Temos claro que o principal problema do caminho revolucionário no
Brasil passa pela reconstrução do Partido do Proletariado, o instrumento
independente de luta da classe operária e do povo na revolução.
A defensiva na luta da classe operária hoje é, em grande medida,
resultado do fato de que há anos ela luta com a posição do inimigo no posto de
comando, ela luta, em sua quase totalidade, sob a direção de organizações com
posições burguesas (revisionistas, reformistas ou esquerdistas). Sua luta é
sempre dirigida no sentido de tentar dar uma solução ao capitalismo putrefato
em sua fase imperialista, e não em superá-lo revolucionariamente.
A crise que se abateu sobre o marxismo há vários anos, uma das
razões que nos levaram a construir esse blog, só será superada pela retomada
teórica e prática da posição proletária na luta de classes.
No documento de apresentação de nosso blog - Por que razão
discutir a crise do Marxismo? (http://cemflores.blogspot.com.br/p/por-que-razao-discutir-crise-do.html) já apontávamos essa
questão, conforme demonstram os trechos abaixo:
"A crise do
movimento comunista não pode ser somente o resultado dos erros cometidos pelos
partidos comunistas em sua prática na luta de classes, resultado de uma
conjuntura, nem da ação dos inimigos de sempre e, que desde sempre, se uniram
contra ele na luta de classes”
"O movimento
comunista não foi derrotado por seus inimigos de sempre. Fomos derrotados ao
não sermos capazes de desenvolver a teoria de forma a iluminar de maneira justa
nossa prática revolucionária.”
"A crise do
Marxismo é uma crise teórica e prática e a luta de classes nos coloca a urgência
de superá-la.”
Ainda nesse texto indicávamos uma proposta, um caminho ainda
inicial e geral para tentar superar essa crise:
"Trabalhar, para
retomar a teoria revolucionária como instrumento para a construção da
revolução, do socialismo e do comunismo. Perceber a imensa revolução teórica
representada pelo Marxismo. Não se trata mais, como diz Marx, de interpretar o
mundo de diversas maneiras, mas de transformá-lo. Tomar a teoria como arma
do proletariado na luta de classe, arma que possibilita a ele e demais classes
dominadas a ter uma prática revolucionária, elaborar a linha justa na luta de
classes.”
Em um de nossos documentos, que foi publicado no site Bandeira
Vermelha (https://bandeiravermelhablog1.wordpress.com/2017/04/09/convocatoria-para-a-reconstrucao-do-partido-revolucionario-do-proletariado-ou-para-ler-o-que-fazer-homenagem-aos-100-anos-de-sua-publicacao1/) afirmamos o que
consideramos as tarefas centrais fundamentais para a reconstrução do Partido
do Proletariado:
"– Retomar o
marxismo-leninismo no nível de desenvolvimento em que ele se encontra hoje;
– Reconstruir o Partido
Revolucionário, unidade indissolúvel da teoria e da prática marxistas;
– Aprofundar nossas
ligações com as massas dentro do princípio de que só as massas dirigidas pela
classe operária e seu partido, armado da teoria revolucionária, podem fazer a
revolução."
Esse mesmo site, importante espaço internacional de debate
comunista, em seu manifesto inicial afirma (https://bandeiravermelhablog1.wordpress.com/about/):
"Assim, do ponto de
vista estratégico, a tarefa principal que hoje se põe às/aos herdeir@s das
tradições comunistas é dar respostas convincentes para os fracassos
revolucionários; explicar por que razão os regimes saídos das insurreições
vitoriosas na Rússia e China degeneraram na dominação de uma nova casta que
exerceu a sua ditadura em nome do socialismo, para acabar rendida ao
capitalismo. Quais os limites materiais e subjectivos que determinaram estas
derrotas?
A busca dessas respostas
impõe a retomada e o desenvolvimento do marxismo, da teoria científica do
proletariado, aplicando-a concretamente à conjuntura atual. Essa tarefa só será
possível com a participação ativa d@s comunistas na luta da classe operária e
do conjunto do povo trabalhador. No momento atual de amplo domínio do
reformismo e do revisionismo e, portanto, da linha de colaboração de classes
(subordinação do proletariado à burguesia) nas lutas operárias e nas ditas
“organizações de esquerda”, nada nos parece mais importante que retomar o
princípio da independência da organização política do proletariado (a
reconstrução de seu Partido) e da hegemonia da classe operária na luta das
classes dominadas.”
