
escravos começam a apresentar a reivindicação de se transformar em donos:
trabalhar e viver não como queiram os latifundiários e capitalistas, mas como
queiram os próprios trabalhadores. As greves infundem sempre tal espanto aos
capitalistas porque começam a fazer vacilar seu domínio. “Todas as rodas
detêm-se, se assim o quer teu braço vigoroso”, diz sobre a classe operária uma
canção dos operários alemães. Com efeito, as fábricas, as propriedades dos
latifundiários, as máquinas, as ferrovias, etc, etc, são, por assim dizer,
rodas de uma enorme engrenagem: esta engrenagem fornece diferentes produtos,
transforma-os, distribui-os onde necessário. Toda esta engrenagem é movida pelo
operário, que cultiva a terra, extrai o mineral, elabora as mercadorias nas
fábricas, constrói casas, oficinas e ferrovias. Quando os operários se negam a
trabalhar, todo esse mecanismo ameaça paralisar-se. Cada greve lembra aos
capitalistas que os verdadeiros donos não são eles, e sim os operários, que
proclamam seus direitos com força crescente. Cada greve lembra aos operários
que sua situação não é desesperada e que não estão sós. Vejam que enorme
influência exerce uma greve tanto sobre os grevistas como sobre os operários
das fábricas vizinhas ou próximas, ou das fábricas do mesmo ramo industrial.
Nos tempos atuais, pacíficos, o operário arrasta em silêncio sua carga, não
reclama ao patrão, não reflete sobre sua situação. Durante uma greve, o
operário proclama em voz alta suas reivindicações, lembra aos patrões todos os
atropelos de que tem sido vítima, proclama seus direitos, não pensa apenas em
si ou no seu salário, mas pensa também em todos os seus companheiros, que
abandonaram o trabalho junto com ele e que defendem a causa operária sem medo
das provações. Toda greve acarreta ao operário grande número de privações, e
além disso tão terríveis que só se podem comparar com as calamidades da guerra:
fome na família, perda do salário, frequentes detenções, expulsão da cidade em
que residia e onde trabalhava. E apesar de todas essas calamidades, os
operários desprezam os que se afastam de seus companheiros e entram em
conchavos com o patrão. Malgrado as calamidades da greve, os operários das
fábricas próximas sentem entusiasmo sempre que veem que seus companheiros
iniciaram a luta.
“Os homens que resistem a tais
calamidades para quebrar a oposição de um burguês, saberão também quebrar a
força de toda a burguesia”, dizia um grande mestre do socialismo, Engels,
falando das greves dos operários ingleses.
Amiúde,
basta que se declare em greve uma fábrica para que imediatamente comece uma
série de greves em muitas outras fábricas. Como é grande a influência moral das
greves, como é contagiante a influência que exerce nos operários ver seus
companheiros, que, embora temporariamente, se transformam de escravos em
pessoas com os mesmos direitos dos ricos! Toda greve infunde vigorosamente nos
operários a ideia do socialismo: a ideia da luta de toda a classe operária por
sua emancipação do jugo do capital. É muito frequente que, antes de uma grande
greve, os operários de uma fábrica, uma indústria ou uma cidade qualquer não
conheçam sequer o socialismo, nem pensem nele, mas que depois da greve
difundam-se entre eles, cada vez mais, os círculos e as associações e seja
maior o número dos operários que se tornam socialistas.
A greve
ensina os operários a compreenderem onde repousa a força dos patrões e onde a
dos operários, ensina a pensarem não só em seu patrão e em seus companheiros
mais próximos, mas em todos os patrões, em toda a classe capitalista e em toda
a classe operária. Quando um patrão que acumulou milhões às custas do trabalho
de várias gerações de operários não concede o mais modesto aumento de salário e
inclusive tenta reduzi-lo ainda mais e, no caso de os operários oferecerem
resistência, põe na rua milhares de famílias famintas, então os operários veem
com clareza que toda a classe capitalista é inimiga de toda a classe operária e
que os operários só podem confiar em si mesmos e em sua união. Acontece muitas
vezes que um patrão procura enganar, a todo transe, os operários, apresentar-se
diante deles como um benfeitor, encobrir a exploração de seus operários com uma
dádiva insignificante qualquer, com qualquer promessa falaz. Cada greve sempre
destrói de imediato este engano, mostrando aos operários que seu “benfeitor” é
um lobo com pele de cordeiro.
