O blog Marxismo21 publicou um dossiê com o tema Esquerdas, eleições e transformações estruturais da sociedade brasileira. O coletivo do blog Cem Flores elaborou para esse dossiê o artigo que abaixo reproduzimos, com o intuito de estimular o debate sobre a conjuntura da luta de classes no Brasil. O original do artigo do Cem Flores publicado em Marxismo21 pode ser acessado em pdf aqui.
Notas sobre a conjuntura da luta de classes e as
eleições de 2014
O Coletivo do Blog Cem
Flores (http://cemflores.blogspot.com.br/)
saúda a iniciativa dos camaradas do Blog marxismo21 de incentivar o debate das
transformações estruturais da sociedade brasileira e as eleições entre a
diversidade de posições presentes pelo largo espectro político e ideológico das
esquerdas. Nossa contribuição segue o roteiro sugerido por marxismo21.
1. O projeto de governo hegemonizado pelo PT teria se
esgotado?
Uma resposta a este
questionamento, em nosso entendimento, deve analisar as diferentes perspectivas
das classes sociais na conjuntura da luta de classes no Brasil.
Os movimentos grevistas dos
trabalhadores nos últimos anos e a repressão desencadeada pelas classes
dominantes por meio do Estado burguês colocam em questão a eficácia ideológica da
política de conciliação de classes praticada pelos governos Lula/Dilma e do PT.
O questionamento à essa ideologia de conciliação de classes é um processo em
curso na atual conjuntura e marca especialmente a experiência de núcleos e militantes
mais avançados da classe operária e dos trabalhadores, de um lado; e setores da
burguesia e da pequena burguesia, de outro.
O projeto de governo
hegemonizado pelo PT que está em questão é o da gestão do aparelho de Estado
burguês no Brasil, projeto autoproclamado como pacificação social.[1] Essa foi a garantia dada
pelo PT à burguesia na conjuntura da crise econômica durante a sucessão
presidencial de 2002.
E de fato a política
econômica do PT no governo, seu projeto econômico, foi estimular a acumulação
do capital, o lucro da burguesia nacional e internacional. Nunca é demais
lembrar que quem diz aumento da acumulação de capital quer dizer aumento da
exploração sobre a classe operária e os demais trabalhadores assalariados.
Uma breve ilustração desse
bem sucedido esforço dos governos Lula e Dilma:
De acordo com o anuário
Exame Melhores e Maiores de 2014 (pg. 73), as 500 maiores empresas
(não-financeiras) do Brasil registraram percentuais recordes de lucratividade
no governo Lula, até antes da crise internacional, atingindo média de 12% em
2007, mesmo patamar observado desde 2004.
De lá para cá, a brusca
redução do crescimento econômico levou o governo Dilma a se desdobrar na busca
de ajudar a recuperação das taxas de lucro. Dentre suas principais iniciativas,
destacam-se: 1) Novas desonerações tributárias (renúncias fiscais), que desde
2010 não param de crescer. Apenas para este ano, a Receita Federal estima que
os empresários deixarão de pagar R$ 112 bilhões em impostos. Todas as
desonerações concedidas de 2010 até agora somam impacto estimado de quase meio
trilhão de reais (com efeitos até 2017)[2]. Essas benesses são,
obviamente, financiadas com emissão de dívida pública. 2) Empréstimos
subsidiados do BNDES com juros que não passam de 5% ao ano. Ao final de 2007,
esse montante não chegava a R$ 7 bilhões. Com as seguidas emissões de dívida
pública do Tesouro Nacional para o BNDES, esse valor cresceu exponencialmente e
atingiu quase R$ 450 bilhões (aproximadamente 9% do PIB) em junho de 2014[3]. Ou seja, apenas essas
duas iniciativas “emergenciais” para retomar o lucro da burguesia aproximam-se
da inimaginável quantia de um trilhão de reais.
Os banqueiros também não
têm do que reclamar dos governos petistas. Em primeiro lugar, cresceu fortemente
a centralização de capital no setor bancário. Os cinco maiores bancos do país
detinham 60% dos ativos totais do setor em 2002 e passaram para 79,5%, em 2013[4]. Ou seja, o que já era
monopolizado, agravou-se. Ao mesmo tempo, o estoque de crédito bancário em
relação ao PIB, que era por volta de 25% passou para 56%, nos mesmos períodos[5].
