Reproduzimos abaixo a intervenção do KKE no 16º Encontro Mundial de Partidos Comunistas, realizado de 13 a 16 de novembro de 2014, em Guayaquil, Equador. Nosso blog, no espírito de que cem flores desabrochem, cem escolas rivalizem, objetiva, com essa publicação, aprofundar o debate sobre a necessária retomada do movimento revolucionário no Brasil e no mundo. Acesse aqui o original e aqui a versão em pdf.
Caros camaradas,
Agradecemos ao
Partido Comunista do Equador, anfitrião do 16.º Encontro Internacional e
saudamos os partidos comunistas que nele participam. Expressamos a nossa
solidariedade internacionalista ao povo do Equador e aos povos da América
Latina, aos comunistas e aos movimentos populares que estão a enfrentar a
repressão estatal e os ataques e a perseguição anticomunistas. Declaramos a
nossa vontade de intensificar os esforços para a libertação dos três militantes
cubanos que ainda permanecem presos nos EUA.
Caros camaradas,
Os próprios
desenvolvimentos sublinham o facto de que temos muito trabalho a fazer. O
capitalismo está a tornar-se cada vez mais agressivo e perigoso à custa dos
povos e caracteriza-se por uma ofensiva em grande escala contra a classe
operária e os direitos populares e pelas crises e guerras imperialistas. As tarefas
dos comunistas são muito importantes e exigem que troquemos experiências a
partir do desenvolvimento da luta em cada país, de forma sistemática, no
sentido de intensificarmos os esforços para coordenar a nossa atividade e para
formar a base para o fortalecimento do movimento comunista internacional. É
sabido que a crise de sobreacumulação e sobreprodução do capital, que eclodiu
de forma sincronizada, em 2008, em muitos países, expressa a anarquia da
produção capitalista, as suas contradições, a agudização da contradição
fundamental entre o caráter social da produção e do trabalho e a apropriação
capitalista dos seus resultados no terreno, do poder dos monopólios e da
propriedade capitalista dos meios de produção. A realidade mostra que a base da
crise não é uma ou outra forma de gestão burguesa. A crise não é um produto do
"neoliberalismo", ou da "atividade descontrolada dos
bancos", como as forças do oportunismo, do Partido da Esquerda Europeia
(PEE) na Europa, alegam. Estas alegações enganam os povos, absolvem o sistema
capitalista e as suas leis económicas, promovem ilusões de que existem formas
favoráveis ao povo na gestão do sistema e suportam a gestão social-democrata. A
ofensiva em grande escala tem-se manifestado na Grécia durante a crise capitalista
contra a classe operária, as camadas populares, os jovens, com consequências
dolorosas para os salários e pensões e para os direitos do trabalho e da
segurança social.
Mais de 30% da
força laboral está desempregada. Durante a crise, o governo social-democrata do
PASOK, para começar, e, mais tarde, a coligação do partido liberal ND e do
PASOK impuseram duras medidas antipopulares, que haviam sido decididas na União
Europeia (UE) e no estado-maior do capital, antes da crise, e promoveram as
reestruturações capitalistas, que visaram reduzir o preço da força de trabalho,
reforçar a competitividade e o lucro das grandes empresas.
O facto é que,
apesar da destruição das forças produtivas e de capital, apesar das expetativas
que foram fomentadas, testemunhamos a estagnação económica e mesmo recessão na
UE, até nos poderosos Estados capitalistas como a Alemanha, a Itália e a
França.
A ofensiva
antipopular está em curso em todos os Estados europeus, independentemente de
terem memorandos assinados com a União Europeia e o Fundo Monetário
Internacional, independentemente dos seus níveis de défice e de dívida.
