Como está dito no texto do PCM "a história nos ensina como ao longo do século XX, nas ocasiões em que a classe operária adotou a 'unidade nacional', hipotecou a sua independência como classe subordinando-se aos interesses da burguesia, a qual aproveitou para maximizar os seus lucros e afirmar a sua dominação."
No Brasil sabemos bem os males que as teses de "unidade nacional" causaram à luta da classe operária e dos trabalhadores, nos colocando a reboque de uma pretensa burguesia "nacional" na luta contra o capital estrangeiro, o imperialismo etc. Hoje, essas teses, requentadas, são apresentadas novamente a partir da indicação aos trabalhadores brasileiros a apoiarem uma aliança com um pretenso setor "desenvolvimentista" do capital em contradição contra um suposto setor puramente "especulativo". Lenin já mostrava há mais de 100 anos que o capital financeiro é a fusão do capital bancário com o capital produtivo...
Já publicamos também em nosso blog uma aprofundada crítica a essa tese, exposta no livro O Anti-Dimitrov, do dirigente comunista português Francisco Martins Rodrigues, que pode ser acessada aqui.
Essa posição burguesa no seio da classe operária e dos trabalhadores enfraquece nossa capacidade e necessidade de organizar a resistência contra a ofensiva do capital monopolista (especulativo e produtivo), principalmente com o aprofundamento da crise do imperialismo. Lutar contra a ilusão burguesa da "unidade nacional", denunciando-a e expondo sua real intenção é parte do caminho necessário à luta e organização de nossa classe.
Cem Flores.
* * *
Contra o muro, contra o imperialismo…
Para confrontar a política imperialista de Trump: nem submissão, nem “unidade nacional”.
01/02/2017
Tal como
anunciou na sua campanha, o Presidente dos EEUU, Donald Trump, assinou uma
ordem executiva para a construção do muro na fronteira entre o seu país e o
nosso, com o propósito expresso de conter a migração de trabalhadores mexicanos
e de outras nacionalidades que nutrem a força de trabalho nos distintos ramos
da produção e os serviços nessa nação norte-americana.
Sem mediações
diplomáticas, Trump assegurou que a construção de tal muro -ao longo dos 3.185
quilómetros de fronteira– será paga pelo México, num custo que se avalia entre
os 15 e 20 bilhões de dólares. Condicionou a anunciada reunião com Enrique Peña
Nieto, Presidente do México, ao compromisso deste com tal pagamento.
Adicionalmente, o presidente norte-americano adota a medida de impor um imposto
de 20% aos produtos mexicanos que ingressam aos EUA para financiar a construção
do muro, o que conclui de fato com os acordos alfandegários incluídos no TLCAN,
que pretende revisar na procura de condições ainda mais vantajosas para os
monopólios que representa.
O Partido
Comunista do México condena a construção de tal muro fronteiriço e apresenta os
seus pontos de vista sobre a maneira que os trabalhadores devem confrontar a
agressividade imperialista, anti-operária, anti-imigrante e racista.
Em primeiro
lugar, é falso que os trabalhadores migrantes mexicanos, centro-americanos, latino-americanos,
haitianos ou de qualquer outra nacionalidade sejam responsáveis pela miséria e
as condições de vida paupérrimas da classe trabalhadora norte-americana. Este
argumento demagógico foi proferido já na Alemanha dos anos 30, contra os trabalhadores
de origem judia e do leste europeu, e atualmente se escuta na União Europeia contra
os trabalhadores migrantes de origem árabe e africana. O desemprego e a desvalorização
da força de trabalho são parte da natureza do capitalismo como modo de produção.
Com o racismo e os discursos reacionários, pretende-se distrair os
trabalhadores dos EUA das principais causas que estão na base dos seus
problemas, entre as que se destaca a crise de sobreprodução e sobreacumulação,
que iniciou em 2009 e tem o seu epicentro nos EUA, e que no seu oitavo ano
continua desvalorizando a força de trabalho, golpeando os direitos sociais e
laborais. A classe operária multinacional que conforma o proletariado norte-americano
é além disso tão explorada como a classe operária de outros países, com o objetivo
de ampliar os superlucros dos monopólios, e a relocalização da indústria que
devasta as outrora importantes cidades como Detroit, Cleveland, Pittsburg,
Minneapolis, tem como motivo fundamental a maximização do lucro dos monopólios
dos diferentes ramos da indústria.