É a partir dessas questões, e com a intenção de aprofundar o
debate entre nossos camaradas e com os comunistas e revolucionários
verdadeiramente interessados na reconstrução do Partido Comunista no Brasil,
que reproduzimos abaixo um capítulo do livro 2015 Situação & Perspectivas, do comunista francês Tom Thomas, recentemente publicado no
blog Cem Flores (http://cemflores.blogspot.com.br/2017/07/2015-situacao-perspectivas-tom-thomas.html), capítulo este
intitulado pelo autor Construir Um Novo Movimento Comunista.
Sobre a situação atual do movimento comunista Tom Thomas expressa
que é "pois particularmente confusa, indecisa. A extrema fraqueza do
movimento proletário é evidentemente também a dos comunistas. As duas vão
sempre a par.”
O autor indica uma proposta inicial aos comunistas hoje, conforme
indicam esses trechos selecionados:
"O primeiro passo
que têm a dar, sendo hoje tão pouco numerosos e tão dispersos, é unirem-se. Unirem-se
significa também delimitarem-se evitando essas duas escolhas bem conhecidas: o
sectarismo e o oportunismo. O que impõe unirem-se na base de uma análise
comum da situação contemporânea, a qual só pode ser feita, no estado de
fraqueza de hoje, nos seus traços gerais mais essenciais.”
"Este primeiro
passo não será o da criação dum partido comunista, o qual só pode emergir e
constituir-se em relação dialética com um movimento proletário decididamente
anticapitalista. Mas é uma preparação. É a atividade comunista possível na
situação de grande fraqueza como é hoje a dos comunistas, em transição entre um
antigo movimento comunista que degenerou por completo, e um novo movimento a
criar aplicando nomeadamente o princípio de construir o verdadeiro contra o
falso, a nova organização revolucionária contra a antiga reformista, a
independência e a força do proletariado contra a influência das ideologias e
das organizações burguesas no seu seio."
“Neste estado atual de
quase inexistência dos comunistas, a sua associação só pode no imediato fixar
um primeiro objetivo modesto: fazer-se compreender pelos proletários, criar
entre eles uma corrente de opinião, por muito fraca que seja para começar,
contra as falsas soluções estatistas.”
A real compreensão de um problema é o principal passo para sua
solução. Cresce, no movimento comunista brasileiro e internacional, a
compreensão de que é necessário compreender as causas internas que levaram à
crise que se abateu sobre o marxismo. A crise geral do imperialismo empurra a
classe operária e os verdadeiros comunistas a buscarem compreender as razões da
crise em nosso campo e encontrarem os caminhos para superá-la. O texto de Tom
Thomas, em nossa opinião, contribui para o enfrentamento dessa questão.
Indicamos fortemente seu estudo e debate.
* * *
Construir um novo movimento comunista
Tom Thomas
Eis uma tarefa que parece completamente utópica
quando se constata o estado de imensa fraqueza do movimento proletário e, um a
par do outro, dos comunistas desde há muito.
“Temos de cantar as revoluções de amanhã e não
as de ontem, às quais apenas devemos o respeito” (31). É isto que temos de
fazer também hoje, partindo da análise da situação específica do capitalismo
contemporâneo, em lugar de nos contentarmos de repetir incessantemente a
história das revoluções de ontem. Porque se efetivamente é devido o maior
respeito aos revolucionários do passado, as circunstâncias contemporâneas pouco
têm a ver com as da sua época em que as condições objetivas de um processo
revolucionário comunista estavam longe, muito longe de estar maduras.
Vimos, porém, que hoje estão maduras. A ponto de
vermos aparecer entre alguns intelectuais aqui e ali a ideia de que, sob o
efeito do desvanecimento do valor que referi anteriormente, o capital acabaria
de qualquer modo por desabar por si mesmo (32). Para alguns comunistas (33)
este desabar necessitaria, apesar de tudo, da intervenção de um ator, de um
sujeito revolucionário. Mas não o reconhecem senão na forma dum sujeito mítico:
proletários que não o seriam, ou seja, que não lutariam a partir daquilo que são,
mas a partir daquilo que já não são, como não-proletários. Porque, segundo
eles, enquanto proletários só poderiam ser agentes do capital, reproduzindo-o
sempre. O que representa apenas parte de uma realidade da qual não veem o
carácter contraditório, de modo que também não veem a revolução comunista como
um processo em que a abolição da condição de proletário é o fim e não o começo.