Os burgueses
estão a tentar enredar os povos numa ou noutra fórmula de gestão – a política
económica "restritiva" ou a "expansiva" –, o keynesianismo
foi desenterrado, dogmas antipopulares experimentados e testados são
apresentados como novos. A conclusão básica é que cada fórmula de gestão
burguesa, mesmo nas condições de crescimento económico, tem como critério os
lucros dos monopólios. Consequentemente, as medidas contra o povo vão
continuar. Não são apenas os partidos tradicionais da burguesia que funcionam
na linha de gestão do sistema, mas também os novos partidos social-democratas,
com raízes oportunistas, como o SYRIZA na Grécia. Este partido está a tentar
criar uma impressão positiva no estrangeiro e a promoverse como uma força
radical, também aqui, na América Latina. No entanto, na realidade, é um
defensor do desenvolvimento capitalista, da União Europeia imperialista e da
sua estratégia. É a favor da Grécia permanecer na NATO e dá crédito aos EUA e
às forças do capital a nível nacional e internacional. A sua linha política é
baseada no reforço da competitividade e no lucro do capital, não tem nada a ver
com a satisfação das necessidades do povo e a recuperação das perdas que os
trabalhadores sofreram durante a crise. Este partido recicla o desemprego e
gere a pobreza. Em contrapartida, o KKE está a tentar organizar a luta da
classe operária. O KKE apoia a luta da Frente Militante de Todos os Trabalhadores
(PAME) e das outras associações militantes: dos agricultores, trabalhadores
independentes urbanos, mulheres e jovens. O KKE entra em conflito com as forças
do capital, com a linha política antipopular dos governos e da UE. Contribui
para organizar a resistência e luta pela recuperação das perdas que os
trabalhadores sofreram durante a crise. Luta pelo contra-ataque do povo, pela
aliança social popular, contra os monopólios, contra o capitalismo. A luta
diária do KKE nas fábricas, empresas, setores e bairros populares não se limita
à criação de melhores condições para a venda da força de trabalho. Ao invés,
está ligada ao esforço para reagrupar o movimento operário, para reforçar a
orientação de classe dos sindicatos, a sua capacidade de reunir as forças da
classe operária no confronto com o capital, os seus representantes políticos e
sindicalistas orientados para os patrões-governantes, que são um veículo de
colaboração de classes e do enfraquecimento dos trabalhadores e têm
responsabilidades sérias no recuo do movimento.
O nosso partido
está a intensificar os seus esforços para que a classe operária, classe
dirigente da sociedade, possa construir a sua aliança com as camadas populares
e fortalecer a luta antimonopolista e anticapitalista. Recentemente, a 1 de
novembro, muitos milhares de trabalhadores, homens e mulheres, forças populares
e jovens participaram na grande manifestação nacional organizada pela Frente
Militante de Todos os Trabalhadores (PAME), em Atenas, em cooperação com muitas
outras manifestações militantes dos agricultores, trabalhadores independentes
urbanos, mulheres e estudantes, contra a ofensiva do capital e da linha
política antipopular do governo e da UE. Mais de 1.000 sindicatos e outras
organizações do movimento popular tomaram a decisão de participar. Um número
significativo de sindicatos, onde a PAME não está em maioria, participaram na
mobilização.
Caros camaradas,
A agressividade
imperialista tem vindo a intensificar-se e a competição interimperialista foi
nítida durante a crise capitalista. No Sudeste mediterrâneo, a intervenção
imperialista no Iraque e na Síria continua, com o novo pretexto de combater o
"Estado Islâmico" e os jihadistas. A Turquia não só mantém a sua
ocupação de grande parte do Chipre, mas também contesta os direitos de
soberania da ilha e da Grécia, viola fronteiras, espezinha os direitos soberanos.
A competição pelo controle dos hidrocarbonetos na região está a
intensificar-se. Israel continua a sua ofensiva assassina contra o povo
palestino e tem o apoio dos EUA e da UE, que incriminam a resistência do povo
como sendo terrorismo e equiparam a vítima ao perseguidor. A intervenção da
UE-EUA e NATO na Ucrânia e a ascensão de forças reacionárias e até fascistas no
Estado e na liderança do governo do país, bem como a competição mais genérica
dos poderes euro-atlânticos com a Rússia, desenvolveram uma situação explosiva.