Tampouco não se acuse os
governos petistas de discriminação contra o capital estrangeiro! O referido
anuário da revista Exame (pg. 72) mostra que 40% das vendas totais das 500
maiores empresas em 2013 foram feitas pelas empresas controladas pelo capital
estrangeiro. De uma forma mais rigorosa, o total do capital estrangeiro na
economia do país, medido pelo Banco Central, saiu de US$ 103 bilhões (16% do
PIB), em 2000, para US$ 163 bilhões (18%), em 2005, chegando a US$617 bilhões
(27,5%), em 2012, última informação disponível[6].
São essas as razões pelas
quais Lula não se cansa de afirmar como os governos do PT beneficiaram a
burguesia e os “pobres”.[7] É preciso assinalar que a afirmação de governar para todos expressa
a ideologia e a política de qualquer governo ou partido burguês. No
entanto, seus efeitos em termos de desorganização da classe operária e dos
trabalhadores e, por conseguinte, de fortalecimento da dominação burguesa são
ainda maiores quando essa posição é praticada por um partido, o PT, com hegemonia
no movimento operário.
Essa política de
conciliação de classes representa uma variante da ideologia burguesa, mais
especificamente própria a um setor da pequena-burguesia com expressão no
movimento operário, que, embora reconheça as classes sociais e suas contradições,
sustenta a possibilidade de compatibilizar seus interesses. Essa política está apoiada
em uma camada social nas fileiras do movimento operário no mundo todo com
atuação entre os segmentos mais organizados da classe operária e do
proletariado, que, no Brasil, tem como principais expressões o PT e a CUT.
O projeto petista advoga que
o Estado é um órgão de conciliação das classes sociais, e não de dominação de
classe, de submissão da classe operária e das massas trabalhadoras pela
burguesia, como nos mostra Lênin em “O Estado e a Revolução”, justamente para
arrancar às classes exploradas e dominadas os meios e os processos de luta
contra os opressores.
Uma
vez que não é nosso objetivo, neste texto, fazer um balanço da trajetória da
posição do PT e da CUT na história do movimento operário no Brasil, a natureza burguesa
da política de conciliação de classes conduzida pelo PT pode ser mais bem reconhecida
quando o governo se depara com os movimentos de luta dos trabalhadores. Então vejamos:
As
greves e a massiva mobilização operária nas grandes obras da construção civil,
em 2011, contra as péssimas condições de trabalho e baixos salários foram
respondidas com repressão pelo Estado e outras ações para impedir a organização
dos trabalhadores.[8] Em
Jirau, o governo Dilma rapidamente enviou a Força Nacional de Segurança para se
somar a forças policiais estaduais empregadas na Usina e na Região de Porto
Velho. O gigantesco aparato repressivo também contou com o braço jurídico e a
pronta intervenção da Justiça do Trabalho decretando a greve abusiva e impondo multas
(essas, sim, abusivas!). Em meio a esse cenário e em acordo com o ministro da
Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, o representante da CUT,
enviado a Rondônia, defendeu o retorno dos operários ao trabalho: "Tem de
voltar a trabalhar. Eu sou brasileiro, quero ver essa usina funcionando".
E completou: "O Brasil precisa de energia limpa. A obra da usina precisa
voltar a funcionar, porque a sociedade está sendo prejudicada."[9]
Outro
movimento grevista, protagonizado pelos servidores federais em 2012, teve como
estopim não as questões salariais, mas fundamentalmente o descontentamento pela
deterioração das condições de trabalho agravadas pelo aprofundamento das
práticas gerencialistas, calcadas no produtivismo, nos serviços públicos. A
mobilização unificou várias categorias e foi sustentada pelas bases dos
trabalhadores que assumiram inúmeras iniciativas da greve. As direções dos
sindicatos ligados a CUT foram constrangidas à adesão ao movimento, visto que se
esmeravam em negociações cada vez mais morosas e fragmentadas por órgão da
administração para desmobilizar os trabalhadores. Em resposta, o governo
aprimorou as práticas de intimidação e repressão: corte de ponto; publicação do
Decreto nº 7.777, que permite a substituição dos funcionários em greve por
servidores das mesmas carreiras em estados e municípios; no caso da greve dos
docentes das universidades federais, foi emblemática a assinatura de acordo com
o sindicato pelego, o chamado Proifes, sem representatividade
entre os professores. Tais ações conduziram alguns militantes petistas a se
insurgir e inclusive a reconhecer que "O PT patrão... aprimora táticas de
pressão psicológica”.[10]
O
questionamento à política de conciliação de classes também está expresso nas
manifestações de junho de 2013. Embora de natureza difusa, camadas mais
avançadas dos trabalhadores assalariados urbanos, especialmente entre os jovens
que trabalham e estudam concomitantemente, percebem sua condição explorada e elegem
a luta e a mobilização como meio para enfrentá-la e alcançar suas reivindicações.