Assim, para A. Jappe (34) “a superação do
capitalismo não pode consistir no triunfo dum sujeito criado pelo próprio
capitalismo”. Para que exista um sujeito revolucionário “deveria primeiro
dar-se uma revolução antropológica”. Por outras palavras, o proletário teria de
ser um homem novo antes mesmo do processo revolucionário que cria essa
transformação (transformação recíproca dos homens e das relações sociais). Mas
geralmente, segundo Jappe, o capitalismo não cria “as bases daquilo que o vai
substituir”, mas apenas misérias, devastações e ruínas. O que “forçará a
humanidade a desembaraçar-se dele”. Aqui está um curioso sujeito revolucionário
que em todo o caso aparece: a humanidade. Mas não nos podemos desembaraçar do
capitalismo sem ao mesmo tempo o substituir por um outro sistema social, que
não cai do céu, que tem de ter fundamentos materiais. Sobre isso ficamos sem
saber nada — o que é lógico para quem não vê no que existe nenhuma base
objetiva para substituir o capitalismo. Conclusão: nada existiria hoje para nos
“desembaraçarmos” do capitalismo, a não ser a “humanidade” que terá de dar um
salto no vazio! A revolução é “um salto no desconhecido”.
Dizer que o proletário é um agente do capital
quando procura melhorar a sua condição no quadro da relação salarial, uma vez
que permanece dentro dessa relação que ele reproduz e em que se reproduz, é
querer arrombar uma porta aberta por Marx há muito tempo. Ficar por aí, é
esquecer que se o proletário procura evidentemente melhorar a sua existência na
situação concreta em que está (e reside aí, como disse, a sua tendência
espontânea para o reformismo), defronta-se mais cedo ou mais tarde na história
com o carácter fundamentalmente antagónico da sua relação com o capital. A qual
se manifesta regularmente pela degradação e não pela melhoria esperada:
despojamento acrescido, desemprego, miséria, repressão brutal das lutas, papel
de carne para canhão são as mais frequentes respostas que dão os capitalistas
às necessidades que os proletários exprimem enquanto tais. Por isso, muitos
proletários, mesmo se não constituíam a maioria, foram levados, a partir das
lutas pelas suas necessidades imediatas, a elevar o nível da luta ao ponto de
quererem eliminar os capitalistas, tomando consciência pela experiência e pela
reflexão de que não estão apenas em concorrência com o capital pela partilha
salários/lucros, mas num antagonismo irredutível que os opõe a ponto de o
capital na sua idade senil tender a nem sequer os poder manter no seu estado de
assalariados.
Jappe, e o movimento intelectual de que ele é um
rosto, têm razão na sua crítica ao antigo movimento operário reformista,
nomeadamente à sua fração dita comunista, dirigida pela 3.ª Internacional
estalinista. Esse movimento, com efeito, apenas considerava o proletário como
sujeito enquanto produtor dominado e explorado pelos proprietários dos meios de
produção. O futuro radioso que estes partidos ditos comunistas lhe prometiam,
segundo este modelo, consistia numa melhoria da sua condição material desde que
ele se sacrificasse de corpo e alma ao crescimento dum capitalismo de Estado
cuja dominação ele suportaria de fato (“os quadros decidem de tudo”, dizia
Estaline).
Estes intelectuais — e é por isso que falo deles
— têm o interesse de chamar a atenção para o fato de a finalidade da revolução
comunista ser a abolição do proletário, e, portanto, de se interrogarem sobre
os meios dessa abolição. Não ver nenhum desses meios no capitalismo é pretender
construir o processo comunista no vazio, fazer dele um ideal puramente teórico
e utópico. Mas ao menos isso obriga a lembrar que os meios materiais para
fundar esse processo que existem no capitalismo não são condições “já prontas”
desde o momento em que o proletariado tenha derrubado o Estado burguês e
abolido a propriedade privada jurídica e financeira nacionalizando os meios de
produção e de troca (contrariamente ao que Marx por vezes escreveu). Ora, esses
meios que permitem fundar o processo comunista existem, mas na condição de
serem transformados.
Mas esses intelectuais não têm razão em separar
completamente a luta “económica” (a luta salarial em sentido amplo) da luta
pelo comunismo. A primeira sendo para eles inteiramente o fruto do proletário
enquanto tal, agente do capital, uma vez que o reproduz; a segunda, do
proletário que, não se sabe por qual metamorfose, já não seria proletário.