Estes desenvolvimentos, a intensificação do anticomunismo, o objetivo da
proibir o Partido Comunista da Ucrânia, proibir os Partidos Comunistas na
Europa e noutras regiões do mundo exigem o reforço da vigilância e da
solidariedade internacionalista. 100 anos após a primeira Guerra Mundial e 75
anos após a 2.ª Guerra Mundial, há o grande perigo de conflitos militares
generalizados.
Qual é o fio
condutor estes desenvolvimentos, quais são as reais causas das intervenções
imperialistas e das guerras? Os monopólios e grandes grupos empresariais estão
no centro do imperialismo, que é a fase superior do capitalismo (e não apenas a
expressão de uma política externa agressiva). Eles competem para expandir as
suas atividades comerciais, para controlar os mercados, os recursos naturais e
as condutas de energia e isso também é expresso a um nível internacional. Isto
manifesta-se em antigos e novos focos de tensão e de guerra. A guerra é a
continuação da política com outros meios violentos. Os comunistas têm uma
grande responsabilidade para esclarecer e guiar a classe operária e os estratos
populares para que estes superem as armadilhas multifacetadas estabelecidas
pelas classes burguesas e uniões imperialistas, de modo a que se organizem e
mostrem a sua força. Cada recuo dos partidos comunistas da luta política
independente, cada envolvimento em contradições e planos intraburgueses ou
participação em governos de gestão burguesa teve consequências dolorosas para
os povos.
A luta de massas
contra os planos imperialistas deve andar de mãos dadas com a organização da
luta para erradicar as causas da guerra, para derrubar a barbárie capitalista.
O KKE tem uma multifacetada atividade contra as guerras imperialistas,
intervenções e ameaças, mas não se limita a isso. A linha de luta que o 19.º
Congresso do nosso partido, realizado em 2013, finalizou, tem um significado
mais geral. Realça que, no caso do “envolvimento da Grécia numa guerra
imperialista, o KKE deve estar pronto para liderar a organização independente
da luta dos trabalhadores e do povo em todas as suas formas, de modo a que
esteja ligada à luta para derrotar a classe burguesa, tanto a nacional como a
do invasor estrangeiro”.
Caros camaradas,
É um facto que a
estratégia dos partidos comunistas e a orientação básica da sua luta são
determinadas pelo caráter de nossa era. Isso determina o caráter da revolução e
as suas forças motrizes, a linha mobilizadora, a política de alianças e o
trabalho político-ideológico da classe operária, para que a luta esteja
orientada para derrubar as causas da exploração. O desenvolvimento social
move-se em direção a um nível mais elevado e não pode recuar devido à
ocorrência da contrarrevolução e do derrube do socialismo na União Soviética e
noutros países socialistas. Todo este curso histórico tem sido caracterizado
por grandes confrontos sociais, vitórias e derrotas das classes dirigentes, em
todas as fases. Houve contratempos, mas o elemento decisivo foi a lei geral
relativa à substituição do antigo sistema socioeconômico por um novo. O
capitalismo desenvolveu-se, a concentração e centralização do capital levou à
criação dos monopólios e das sociedades por ações. As pré-condições materiais
para a construção da nova sociedade socialista amadureceram.