Mas a greve
abre os olhos dos operários não só quanto aos capitalistas, mas também no que
se refere ao governo e às leis. Do mesmo modo que os patrões se esforçam para
aparecer como benfeitores dos operários, os funcionários e seus lacaios se
esforçam para convencer os operários de que o tzar e o governo tzarista se
preocupam com os patrões e os operários na mesma medida, com espírito de
justiça.
O operário
não conhece as leis e não convive com os funcionários, em particular os altos funcionários,
razão pela qual dá, frequentemente, crédito a tudo isso. Eclode, porém, uma
greve, apresentam-se na fábrica o fiscal, o inspetor fabril, a polícia e, não
raro, tropas, e então os operários percebem que infringiram a lei: a lei
permite aos donos de fábricas "reunir-se e tratar abertamente sobre a
maneira de reduzir o salário dos operários, ao passo que os operários são
tachados de delinquentes ao se colocarem todos de acordo! Despejam os operários
de suas casas, a polícia fecha os armazéns em que os operários poderiam
adquirir comestíveis a crédito e pretende-se instigar os soldados contra os
operários, mesmo quando estes mantêm uma atitude serena e pacífica. Dá-se
inclusive aos soldados ordem de abrir fogo contra os operários, e quando matam trabalhadores
indefesos, atirando-lhes pelas costas, o próprio tzar manifesta a sua gratidão
às tropas (assim fez com os soldados que mataram grevistas em Iaroslavl, em
1895). Toma-se claro para todo operário que o governo tzarista é um inimigo
jurado, que defende os capitalistas e ata de pés e mãos os operários. O
operário começa a entender que as leis são ditadas em benefício exclusivo dos
ricos, que também os funcionários defendem os interesses dos ricos, que se tapa
a boca do povo trabalhador e não se permite que ele exprima suas necessidades e
que a classe operária deve necessariamente arrancar o direito de greve, o
direito de participar numa assembleia popular representativa encarregada de
promulgar as leis e de velar por seu cumprimento. Por sua vez, o governo
compreende muito bem que as greves abrem os olhos dos operários, razão por que
tanto as teme e se esforça a todo custo para sufocá-las quanto antes possível.
Um ministro do Interior alemão, que ficou famoso por suas ferozes perseguições
contra os socialistas e os operários conscientes, declarou uma ocasião, não sem
motivo, perante os representantes do povo:
“Por trás de cada greve aflora a
hidra da revolução”.
Durante cada
greve cresce e desenvolve-se nos operários a consciência de que o governo é seu
inimigo e de que a classe operária deve preparar-se para lutar contra ele pelos
direitos do povo.
Assim, as
greves ensinam os operários a unirem-se, as greves fazem-nos ver que somente
unidos podem aguentar a luta contra os capitalistas, as greves ensinam os
operários a pensarem na luta de toda a classe operária contra toda a classe
patronal e contra o governo autocrático e policial. Exatamente por isso, os
socialistas chamam as greves de “escola de guerra”, escola em que os operários
aprendem a desfechar a guerra contra seus inimigos, pela emancipação de todo o
povo e de todos os trabalhadores do jugo dos funcionários e do jugo do capital.
Mas a “escola de
guerra” ainda não é a própria guerra. Quando as greves alcançam grande difusão,
alguns operários (e alguns socialistas) começam a pensar que a classe operária
pode limitar-se às greves e às caixas ou sociedades de resistência, que apenas
com as greves a classe operária pode conseguir uma grande melhora em sua
situação e até sua própria emancipação. Vendo a força que representam a união
dos operários e até mesmo suas pequenas greves, pensam alguns que basta aos
operários deflagrarem a greve geral em todo o país para poder conseguir dos
capitalistas e do governo tudo que queiram. Esta opinião também foi expressada
pelos operários de outros países quando o movimento operário estava em sua
etapa inicial e os operários ainda tinham muito pouca experiência. Esta
opinião, porém, é errada. As greves são um dos meios de luta
da classe operária por sua emancipação, mas não o único, e se os operários não
prestam atenção a outros meios de luta, atrasam o desenvolvimento e os êxitos
da classe operária. Com efeito, para que as greves tenham êxito são necessárias
as caixas de resistência, a fim de manter os operários enquanto dure o
conflito. Os operários (comumente os de cada indústria, cada ofício ou cada
oficina) organizam essas caixas em todos os países, mas na Rússia isso é
extremamente difícil, porque a polícia as persegue, apodera-se do dinheiro e
prende os operários. Naturalmente, os operários sabem resguardar-se da polícia;
naturalmente, a organização dessas caixas é útil, e não queremos dissuadir os
operários de se ocuparem disso. Mas não se deve confiar em que, estando
proibidas por lei, as caixas operárias possam contar com muitos membros; e
sendo escasso o número de cotizantes, essas caixas não terão grande utilidade.