Porque evidentemente os proletários, como toda a
gente, partem das suas necessidades imediatas e estas são variáveis segundo as
épocas e as situações. Pode ser a paz, o pão, a partilha das riquezas, as
condições de trabalho, o fim do desemprego e muitas outras coisas. É quando
eles compreendem, em certas situações, que têm de se apoderar do poder para dar
satisfação a essas necessidades que eles se formam em classe pelo facto de se
unirem contra o Estado burguês. Enquanto classe, compreendem que podem e devem
ser uma força independente. Com essa força que até aí ignoravam, elevam então o
nível das necessidades que querem satisfazer e tomam consciência de que
satisfazê-las é tomar posse dos meios materiais, intelectuais, sociais das suas
vidas. Emerge assim, com a constituição dos proletários em classe, a
consciência da necessidade e da possibilidade duma outra sociedade que
satisfaça as necessidades radicais até aí enterradas porque eram consideradas
utópicas sob a dominação da ideologia burguesa que não cessa de tonitroar sob
todas as formas — incluindo universitários e supostos cientistas — o acrónimo
thatcheriano TINA, There Is No Alternative ao capitalismo. Ele é “a realidade”
e é pura ignorância, pura loucura tentar negá-la opondo-se às exigências de
valorização do capital (do “crescimento”).
Ora, o que é historicamente novo na situação
contemporânea, para lá das múltiplas diferenças de país para país, é que, se os
proletários continuam obrigados a lutar para assegurar a sua sobrevivência
diária contra “as usurpações do capital”, como dizia Marx, essa luta esbarra
com a impossibilidade do capital se reproduzir sem ter de aumentar
terrivelmente essas usurpações, sem degradar sempre mais a situação dos
proletários. A luta reformista tradicional, tanto nas suas formas como nos
seus objetivos, hoje o mais que pode fazer é travar um pouco, e
momentaneamente, o desenvolvimento dessa pressão, mas não de lhe inverter a
tendência. Na época contemporânea, a da senilidade do capital, de duas uma: ou
as lutas proletárias fracassam quase inevitavelmente se permanecerem no
velho terreno reformista dum crescimento da acumulação do capital acompanhado
duma “justa partilha” das riquezas; ou, providas da experiência e da
compreensão das causas desses fracassos, as lutas se elevam ao nível de uma
luta de classe revolucionária contra o estado, esse organizador armado da
existência e da acumulação do capital, cada vez mais despótico e violento na
época da sua senilidade.
Marx e Engels previram, desde 1848, no Manifesto
do partido Comunista, que o capital chegaria um dia a um estádio de
desenvolvimento histórico em que “a burguesia não pode já reinar porque ela é
incapaz de assegurar a existência do seu escravo no quadro da sua escravatura”,
incapaz de assegurar a existência do proletário no quadro da relação salarial
(das relações de produção capitalistas em geral). Eis efetivamente que isso
mesmo está em vias de acontecer. Eis o Estado definitivamente impotente para subjugar
a crise e o crescimento da miséria social, que ele tem pelo contrário de
promover e organizar. Os seus lugares cimeiros são ocupados por diversas
frações burguesas, cliques e máfias tão cínicas como parasitárias e
corrompidas, dando todos os dias o espetáculo insolente da sua corrida às
prebendas mais gordas. Mas também, por tudo isso, cada vez mais desconsideradas
e vomitadas pelos povos. Como se elas retomassem a frase atribuída a Luís XV:
“Depois de mim, o dilúvio”. No que lhes diz respeito, mais acertado seria:
“comigo”.
Mas apesar deste descalabro, deste apodrecimento
do seu trono estatal, a burguesia ainda reina, e não hesita em recorrer mais
abertamente a meios ditatoriais. Isto, porque aqueles que ela esmaga estão em
completa desordem, a sua raiva e a sua cólera (deixemos de lado, por serem
insignificantes, os espíritos “indignados” ou “aterrados”) não têm saída, não
sendo capazes ainda de gerar a força organizada que permitiria transformá-las
em força, em classe capaz de acabar com aquele reino.
Os proletários, nos velhos países capitalistas
como a França, estão numa espécie de entreato.