É igualmente
falso que o ataque aos trabalhadores migrantes e as medidas protecionistas que
promove Trump vão pôr fim à crise da economia capitalista. O aprofundamento
desta crise está em curso e por consequência um maior ataque contra o conjunto
da classe operária e de todos os trabalhadores dos EUA, o que de imediato significará
brutais cortes aos serviços de saúde e ao chamado welfare, maiores cortes a orçamentos públicos para sustentar ganhos
de capital e resgate das indústrias em quebra.
O ataque
racista aos trabalhadores, intrínseco à dominação burguesa, amplia-se em tempos
de crise, e também deve incrementar-se a resposta classista. A única resposta à
crise capitalista -que já manifesta os limites históricos da propriedade
privada dos meios de produção e de troca- é lutar pela unidade da classe operária
e por suas reivindicações políticas, em primeiro lugar o poder operário e o
socialismo-comunismo; não há termos médios nem estações prévias e, quem diga
isso, na realidade estará procurando prolongar a agonia e, em consequência, as
calamidades que padecem cotidianamente a classe operária e a família
trabalhadora, assim como os setores populares e os povos do Mundo.
Não queremos
o muro fronteiriço, nem o muro de Israel contra o povo palestino, nem os campos
de concentração contra os migrantes africanos e árabes na UE, nem as abusivas
medidas racistas da polícia migratória mexicana contra os nossos irmãos
trabalhadores hondurenhos, salvadorenhos, guatemaltecos, haitianos. O
sofrimento do proletariado, que em muitos casos encontra a morte em mares e
desertos, leva-nos a formular que não é com nacionalismos nem com retórica
populista sobre a soberania nacional que se haverá de confrontar o
imperialismo, senão com o internacionalismo proletário.
Os
comunistas, sabendo que não é uma tarefa simples, fácil, nem instantânea,
trabalharemos pela unidade da classe operária do México e dos EUA, mas também
dos trabalhadores migrantes de outras nacionalidades contra os monopólios que
nos exploram e oprimem mancomunadamente.
A mão de
obra imigrante é e foi sempre um componente essencial da acumulação pois tanto
é maior a sobre-exploração como a extração de mais-valia derivada daquela.
Propalando o racismo contra os trabalhadores migrantes, a burguesia procura
antagonizar e criar conflitos entre os diversos setores da classe operária para
poder reduzir o valor da sua força de trabalho. Só a unidade dos trabalhadores,
reiteramos, abrirá um caminho certo, sem chauvinismos, sem nacionalismos.
A luta
contra Trump e o imperialismo norte-americano está ligada à luta contra os
monopólios e o capitalismo no México, por isso é falsa a velha fórmula burguesa
proclamada com veemência nos últimos dias: a “unidade nacional”.
A soberania
popular não está no interesse dos monopólios, pois a sua única pátria é o
lucro. Só quando o capitalismo for derrocado e se ache triunfante o poder operário,
os interesses soberanos sobre a energia, terras, indústria, recursos naturais,
mares, fronteiras, serão garantidos. Isto é possível no contexto da construção
do socialismo-comunismo no nosso país. Há condições que amadurecem para que
essa obra frutifique.
A história nos
ensina como ao longo do século XX, nas ocasiões em que a classe operária adotou
a “unidade nacional”, hipotecou a sua independência como classe subordinando-se
aos interesses da burguesia, a qual aproveitou para maximizar os seus lucros e
afirmar a sua dominação. Com a “unidade nacional”, assinaram-se uma e outra vez
pactos operário-patronais em que se desvalorizou a força de trabalho, aceitaram-se
sem reparo medidas de austeridade, restringiram-se liberdades e direitos
democráticos e laborais. Os pactos interclassistas sempre tem sido em prejuízo
dos trabalhadores; no México, afiançaram gestões populistas que avançaram na concentração
e centralização do capital e produziram um período de estabilização que
favoreceu à classe dominante.