Também
podemos ver esse questionamento nos recentes movimentos grevistas de
professores, garis, rodoviários e metroviários em grandes cidades do país. Ou
ainda nas lutas populares e de trabalhadores das favelas e periferias por
moradia, saúde, creche, educação, transporte e no enfrentamento à violência
policial. Nessas áreas, a repressão do Estado é a regra (e não exceção). Assinalamos
sua ampliação para outras regiões da cidade e outros segmentos dos
trabalhadores urbanos, notadamente para combater os que lutam e impedir sua
organização.
A
repressão é a face (necessária) da política de conciliação de classes que se
tenta ocultar. Contudo, no Estado burguês, a repressão é onipresente, desde sutilmente
lembrada para dissuadir a classe operária e os trabalhadores da tentativa de
questionar as bases da ordem vigente, até impetuosamente empregada para o caso
da classe operária levar a termo sua tentativa. O efetivo emprego da repressão é,
portanto, outro indicador da perda da eficácia ideológica da política de
conciliação de classes expressa pelos governos do PT.
Cabe
salientar que o aumento do emprego da repressão se faz acompanhado da modernização
de seus instrumentos, inclusive jurídicos, e da tentativa de sua legitimação
política com apoio direto dos governos do PT. Trata-se do empenho governamental
para atualizar os aparatos do Estado burguês no Brasil na atual conjuntura da
luta de classes: em plena escalada da violência e onda de prisões de
manifestantes para conter a greve dos professores do município do Rio de
Janeiro e os protestos contra os assassinatos praticados por policiais em
favelas do Rio de Janeiro e na periferia de São Paulo, as acusações de “vandalismo”
e de “barbárie” dos manifestantes feitas, respectivamente, por Lula e Dilma sancionaram
o “consenso” político entre as classes dominantes para o recrudescimento da
repressão e a criminalização dos manifestantes.[11] Isto
é, além de sancionar a lei de organização criminosa
(Lei nº 12.850, de 02 de agosto de 2013), o governo Dilma chancela sua
aplicação para os movimentos sociais e de trabalhadores e atua para integrar os
aparatos de repressão no nível federal e nos estados e municípios.[12]
A
ação do governo expressa a tentativa de recuperar a confiabilidade da burguesia,
uma vez que esta também percebeu a queda da efetividade da política de
conciliação de classes. Notadamente após as manifestações de 2013, a burguesia
passou a questionar a condição do governo Dilma e do PT para pacificar as lutas
das classes trabalhadoras.
Nesse sentido, o projeto de governo hegemonizado pelo PT
que está em questão é o da possibilidade desse governo continuar atuando como
instrumento de conciliação de classes. Ou, em outros termos, o papel dos
governos Lula/Dilma e do PT na administração das políticas em favor da
burguesia para acumulação de capital e capaz de produzir efeitos em termos de conter
e desorganizar os movimentos de luta dos trabalhadores e das massas exploradas.
Este processo se enfraqueceu e está em questão na atual conjuntura da luta de
classes no Brasil.
No entanto, nos recentes movimentos,
os trabalhadores travam suas lutas sem contar com uma organização sindical e um
partido que defenda as posições políticas da classe operária e dos
trabalhadores, capaz de apresentar uma alternativa ao PT e a CUT. Além disso, as
organizações sindicais e políticas que se colocam à esquerda da CUT e do PT possuem
pouca atuação na classe operária e entre os trabalhadores e estes não percebem
tais organizações como suas, ou seja, não vêem estes instrumentos de luta como
seus, com os quais podem decisivamente contar e confiar para travar a luta de
classes. Esta condição limita um questionamento mais efetivo da política de conciliação
de classes, mesmo considerando seu enfraquecimento, e preserva a possibilidade
do PT manter-se viável eleitoralmente na “salutar” concorrência da democracia
burguesa pela representação política para administrar os interesses das classes
dominantes.