Por um lado, na sua maioria, são
dominados ideologicamente pelos velhos fetichismos engendrados pelas relações
sociais em que se fundamenta o capitalismo. Não se trata de simples fantasmas —
esses fetichismos têm por base as aparências que tais relações assumem à
superfície. Aparências cujas raízes são ignoradas, mas que são, mesmo assim,
reais. Os intelectuais burgueses, eles próprios embebidos desses fetichismos,
tomam esses fenómenos aparentes por toda a realidade do capitalismo. Este real
truncado formaria segundo eles um sistema racional, respondendo nomeadamente a
“leis económicas” que eles conheceriam, e que não se poderiam infringir sem
consequências ruinosas para todos.
A propósito desses fetichismos, lembremos:
– O fetichismo da mercadoria, segundo o qual “a
economia” não seria política, não seria uma relação social de produção
historicamente específica, mas simples relações entre as coisas aparentes que
elas geram (mercadorias, capitais, preços, lucros, moeda, etc.). Simples
relações entre coisas e as suas quantidades, a economia poderia, portanto, ser
gerida cientificamente.
– O fetichismo do dinheiro (35), o cúmulo do fetichismo
como diz Marx, de acordo com o qual o dinheiro poderia criar riqueza como uma
pereira dá peras. É o que leva a criticar “a finança” não enquanto tal, mas
simplesmente pelos seus “excessos” que seriam prejudiciais ao crescimento. E
leva também a crer que, fornecendo dinheiro quase gratuitamente e em grandes
quantidades aos capitalistas (perdão, “às empresas”), estes poderiam relançar a
produção, o crescimento, quando não é o dinheiro que lhes falta, mas a
possibilidade de o transformar em meios de produzir mais-valia.
– O fetichismo do Estado, segundo o qual ele
representaria o interesse geral comum a todos e poderia, portanto, gerir a
economia de acordo com esse interesse, dado que ela seria relações entre
coisas.
Por outro lado, estes mesmos proletários têm
a experiência de que aquilo que os ligava ao reformismo, a melhoria do seu
nível de vida material, desaparece. Porque eles sofrem no dia-a-dia essa
realidade do capitalismo senil que consiste no fato de ele só poder sobreviver
por meio de uma degradação contínua das condições de existência dos
proletários. Toda a esperança — não já sequer de melhorar o nível de consumo,
mas mesmo de impedir a sua degradação, à maneira do velho movimento reformista
“de esquerda” — está votada ao fracasso (à parte possíveis sucessos localizados
e efémeros). Quando muito, os proletários só podem, por esse meio, abrandar
aquela degradação, obter por um momento o menos mau em vez do mau. E convém
incluir nesse menos mau o futuro próximo que não é tido em conta nas
consciências de hoje: um próximo crash mais destruidor que o de 2008,
desastres ecológicos acrescidos, subida dos extremismos burgueses, guerras,
etc.
A crise (o capitalismo senil) gera por todo o
lado uma instabilidade política e social crescente, recriminações, lutas de
classes, guerras civis. Mas, nomeadamente nos principais países europeus, a
maioria dos proletários encontra-se nesse entreato que acaba de ser evocado em
que reina a indecisão, a desordem, as frustrações que se traduzem por vezes,
aqui e ali, por bruscos acessos de cólera, tão violentos como efémeros,
revoltas sem saída. Entre muitos, a persistência dos fetichismos inerentes ao
capitalismo tende, com a crise, a empurrá-los para os extremismos burgueses
(36), como a FN [Frente Nacional] ou a FG [Frente de Esquerda] em França, ou
também os integrismos religiosos. A isto junta-se, como sempre nos períodos de
crises agudas, uma reação conservadora numa parte da população que se apega ao
passado de antes da crise, em que “se vivia melhor”. Este passado parece-lhe
melhor que o presente, e mais ainda que um futuro que surge confusamente cheio
de ameaças e de desordens assustadoras.
Pode admitir-se — persistindo estes fetichismos
assim ou assado, uma vez que são gerados pelas relações sociais capitalistas —
que os extremismos burgueses sejam a via escolhida pela maioria dos
proletários. Essa é uma possibilidade dramática. Mas estaríamos a negligenciar
os fatores que já permitem enfraquecer essa dominação ideológica, e que se
reforçam a par da crise. Os proletários aprendem, pela experiência, que o Estado
é incapaz de impedir que a crise se agrave, bem como impedir que se agravem as
condições de vida dos proletários, que ele tem pelo contrário de degradar para
manter a existência dessa sociedade fundada sobre a valorização do capital,
razão pela qual o Estado existe. A crise ensina muitas outras coisas ainda. De
modo que uma multiplicidade de fatos, ou antes de malfeitorias, trazem assim a
possibilidade de sapar a ideologia burguesa no movimento proletário. Foi este
género de situação, que torna o presente bem sombrio, que levou Marx a dizer em
1843: “Não se pode dizer que eu tenha em alta consideração o tempo presente, e
se apesar de tudo não desespero dele é porque a sua situação desesperada é
precisamente o que me enche de esperança”.(37)
A situação atual é, pois, particularmente
confusa, indecisa. A extrema fraqueza do movimento proletário é evidentemente
também a dos comunistas. As duas vão sempre a par. Os proletários conseguirão constituir-se
como classe unindo-se contra o Estado? Os comunistas saberão contribuir para
isso? Este é de qualquer modo o seu objetivo.