Estes são
elementos fundamentais para a elaboração de uma estratégia revolucionária
moderna, com o caráter socialista da revolução e a resolução da contradição
básica entre o capital e o trabalho como ponto central. A estratégia de
"etapas intermédias" entre o capitalismo e o socialismo opera dentro
do quadro do sistema de exploração, com o poder e os meios de produção a
permanecerem nas mãos da classe burguesa e a exploração capitalista e a
anarquia a serem mantidas. Esta estratégia tem causado atrasos na luta do
movimento comunista, é uma caraterística da sua crise e conduz à participação
ou apoio aos governos burgueses, à procura de governos de "esquerda"
da gestão burguesa. As consequências são extremamente negativas. O fator
subjetivo, os partidos comunistas e a classe operária, é "educado"
numa solução que está dentro dos limites do capitalismo. Tempo valioso está a
ser desperdiçado. Infelizmente, isto não tem sido compreendido. Os defensores
de tais pontos de vista têm chegado ao ponto de incriminar a posição sobre a
atualidade do socialismo como sectária. Lenine, na sua obra "Sob uma
bandeira alheia", em referência à "nossa era", que começou com a
primeira Guerra Mundial e foi confirmada pela Revolução Socialista de Outubro
de 1917, coloca a classe burguesa na "mesma situação" em que estavam
os senhores feudais, ele falou numa era do imperialismo e choques
imperialistas. Vivemos nesta era, a era da transição do capitalismo para o socialismo
e uma grande discussão deve começar sobre a estratégia que corresponde à nossa
era. O 19.º Congresso do KKE avaliou que, ao longo dos últimos 20 anos, as já
amadurecidas pré-condições para o socialismo na Grécia desenvolveram-se ainda
mais. As relações capitalistas têm-se expandido e reforçado, na produção
agrícola, educação, saúde, cultura e desporto, na comunicação social de massa.
Houve maior concentração do trabalho assalariado e do capital na indústria, no
comércio grossista, na construção civil, no turismo. Empresas pertencentes ao
capital privado têm-se desenvolvido com a abolição do monopólio estatal nas
telecomunicações e nas secções monopolizadas de energia e transportes.
O trabalho
assalariado aumentou significativamente em percentagem do emprego total. Nesta
base, o KKE chegou à conclusão de que o povo grego será libertado dos grilhões
da exploração capitalista e das uniões imperialistas quando a classe
trabalhadora, juntamente com os seus aliados, levar a cabo a revolução
socialista e seguir em frente para construir o socialismo/comunismo.
A mudança
revolucionária na Grécia será socialista. As forças motrizes da revolução
socialista terão a classe operária como força dirigente, os semiproletários, as
camadas populares oprimidas dos trabalhadores independentes, os agricultores
empobrecidos. O KKE atua no sentido de preparar o fator subjetivo para a
perspectiva da revolução socialista, apesar do facto de o período de tempo da
sua manifestação ser determinado pela situação revolucionária (quando as
"classes de baixo" não quiserem viver no velho caminho e os "de
cima" não puderem continuar no velho caminho), que é uma questão objetiva.
O fortalecimento do KKE e da KNE e o reagrupamento do movimento operário, a
aliança popular, são direções básicas que respondem à necessidade de preparar o
partido e o movimento de trabalhadores. A Aliança Popular expressa os
interesses da classe operária, dos semiproletários, dos trabalhadores
independentes urbanos, dos agricultores empobrecidos, dos jovens e das mulheres
dos extratos da classe operário-popular, na luta contra os monopólios e a
propriedade capitalista, contra a assimilação do país nas uniões imperialistas.
A Aliança Popular é uma aliança social e tem características de movimento no
sentido antimonopolista e anticapitalista. Os partidos que têm essa diretriz
vão participar nos seus órgãos e nas suas fileiras através dos seus quadros e
militantes, através dos membros das suas organizações de juventude, que são
eleitos nos órgãos do movimento, trabalham nas organizações populares e não vão
participar como membros de partidos na aliança. Isto é verdade para o nosso
partido também. O movimento operário, os movimentos de trabalhadores
independentes urbanos e de agricultores, e a forma que a sua aliança assume
(Aliança Popular), com objetivos antimonopolistas e anticapitalistas, com a
atividade de vanguarda das forças do KKE, em condições não-revolucionárias,
constitui a primeira forma para a criação da frente revolucionária dos
trabalhadores e do povo em condições revolucionárias.
Caros camaradas,
O KKE examina
cuidadosamente os processos que estão em andamento na América Latina e o
desenvolvimento do movimento operário e popular.