A retórica
“anti-imperialista”, pragada de um discurso anti-norteamericano, disfarçou os
laços de interdependência que se teciam entre os monopólios de ambas nações, e
que se fortaleceram com a assinatura do TLCAN em 1994, tanto que a ideologia da
“unidade nacional” se arquivava para outros tempos.
Mas hoje a
classe dominante considerou útil desarquivar essa política de “unidade
nacional”, com vários objetivos, em primeiro lugar logrando a unidade da
própria burguesia e as suas expressões políticas, da direita e o liberalismo
até a social-democracia e a nova social-democracia.
No seu
discurso na Cidade Acuña, Coahuila, López Obrador apela imediatamente a cerrar
fileiras com Peña Nieto, esquecendo sem rubor que o considerava um presidente ilegítimo,
já que ele era, por suposto, o presidente legítimo do México. Nele apresentou uma
série de medidas que poucos dias após Enrique Peña Nieto adotou. Na mesma direção
alinharam-se rapidamente todas as câmaras patronais, os partidos registrados, o
poder legislativo, os meios de comunicação, os intelectuais orgânicos do
sistema. Em toda a classe dominante existe o consenso sobre a “unidade
nacional”, e o maior representante é Carlos Slim, cabeça de um dos monopólios
que mais superlucros obtém.
As medidas
que impulsionam são falsas saídas, placebos, palavrório, demagogia. Enganos, numa
palavra.
No meio
dessa febre de chauvinismo, os monopólios encontraram a forma de negociar com
Trump e o imperialismo novas regras que os favoreçam, acordos que se pode
prever terão um caráter secreto e de costas a ambos povos. Além disso, estão plainando
o caminho para que a gestão da nova social-democracia de MORENA e López Obrador,
ao que nestes dias se tem somado o monopólio de TV Azteca e o ex Secretário de
Governo Esteban Moctezuma, conquistem a Presidência em 2018.
Mas
inclusive por cima desses objetivos, está sobretudo atenuar a luta de classes
no nosso país -que se acentuou no início de 2017, após os efeitos da crise
capitalista que se recarga na economia popular, nos bolsos dos trabalhadores,
com o “gasolinazo”, a carestia, o
aumento selvagem dos custos dos produtos básicos, o transporte, os serviços-, e
as ondas de protestos, que embora espontâneas por agora, exprimem o potencial
de luta da classe operária e os setores populares contra o poder dos
monopólios.
O Partido
Comunista do México apela aos trabalhadores a não cair na armadilha da “unidade
nacional”, a não cair na lógica dos acordos interclassistas, nem na conciliação
de classes, e a intensificar a luta consequente contra o imperialismo que é em
primeiro lugar a luta contra os monopólios no México.
O Partido
Comunista do México apela à luta para romper com os acordos interestatais como
o TLCAN, e as novas formas que adquira depois das previsíveis modificações na
porta à sua arquitetura.
O Partido
Comunista do México apela à organização dos trabalhadores migrantes na
fronteira norte, além das fronteiras nas grandes cidades dos EUA, e também na
fronteira Sul do nosso país, onde os nossos irmãos proletários centro-americanos
sofrem da Polícia Migratória mexicana similares vexações às que se vivem por
parte da US Border Patrol.
O nosso apelo
é ao internacionalismo, não ao nacionalismo; o nosso apelo é a posições
classistas, não à “unidade nacional”. O nosso apelo é à unidade com os
trabalhadores norte-americanos, e não com os nossos carrascos, os nossos
exploradores que são a classe dos burgueses, cujas políticas de fome e
miséria forçam milhões de trabalhadores do nosso país a procurar na emigração
laboral melhores condições de vida; esses burgueses que constroem muros de exclusão
e injustiça social nas nossas cidades e povos, em volta das suas luxuosas zonas
residenciais e centros comerciais, enquanto a imensa maioria explorada sobrevive
com o indispensável.
Proletários de todos os
países, uni-vos!
Buró Político do Comité
Central
Partido Comunista do México
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