O primeiro passo que têm a dar, sendo hoje tão
pouco numerosos e tão dispersos, é unirem-se. Unirem-se significa também
delimitarem-se evitando essas duas escolhas bem conhecidas: o sectarismo e o
oportunismo. O que impõe unirem-se na base de uma análise comum da situação
contemporânea, a qual só pode ser feita, no estado de fraqueza de hoje, nos
seus traços gerais mais essenciais (mais tarde as análises e as propostas de
ação serão afinadas, juntamente com os debates, em função dos desenvolvimentos
concretos, práticos do movimento revolucionário). Esta primeira análise comum
mínima pode e deve compreender:
1.º As causas específicas da crise: esgotamento
dos ganhos de produtividade e do crescimento da extração de mais-valia na sua
forma relativa; declínio do valor.
2.º As consequências concretas que daí decorrem:
- No plano dos fatos objetivos: esgotamento definitivo do crescimento
capitalista. Para a sobrevivência do capitalismo, obrigação de um recurso
acentuado à extração de mais-valia na sua forma absoluta, a um agravamento
da destruição da natureza (38), à eliminação duma massa crescente de
proletários pela miséria, as doenças, as guerras.
- No plano da luta política, necessidade de uma oposição clara e
combativa aos extremismos burgueses de aparência radicalmente crítica do
capitalismo contemporâneo dito “liberal”, tipo FN ou FG (39); necessidade
de construção de uma organização independente dos partidários do comunismo
com vista a estimular e orientar a luta dos proletários visando a
destruição do Estado burguês, abrindo a via para uma abolição das classes
na base do aumento do tempo livre (“a abundância”) utilizado para abolir
as divisões sociais do trabalho capitalistas que originam essas classes,
ou seja generalizar o trabalho e as necessidades ricas para todos, o
domínio por todos das condições materiais, intelectuais e sociais da vida.
Este primeiro passo não será o da criação dum
partido comunista, o qual só pode emergir e constituir-se em relação dialética
com um movimento proletário decididamente anticapitalista. Mas é uma
preparação. É a atividade comunista possível na situação de grande fraqueza
como é hoje a dos comunistas, em transição entre um antigo movimento comunista
que degenerou por completo, e um novo movimento a criar aplicando nomeadamente
o princípio de construir o verdadeiro contra o falso, a nova organização
revolucionária contra a antiga reformista, a independência e a força do
proletariado contra a influência das ideologias e das organizações burguesas no
seu seio.
Neste estado atual de quase inexistência dos
comunistas, a sua associação só pode no imediato fixar um primeiro objetivo
modesto: fazer-se compreender pelos proletários, criar entre eles uma corrente
de opinião, por muito fraca que seja para começar, contra as falsas soluções
estatistas. Para isso precisam edificar um sistema mediático (teórico e
propagandístico) que seja ao mesmo tempo utensílio de intervenção junto dos
proletários mais interessados em elevar o nível das lutas, e utensílio de unificação
e de progressão política da associação através de debates e de experiências.
Os temas para começar esse trabalho não faltam,
evidentemente. Por exemplo:
Combater a ideologia dos reformistas de esquerda
segundo a qual a crise poderia ser resolvida no capitalismo pela redução das
desigualdades — efetivamente faraónicas — dos rendimentos e dos patrimónios, o
que permitiria, dizem, relançar o consumo e através disso os investimentos.
Na mesma ordem de ideias, combater a ideia falsa
de que é “a finança” que, captando e retendo a riqueza na sua esfera, é a única
responsável pelo bloqueio do crescimento e do emprego. Ou ainda que o emprego
poderia ser preservado por “acordos de competitividade”, que não passam de
escroquerias.