Apoia os
esforços de Cuba contra o embargo dos EUA e continuação de todo o tipo de
ataques. Denuncia as tentativas de impor golpes e soluções reacionárias. O KKE
expressa a sua solidariedade para com os militantes colombianos das FARC. Ao
mesmo tempo, consideramos que é necessário concentrarmo-nos em certos temas e
participar na discussão que começou no Movimento Comunista Internacional sobre
questões estrategicamente importantes. Amplas camadas populares na América
Latina, que ficaram indignadas com a linha política antipopular dos governos
liberais e socialdemocratas, confiaram os seus votos a forças políticas que
promoveram o alívio da pobreza, falaram sobre a independência e soberania
desses países, com um foco sobre como lidar com as relações desiguais e a
dependência dos EUA.
Como podemos
avaliar a situação?
Primeiro, não pode
ser escondido que nesses Estados o poder político e os meios de produção
pertencem à classe burguesa, o lucro é o critério para o desenvolvimento e que
a exploração do homem pelo homem é mantida. Esta é a questão fundamental. Os
governos do "progressismo", com diferenças nos diversos países, estão
a gerir o sistema capitalista. Alguns deles tomam medidas para aliviar as
forças populares da extrema pobreza e para salvaguardar um nível mínimo de
serviços sociais, de modo que a força de trabalho, que continua a ser uma
mercadoria, possa ser reproduzida. Alguns também nacionalizam algumas empresas
privadas, especialmente nos setores de energia e minas. No entanto, este
elemento não constitui uma mudança radical, porque é um desenvolvimento que
está a ter lugar no âmbito das relações capitalistas mais gerais de produção e
de propriedade estatal (o coletivo capitalista) e isso não muda o caráter
explorador do sistema. Temos visto empresas estatais e serviços sociais
relativamente expandidos durante governos, em particular social-democratas, em
muitos países capitalistas europeus, mas continuou a haver um alto nível de
exploração da classe operária e as crises não foram evitadas.
Em segundo
lugar, através da manutenção da base económica capitalista são criadas a
anarquia na produção e as condições prévias para a manifestação da crise
capitalista, com o aumento do desemprego, a expansão da miséria relativa e absoluta,
a supressão de todos os direitos que tinham sido adquiridos anteriormente. A
atividade das leis do capitalismo levou recentemente ao rápido aumento da
inflação na Argentina, na Venezuela, etc., para níveis muito elevados, o que
resulta na redução do poder de compra das famílias das camadas populares.
Aumentou a diferença entre o crescimento da produtividade e o nível dos
salários reais. A referência à redução da percentagem de pobreza não pode
esconder o problema da pobreza generalizada, as causas que a criam e a
reproduzem e os enormes lucros que, ao mesmo tempo, estão nas mãos dos
capitalistas.
De qualquer
forma, os programas de redução de pobreza são aplicados em diversos países
capitalistas, a fim de evitar erupções e para manipular a classe operária. Na
nossa opinião, os partidos comunistas são obrigados a trabalhar
persistentemente, de forma consistente, a fim de dotar a classe operária para
que possa tornar-se capaz de lutar pela riqueza que produziu e que lhe
pertence.