Além disso, até nos países em que existem livremente as associações operárias,
e onde são muito fortes as caixas, até neles a classe operária de modo algum
pode limitar-se às greves em sua luta. Basta que sobrevenham dificuldades na
indústria (uma crise, como a que agora se aproxima da Rússia, por exemplo) para
que os patrões premeditadamente provoquem greves, porque às vezes lhes convém
suspender temporariamente o trabalho e lhes é útil que as caixas operárias
esgotem seus fundos. Daí não poderem os operários limitar-se, de modo algum, às
greves e às sociedades de resistência. Em segundo lugar, as greves só são
vitoriosas quando os operários já possuem bastante consciência, quando sabem
escolher o momento para desencadeá-las, quando sabem apresentar reivindicações,
quando mantêm contacto com os socialistas para receber volantes e folhetos. Mas
operários assim ainda há muito poucos na Rússia, e é necessário fazer todos os
esforços para aumentar seu número, tornar conhecida nas massas operárias a
causa operária, fazê-las conhecer o socialismo e a luta operária. Esta é a
missão que devem cumprir os socialistas e os operários conscientes, formando,
para isso, o partido operário socialista. Em terceiro lugar, as greves mostram
aos operários, como vimos, que o governo é seu inimigo e que é preciso lutar
contra ele. Com efeito, as greves ensinaram gradualmente à classe operária, em
todos os países, a lutar contra os governos pelos direitos dos operários e
pelos direitos de todo o povo. Como já dissemos, esta luta só pode ser levada a
cabo pelo partido operário socialista, através da difusão entre os operários
das justas ideias sobre o governo e sobre a causa operária. Noutra ocasião nos
referiremos em particular a como se realizam na Rússia as greves e a como devem
utilizá-las os operários conscientes. Por enquanto devemos assinalar que as
greves são, como já afirmamos linhas atrás, uma “escola de guerra”, mas não a
própria guerra; as greves são apenas um dos meios de luta, uma das formas do
movimento operário. Das greves isoladas os operários podem e devem passar, e
passam realmente, em todos os países, à luta de toda a classe operária pela
emancipação de todos os trabalhadores. Quando todos os operários conscientes se
tornam socialistas, isto é, quando tendem para esta emancipação, quando se unem
em todo o país para propagar entre os operários o socialismo e ensinar-lhes
todos os meios de luta contra seus inimigos, quando formam o partido operário
socialista, que luta para libertar todo o povo da opressão do governo e para
emancipar todos os trabalhadores do jugo do capital, só então a classe operária
se incorpora plenamente ao grande movimento dos operários de todos os países,
que agrupa todos os operários, e hasteia a bandeira vermelha em que estão
inscritas estas palavras: “Proletários de todos os países, uni-vos!”
Notas de rodapé:
(1) Sobre as crises na indústria e sobre sua
significação para os operários falaremos algum dia mais minuciosamente. Agora
observemos apenas que, nos últimos anos, os assuntos industriais na Rússia têm
ido às mil maravilhas, a indústria prosperou, mas agora (em fins de 1899) já se
observam claros sintomas de que esta “prosperidade” terminará na crise: nas
dificuldades para a venda de mercadorias, na falência de fabricantes, na ruína
de pequenos proprietários e em terríveis calamidades para os operários
(desemprego, diminuição do salário, etc).
O
original encontra-se em http://www.marxists.org/portugues/lenin/1899/mes/greves.htm
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