Duma maneira geral, combater a ideia de que a
crise poderia ser ultrapassada por meio de uma degradação, terrível mas
momentânea, das condições de vida dos proletários e das outras camadas
populares, ou por meio do Estado que poderia promover um “bom capitalismo”,
verde, justo, patriota, nacionalista, consoante os casos, pondo “a finança”
debaixo da sua bota ao serviço de todos, do “interesse geral”.
Uma tal luta contra esta ideologia burguesa
enganadora e corruptora deve ser ao mesmo tempo acompanhada de propostas
positivas. É a partir das lutas imediatas, das preocupações e necessidades que
elas expressam, que é preciso combater as falsas soluções sustentadas por essa
ideologia, ao mesmo tempo que se torna necessário mostrar quais seriam as
respostas adequadas a tais necessidades, as suas condições de realização, que
são igualmente as da sua necessária transformação em necessidades ricas.
A crítica comunista não tem por objeto dar
lições do alto duma qualquer cátedra “marxista”, mas responder a necessidades
concretas tal como se exprimem espontaneamente nas lutas. Não diz que essas
necessidades devem ser rejeitadas por serem as necessidades do proletariado tal
como ele hoje existe nas suas relações com o capital, as condições do
quotidiano reificado e alienado atual. Diz a “verdadeira palavra” dessas lutas,
isto é, que elas são as vias, os meios e as condições para satisfazer essas
necessidades(40), o que implica um processo no curso do qual eles se
transformam, e portanto no curso do qual os objetivos das lutas se transformam.
Este assunto da transformação das necessidades
no curso das lutas para as satisfazer merece uma atenção. Ilustrêmo-lo com uns
exemplos:
Dum modo geral, a satisfação das necessidades
mínimas do proletariado para viver implica hoje que ele tome o poder. Mas que
significa isto? Se isso começa pela destruição do Estado burguês e da propriedade
privada jurídica e financeira das condições da produção, isso conduz desde logo
à necessidade de ter o “verdadeiro” poder, isto é o poder sobre todos os meios
(materiais, intelectuais, sociais), em todos os domínios (produção, gestão do
território, urbanismo, alojamento, educação, demografia, etc.) da construção da
vida — por outras palavras, à necessidade de abolir a condição proletária. Mais
particularmente, as reivindicações de uma melhor partilha das receitas e dos
patrimónios colocam-se em primeiro plano diante de desigualdades que
ultrapassam a imaginação (41). A questão não tem a ver com a urgência evidente
de abolir estas desigualdades, ou pelo menos de as reduzir muito drasticamente,
mas com o facto de o capitalismo atual não o poder fazer. A sua sobrevivência,
pelo contrário, exige imperativamente que baixe continuamente o “custo do
trabalho” e a pauperização de uma massa crescente de trabalhadores precarizados
e de desempregados. Torna-se então evidente que essa necessidade de igualizar a
riqueza exige a apropriação dos meios que a produzem: é assim a necessidade da
posse desses meios, isto é, da abolição das classes, das divisões do trabalho
em que assentam as classes, que surge por detrás da necessidade de igualdade.
Tratar corretamente, ou seja, examinando-a até
ao fundo e sob todos os aspectos, esta questão da partilha das riquezas, da
equidade ou da igualdade dessa partilha, torna-se ainda mais importante quando
ela é exacerbada pela crise. É aliás uma reivindicação essencial do movimento
proletário desde as suas origens que o levou bastantes vezes a afrontar diretamente
a burguesia, primeiro no próprio seio das revoluções burguesas. Foi assim com a
luta dos “niveladores” na Inglaterra durante a guerra civil (1647-1649). Foi
assim com os “sans-culottes” igualitaristas durante a Revolução Francesa, como
os da secção do Jardin des Plantes que apresentou em 1793 à Convenção a
reivindicação “que o mesmo indivíduo só possa ter um máximo; que ninguém possa
ter mais terra que a necessária para um número determinados de charruas; que o
mesmo cidadão só possa ter uma oficina ou uma loja” (42). Babeuf prolonga a
reivindicação que, na sua obra famosa A Conspiração dos Iguais, propõe a
nacionalização da propriedade, que cada um trabalhe segundos os seus talentos,
e que os produtos de todos sejam postos em comum com vista a uma distribuição
igualitária. E a reivindicação prosseguirá e aperfeiçoar-se-á desde a Comuna de
Paris até à Revolução Cultural chinesa, que teve pelo menos o mérito de a
elevar até à questão radical da abolição da divisão capitalista do trabalho
entre “poderes intelectuais” e “executantes” dominados e desapossados.