O Brasil é a
sexta potência capitalista no mundo. Possui um forte setor industrial e de
produção agrícola, infraestruturas significativas, riqueza mineral, recursos
energéticos. Possui uma grande classe operária. O seu capital monopolista
estende as suas atividades principalmente na América Latina e em África, em
muitas regiões por todo o globo. Participa na competição imperialista
internacional, utilizando a participação do Brasil nos BRICS. 100 grupos
empresariais dominam a indústria, as minas, o setor agroalimentar, o setor
financeiro, o setor grossista e os serviços com um grande nível de
rentabilidade. 53 milhões de pessoas vivem abaixo do limiar da pobreza e 23
milhões em condições de miséria absoluta extrema neste país. 5% dos mais ricos
possuem um rendimento maior do que 50% dos mais pobres. Além disso, os
desenvolvimentos na Argentina ensinam-nos quão utópica é a promoção de ilusões
sobre uma linha política popular, no quadro do capitalismo. Grupos monopolistas
nacionais e estrangeiros significativos controlam todos os setores dinâmicos da
economia, por exemplo, nas indústrias do aço e dos automóveis, no processamento
de alimentos, etc. Os governos da Argentina reestruturaram a alta dívida que
aumentou durante (e após) a crise de 2001, mas as pessoas pagaram e estão a
pagar por isso. As pessoas que não têm qualquer responsabilidade pela dívida e
não se beneficiaram com a sua criação. A linha política básica do governo é a
justaposição e o reforço do capital da Argentina em relação aos seus
concorrentes na América Latina e no sistema imperialista internacional. A taxa
de exploração da classe operária aumentou. O governo promove importantes
acordos económicos com a China e a Rússia, bem como com grupos monopolistas dos
Estados Unidos, como a conhecida "CHEVRON" para a exploração dos
depósitos gás natural (vaca morta). Estamos a falar do Brasil e da Argentina,
notando que a situação da classe operária e das camadas populares noutros
países da América Latina, com uma posição inferior na pirâmide imperialista,
onde os governos de "esquerda" estão no poder, é ainda pior.
Lidar com estes
problemas crónicos, garantindo o direito ao trabalho, serviços de saúde
gratuitos, educação, que foram alcançados por Cuba num caminho depois da
revolução, destaca a necessidade do socialismo, do poder da classe operária. A
discussão sobre uma mudança positiva na correlação de forças a favor dos povos e
dos partidos comunistas na América Latina não expressa a realidade. A
participação ou apoio a governos de "esquerda" enfraquece os
processos radicais, reforça a posição da social-democracia e tem um impacto
negativo sobre os partidos comunistas.
Na Europa,
partidos de França e de Itália, com o título de partidos comunistas,
participaram em governos de "esquerda" e de
"centro-esquerda". A experiência é dolorosa. O movimento operário
recuou muitos anos, duras linhas políticas antipopulares foram implementadas,
esses governos participaram em intervenções imperialistas, o movimento
comunista foi acusado de responsabilidades nestas coisas e de falta de
fiabilidade.
Estas
"experiências" faliram e tornaram-se a ponte para o retorno de
governos conservadores, partidos de direita que utilizaram a decepção das
expectativas das pessoas, a fim de impor uma dura linha política antipopular. O
ponto de vista sobre o "progressismo", bem como a análise que embeleza
o caráter das uniões internacionais está integrado na lógica do chamado
"socialismo do século XXI", que está a ser utilizado para a tentativa
de manipulação dos povos (em especial) da América Latina. Este é um meio para
promover a posição oportunista sobre a "humanização" do capitalismo.
Diviniza o parlamentarismo e enfraquece a luta revolucionária. Tem tentado,
desde a sua aparição, caluniar o socialismo científico, a construção do
socialismo na União Soviética. A lógica utópica da democratização-transformação
do Estado burguês, do poder dos monopólios e da promoção da economia
capitalista "mista" é apresentada como um novo "modelo" do
socialismo. Eles apresentam uma mistura de movimentos com posições para a
gestão social-democrata e keynesiana do sistema como "sujeitos
revolucionários" no lugar da classe operária, a classe de vanguarda cuja
missão histórica é derrubar a exploração capitalista. Eles apresentam a solução
de partidos comunistas colaborando com a social-democracia (esquerda) em vez da
necessidade de uma política de aliança dos partidos comunistas, que contribuirão
para a concentração e preparação das forças da classe operária e populares,
numa direção anticapitalista e antimonopolista.