2. Qual deve ser a atuação das esquerdas no processo
eleitoral de 2014?
Como foi dito antes, temos
de levar em consideração a ausência de uma organização sindical e partidária
capaz de sustentar a posição teórica e política do proletariado enquanto classe
independente da burguesia, de suas frações e das demais classes sociais.
Em função desse fato, não
cabe às organizações e núcleos de esquerda participar do processo eleitoral de
2014, isto quando se tem em mente, do nosso ponto de vista, retomar a construção
da revolução proletária no Brasil. O fato é que os partidos e organizações de
esquerda possuem muito pouco enraizamento e base nas lutas operárias e dos
trabalhadores para, com independência política, utilizar as eleições, especialmente
as majoritárias, de modo revolucionário, comunista, como ensina Lênin.
É bom assinalar que não temos
em mente transformar a defesa do voto nulo ou a recusa da participação nas
eleições em campanha de agitação política nas amplas massas dos trabalhadores.
Essa posição, frequentemente comum entre anarquistas e pequenos círculos
voluntaristas, tomada à revelia da análise da conjuntura histórica, transforma
o desejo em estratégia pretensamente revolucionária e desconsidera o nível de
consciência dos operários e das massas na definição da tática política.
Nosso posicionamento se
pauta no âmbito da prática política dirigida mais às atividades de propaganda,
entendida nos termos de Lênin em Que
Fazer?. Sobretudo para contribuir com o fortalecimento da posição teórica e
política da classe operária, notadamente entre os militantes e núcleos de
ativistas mais avançados do movimento operário. Contribuir para que?
Para proporcionar elementos
teóricos de modo a sustentar a crítica do entendimento do Estado como
instrumento de conciliação de classes entre burguesia e proletariado – ou seja,
entender a democracia burguesa como ditadura de classe da burguesia -, crítica da
possibilidade de chegar ao governo para fazer uma gestão “humana” do capitalismo.
Não que esteja vedado obter conquistas dentro da ordem social vigente:
geralmente resultantes das lutas operárias e dos trabalhadores, as conquistas
são sempre parciais, seletivas, limitadas e reversíveis, enquanto perdurar a
dominação burguesa até sua ruptura revolucionária com a tomada do poder
político pelo proletariado, a construção do socialismo e do comunismo.
Aliás, a estratégia
política orientada por reformas sociais e econômicas e pela contínua penetração
popular ou operária no Estado burguês, idealizada como transição ao socialismo,
é atualmente majoritária nas organizações ou núcleos de esquerda que fazem oposição
ao PT e a CUT. Cultiva-se a democracia como valor. Tratar-se-ia então de conseguir
a hegemonia popular ou operária dentro da ordem democrática na direção de sua ampliação
ilimitada como caminho para a emergência da sociedade socialista.
Esta perspectiva mantém
intacta a base teórica e política predominante na esquerda brasileira, desde pelo
menos os anos 1970, tanto na tradição reformista dos PCs e dos agrupamentos daí
originados, quanto do PT.
Apesar de constar de seus
documentos iniciais, o “socialismo petista” nunca foi minimamente definido. Ao
contrário, manteve um ecletismo teórico e político, apreciado por afirmar seu
“pluralismo ideológico”.[13] Por isso mesmo, não falamos
em esgotamento de um projeto socialista, uma vez que tal objetivo nunca fora
antes rigorosamente sustentado pelo PT.
A ideologia petista não se
identifica com o socialismo científico na esteira do Manifesto do Partido
Comunista de Marx e Engels, embora a defesa de uma perspectiva marxista integrasse
criticamente o pensamento político do PT. O desenvolvimento dessa ideologia
petista, contudo, implicou no enfraquecimento das organizações que de
diferentes perspectivas reivindicavam o marxismo. De maneira que a maioria
destas organizações ou se encerraram dentro do PT ou procuraram abrigo a seu
lado, atraídas pela força de gravidade da ideologia petista no movimento
operário, o que limitou as iniciativas para a construção da organização política
do proletariado, isto é, a organização do proletariado como classe que luta com
sua própria posição política e não na cauda das posições burguesa e pequeno-burguesa.