Caros camaradas,
O KKE luta
contra a NATO, a aliança político-militar que é a ala armada euroamericana do
imperialismo e é responsável por dezenas de intervenções, guerras, golpes. O
nosso partido luta pela saída da mesma, com o povo como dono do seu próprio
país. As posições que promovem a "dissolução" da NATO, quando estão
separadas da luta para a saída de cada país, enfraquecem a luta contra este
aparelho assassino. O KKE luta contra a UE, a união imperialista internacional
na Europa, com o objetivo da saída, com o poder e riqueza nas mãos do povo e do
desenvolvimento de relações mutuamente benéficas com outros estados e povos. O
nosso partido tem uma frente aberta contra as forças burguesas e oportunistas
que embelezam o papel da UE e o apoiam, como o Partido da Esquerda Europeia
(PEE). O problema não é apenas uma ou outra política antipopular da UE, mas a
sua essência de classe, como uma união dos monopólios contra os povos. Alguns
camaradas perguntam-nos porque é que o KKE deixou o "grupo de
esquerda" do GUE/NGL. Dizemos a estes camaradas que o CC do nosso partido
avaliou que este grupo foi transformado no grupo parlamentar do PEE, que apoia
a EU; as suas forças têm apoiado as intervenções imperialistas e as guerras,
por exemplo, na Líbia e na Síria. Partidos como o alemão Die Linke, o SYRIZA e
outros envolvidos no anticomunismo participam na ofensiva contra a União Soviética
e o seu percurso histórico e participaram em eventos que têm incendiado os
ataques contra Cuba. O KKE não está integrado em qualquer grupo político. O seu
grupo parlamentar na UE realiza atividade multifacetada dentro e fora do
parlamento da UE, tem feito um grande número de intervenções e está à
disposição de Partidos Comunistas e Operários. Aqueles que previram o
isolamento do KKE e o tentaram difamar também ficaram mal vistos neste
processo.
Caros camaradas,
Começou a
discussão sobre os BRICS e temos de responder a uma questão fundamental. Qual é
a base objetiva, os critérios que determinam o caráter dos BRICS, a cooperação
interestatal do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul? A evidência
demonstra que estes são Estados capitalistas, elos importantes na cadeia do
sistema imperialista, com fortes monopólios que controlam a economia.
Desigualdade e relações desiguais são as características básicas. A competição
dos BRICS, por exemplo com os EUA e a UE, é combinada com a concorrência entre
os BRICS eles próprios, pois, por exemplo, a política, economia, militarização
e outras potencialidades e objetivos da China são diferentes das dos outros
Estados. Até mesmo as forças que apoiam os BRICS estão preocupadas com o
abrandamento observado nas economias destes Estados, e este é apenas um aspeto
da evolução. Porque a eclosão da crise está em gestação, uma vez que está no ADN
do capitalismo.
Caros camaradas,
Começou a
discussão sobre o caráter e o papel das uniões internacionais na América
Latina. Por exemplo, sobre a "União de Nações Sul-Americanas"
(UNASUR), o "Mercado Comum do Sul" (Mercosul), a "Comunidade de
Estados da América Latina e do Caribe" (CELAC) ou de outras uniões.
A realidade
prova que estas são uniões de Estados capitalistas, independentemente do facto
de participarem Estados com governos que se dizem de "esquerda" e
independentemente da forma de gestão. A base destas uniões é constituída pelos
grandes grupos monopolistas e os seus interesses. Este é o ponto de partida
para as transações comerciais e financeiras que estão a ser promovidas para o
desenvolvimento das relações entre os Estados, bem como as relações com outros
países capitalistas ou uniões imperialistas. Ao mesmo tempo, a criação de uma
rede cada vez mais densa de grupos capitalistas internacionais numa região
fortalece os mecanismos de cooperação entre os Estados burgueses num processo
que no final funciona contra a luta popular. No âmbito do desenvolvimento
desigual e de relações interestatais desiguais, distingue-se o papel dominante
do Brasil e da Argentina, que estão a usar estas uniões para o maior avanço dos
interesses dos monopólios. As relações entre as uniões da América Latina, os
EUA e a UE são relações de concorrência sobre o controlo dos mercados, ao mesmo
tempo em que são relações de cooperação económica e política.