O resultado é conhecido: um
progressivo rebaixamento do programa petista, inicialmente reformista até sua
conformação nos governos Lula/Dilma, que não podem sequer ser considerados como
governos reformistas, tampouco um “reformismo fraco”, como caracterizado por
André Singer. A gestão do capitalismo praticada pelos governos do PT não caminha
na direção da ampliação dos direitos sociais e dos bens coletivos públicos,
originalmente próprios dos partidos reformistas. Muito pelo contrário.
Cabe então chamar a atenção
para a maior possibilidade da abertura do espaço da representação política do tipo
reformista – e não unicamente revolucionária - na conjuntura atual. Visto que o
retorno ao projeto original do PT, nos termos antes apontados, inclusive a
utilização das eleições para acúmulo de forças, ainda marca a experiência
imediata de antigos militantes e tem seu rebatimento entre a nova geração. Esta
perspectiva tem alcance mais notadamente entre os trabalhadores assalariados do
setor público e de empresas estatais do que na classe operária.
3. Como construir uma política de esquerda enraizada e
comprometida com a transformação da sociedade brasileira?
É preciso reconhecer a fragilidade
e dispersão teórica, política e orgânica em que se encontram o movimento
operário no Brasil. Um passo decisivo para reverter esse quadro, em nosso ponto
de vista, é empreender o trabalho para construção do partido do proletariado,
condição para a mudança de qualidade na luta da classe operária e dos demais
trabalhadores. Rebaixar o papel e a necessidade do Partido corresponde à valorização,
consciente ou inconscientemente, do espontaneísmo na luta da classe operária e
dos trabalhadores, limitando seu programa e sua prática política para agir como
apêndice dos partidos burgueses e pequeno-burgueses.
Destacamos a importância em
retomar o marxismo na construção da teoria e da linha política da revolução
proletária no Brasil como condição para a construção do partido do
proletariado, unidade indissolúvel da teoria e da prática.[14]
Mas sabemos que é na luta
de classes que o proletariado constrói suas organizações de luta sindical e
política, assim como sua teoria e a linha política da revolução. Em
decorrência, devemos empreender um trabalho dirigido centralmente para a atuação
na classe operária, retomar a ligação com o cotidiano das lutas operárias, suas
reivindicações materiais, econômicas, das mais simples às mais elevadas. Luta operária
que se trava sem interrupção, de maneira surda ou visível, e se irradia da
prática da produção para todas as esferas da sociedade, de modo a reconstruir suas
organizações sindicais e políticas.
Lutas que os operários e os
demais trabalhadores estão travando por seus interesses concretos, e com eles devemos
– nunca é demais lembrar – estudar e aprender os ensinamentos que se processam
nestes embates, sem deixar de apontar seus limites nem tampouco perder de vista
seus interesses estratégicos.
Nesse sentido, não é demais
assinalar o rebaixamento da posição proletária na ação sindical, isto é, a
substituição das experiências históricas das lutas calcadas na denúncia e
organização contra a exploração dos trabalhadores por ações de parceria com o
capital. No entanto, também é possível inferir que as expressões mais visíveis
de resistência operária e dos demais trabalhadores sinalizam um maior ativismo
nos locais de trabalho e seu distanciamento da lógica das cúpulas sindicais.
Essa nota feita aqui de
forma sumária aponta para a importância da análise de conjuntura ganhar
sistematicidade na pauta das organizações e núcleos de militantes que se
constituem na perspectiva de trilhar a luta proletária pelo socialismo e o
comunismo. Esperamos que o debate proposto por marxismo21 sobre as eleições e
as transformações estruturais na sociedade brasileira contribua para este desdobramento.
Ao apresentar nossa contribuição para esse debate, o fazemos com o intuito de
estimular a discussão, certos de que o avanço das posições críticas no campo do
marxismo pode e deve contribuir para superar nossas limitações e aprimorar nossas
formulações, sempre necessariamente provisórias.
27 de agosto de 2014.
Coletivo Cem Flores.
[1]
Pacificação social
imaginada como ocorrendo via crescimento e inclusão: “O Brasil quer mudar.
Mudar para crescer, incluir, pacificar”, assim inicia a Carta ao Povo
Brasileiro, de junho de 2002 (http://www.fpabramo.org.br/uploads/cartaaopovobrasileiro.pdf).
[7] Talvez sua mais recente afirmação da espécie tenha
sido no Mato Grosso do Sul: “Porque a verdade é que nós aprendemos a governar
para todos. Nós governamos pra todos sem distinção.
Eu digo que, no meu governo, banqueiro ganhou muito dinheiro, fazendeiro ganhou muito dinheiro, [inaudível] ganhou muito dinheiro. Mas é a primeira vez na história deste país que a classe pobre tem renda muito maior que a classe rica [sic!]”. Disponível em http://www.institutolula.org/lula-participa-da-convencao-do-pt-ms-nesta-sexta.
Eu digo que, no meu governo, banqueiro ganhou muito dinheiro, fazendeiro ganhou muito dinheiro, [inaudível] ganhou muito dinheiro. Mas é a primeira vez na história deste país que a classe pobre tem renda muito maior que a classe rica [sic!]”. Disponível em http://www.institutolula.org/lula-participa-da-convencao-do-pt-ms-nesta-sexta.
[8] Em março-abril de 2011, as
greves nas obras da construção civil em hidroelétricas, estradas, complexo
portuário e refinarias mobilizaram aproximadamente 80 mil operários: Jirau
(RO), 22 mil operários; Santo Antônio (RO), 16 mil; Complexo de Suape (PE), 34
mil; Complexo Portuário em Pecém (CE), 5 mil; e Complexo de Porto de Açu (RJ),
1.200 operários; são alguns dos exemplos neste período.
[9] http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,enviado-da-cut-pede-retomada-da-obra-de-jirau-imp-,695335
[10] Declaração de César Augusto
Brod, na época, coordenador de Inovação Tecnológica do Ministério do
Planejamento, apresentada em sua carta de demissão por recusar a orientação do
governo para cortar o ponto dos servidores em greve da secretaria sob sua
coordenação. Na carta, César Brod afirmou ainda: "Todos sabem qual é meu
salário graças à Lei de Acesso à Informação. Preciso deste salário e, de fato,
tenho orgulho em merecê-lo. Mas a partir do momento em que tenho que ferir meus
princípios para manter minha remuneração, meus princípios sempre ganharão o
jogo, independente do que virá depois”. http://www.sindsep-df.com.br/index.php?secao=secoes.php&sc=&id=10185&url=pg_noticias.php&sub=MA==
[11] Após citar as condenações de Lula e Dilma aos
manifestantes, o editorial de O Globo, comemora a coesão para a repressão e
criminalização dos movimentos sociais e de trabalhadores: “Felizmente
constrói-se o consenso de que, não importa a origem, ações de vandalismo contra
o que for – pessoas, patrimônio
público e privado – são um ataque a democracia e ao estado de direito.
Criminaliza-se quem deve ser criminalizado, como determina a lei.” (O consenso
contra a violência e a favor da democracia. Editorial. O Globo, 02/11/2013, p.
20).
[12] Dilma sancionou a Lei nº 13.022, de 08 de agosto de
2014 que autoriza o uso de armas de fogo e confere poder de polícia à Guarda
Municipal. O projeto aprovado no Senado Federal contou com o apoio de petistas
históricos como Eduardo Suplicy (PT-SP) e Paulo Paim (PT-RS).
[13] Como
nomeou um de seus mais destacados ideólogos: “o PT não reivindica uma filiação
doutrinária, marxista ou de qualquer outro tipo. Ao contrário, afirma seu
pluralismo ideológico” (Marco Aurélio Garcia, A social-democracia e o PT.
Teoria e Debate, n. 12 - outubro/novembro/dezembro de 1990 1990. Disponível em:
http://www.teoriaedebate.org.br/materias/politica/social-democracia-e-o-pt?page=full).
[14] Para
contribuir com esse debate, apresentamos uma compilação de textos escritos
entre 2000 e 2011 no livro Luta de Classes,
Crise do Imperialismo e a Nova Divisão Internacional do Trabalho (http://cemflores.blogspot.com.br/2013/09/luta-de-classes-crise-do-imperialismo-e_24.html).
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