Alguns camaradas
estão a refletir sobre o caráter da "Aliança Bolivariana para os Povos de
Nossa América" (ALBA), em que Cuba participa. A nossa opinião é que o
elemento básico que determina o caráter da ALBA é que, como uma união
internacional onde prevalecem os Estados capitalistas, a participação de Cuba
não muda isso. Após a derrota do socialismo na União Soviética, a posição a
respeito de um "mundo multipolar" está a ser promovida como um
contrapeso aos EUA. Esta posição exalta os BRICS e outras uniões
interestaduais. Objetivamente, esta posição é baseada numa visão não classista
do caráter dos poderosos Estados capitalistas, velhos ou
"emergentes", onde os monopólios são dominantes. Estes Estados têm um
papel especial na exportação de capitais, procuram um papel de liderança na
região e, mais amplamente, possuem uma posição importante no sistema
imperialista. A abordagem a respeito de um "mundo multipolar", como
meio de garantir a paz e os interesses do povo, é uma ilusão. Em essência, este
ponto de vista trata o adversário como um aliado, aprisiona as forças populares
a escolher um imperialista ou uma união imperialista e prejudica o movimento
operário.
Caros
camaradas,
O KKE, desde o
primeiro momento da contrarrevolução, está a tentar contribuir com todas as
suas forças para o reagrupamento do movimento comunista, a sua unidade numa
base revolucionária e para a coordenação da sua luta. Agora, 20 anos depois da
contrarrevolução e das derrotas, a crise do Movimento Comunista continua.
Pontos de vista burgueses e oportunistas influenciam os partidos comunistas ou
são adotados por eles e, dessa forma, a crise está a ser reproduzida. Se não se
concretizar uma rutura, se a estratégia do movimento comunista não for ajustada
para a concentração e preparação das forças das classes operária e popular para
a luta, para derrubar o capitalismo, se a luta contra o oportunismo não for
reforçada e não for esclarecido que o socialismo é a única solução que pode satisfazer
as necessidades do povo, então a situação vai-se deteriorar nos próximos anos.
A lógica das especificidades nacionais constituiu o instrumento do
"eurocomunismo", a fim de negar as leis científicas da revolução e
construção socialistas e, hoje, o problema manifesta-se com os mesmos ou
similares argumentos. Naturalmente, cada partido comunista no seu país é
responsável por estudar o desenvolvimento do capitalismo e da estrutura social,
a fim de tomar as medidas necessárias, a fim de adaptar a sua estratégia e as
táticas ao desenvolvimento mais eficaz da luta de classes. Mas, isso é algo
bastante diferente de usar as "especificidades" para justificar a
substituição do caminho revolucionário pelo parlamentarismo, a desqualificação
do socialismo em mudanças governamentais para gerir a sociedade burguesa, como
fazem, por exemplo, o Fórum de São Paulo e outras forças. A construção do
socialismo é um processo unificado, que começa com a conquista do poder pela
classe trabalhadora, a fim de formar o novo modo de produção, o que vai
prevalecer com a completa abolição das relações capitalistas, as relações
laborais de capital-salário. A socialização dos meios de produção e a
planificação central são as leis da construção socialista, condições
necessárias para a satisfação das necessidades populares.
Caros camaradas,
As diferentes
abordagens sobre questões graves exigem discussão. Isso é inegável. No entanto,
ao mesmo tempo, somos obrigados a participar e a apoiar decididamente a luta da
classe operária, das camadas populares, dos jovens, e a utilizar todas as
possibilidades para coordenar a nossa atividade. Nesse sentido, propomos que
examinemos juntos ações comuns para os próximos tempos e, de entre elas,
chamamos a atenção para as seguintes:
• Apoio às lutas
da classe operária, pelos direitos laborais, sociais e democráticos dos
trabalhadores. Ações coordenadas para 1.º de maio. Promoção do 70.º aniversário
da FSM.
• Campanha
contra o anticomunismo a culminar em 9 de maio de 2015, dia da vitória
antifascista.
• Intensificação
da luta contra as ameaças imperialistas, intervenções e ocupação, campanha
contra a NATO etc.
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