Falando da “verdadeira palavra” dessas lutas,
Engels dizia já que por trás da luta pela igualdade estava a luta pela abolição
das classes dominadas e dominantes. E efetivamente, como vimos, a partilha das
riquezas foi muitas vezes uma reivindicação que conduziu uma parte mais ou
menos importante dos proletários a transformar as suas lutas por melhores
salários e condições de vida em lutas de classe contra classe. Todavia, mesmo
quando elas tomavam esse carácter revolucionário, continuavam a ser lutas da
época da dominação do trabalho obrigatório e repulsivo, em que, na melhor das
hipóteses, apenas se tratava de partilhar esse trabalho e os seus produtos —
“de cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo o seu trabalho” — e
não da sua abolição, pelo menos não antes de uma fase de desenvolvimento das
forças produtivas.
Hoje, pelo contrário, o que é característico é o
esgotamento dessa quantidade de trabalho compulsivo, proletário. Aquele que subsistir
após a revolução política será partilhado, como se disse, tal como as riquezas
correspondentes às novas necessidades produzidas em abundância por uma
maquinaria ultra-aperfeiçoada (e que poderá sê-lo ainda mais dado que os ganhos
de produtividade já não serão travados pela ditadura das taxas de lucro). O
tempo livre, como referido atrás, será o meio da apropriação por todos das
condições da produção, ou seja, da abolição da condição de proletário. O mesmo
é dizer que hoje, por detrás da luta pela partilha, pela igualdade, existe de
modo imediato a luta pelo tempo livre como tempo de luta por essa abolição (o
que não acontecia no tempo de Engels).
Dito isto, chega-se a um outro exemplo de
transformação das necessidades e objetivos no curso das lutas: a questão da
luta por mais trabalho, pelo emprego a todo o custo. Essa transformação está em
que o “verdadeiro sentido” da necessidade espontânea de mais trabalho pode e
deve dar lugar, pelo contrário, à afirmação da necessidade de menos trabalho, e
de um outro trabalho, um trabalho rico. Nas lutas pelo emprego os comunistas
não se contentam em opor-se aos acordos ditos de competitividade, às falsas
soluções nacionalistas, protecionistas, xenófobas, estatistas, avançadas pelos
diversos extremismos burgueses. Eles mostram que o capitalismo hoje já não pode
fazer mais do que destruir empregos degradando os que subsistem e arruinando o
planeta. Mais ainda, mostram que esse “verdadeiro sentido” da luta pelo emprego,
única, formidável, magnífica perspectiva, e única solução para salvar a
humanidade, tornada absolutamente necessária e completamente possível pelo
próprio estado do capitalismo contemporâneo.
Para os comunistas, trata-se de partir das
necessidades imediatas, urgentes, dos proletários, mas apontando como tarefa —
através da confrontação da experiência e da teoria, da ligação do particular
com o geral, das aparências com a raízes — contribuir para que essas lutas
avancem no caminho que conduz à abolição do proletariado por ele mesmo.
Popularizar, fazer compreender, organizar a luta por esse objetivo, significa
romper com o velho movimento operário reformista. Significa retomar a
proposição de Marx, de há cento e cinquenta anos, que as novas circunstâncias
permitem e forçam portanto imperativamente a colocar na ordem do dia do
movimento proletário: “Em vez da palavra de ordem conservadora: um salário
justo para um dia de trabalho justo, [os proletários] devem inscrever nas suas
bandeiras a palavra de ordem revolucionária: abolição do salariato”.(43)
Claro que um tal objetivo comunista pode parecer
utópico no estado de terrível fraqueza do movimento proletário de hoje, perdido
nessa situação de entre-cá-e-lá em que precisa de abandonar os hábitos do
passado e inventar um novo caminho que ainda não é perceptível. Mas, ao invés,
é realista considerar que o capitalismo senil gera e gerará cada vez mais as
circunstâncias que permitirão sair desse entre-cá-e-lá, porque o agravamento da
sua crise levá-lo-á a tomar medidas que suscitarão movimentos de revolta sempre
mais intensas e massivas. Mas serão estas radicais? É este o problema a
resolver. De fato, a passagem dos proletários para posições e atividades
revolucionárias não se faz automaticamente sob o simples efeito de condições
objetivas favoráveis. É por isso que é preciso um partido comunista, e, para
começar, a unidade, a associação dos comunistas numa base elementar e uma forma
flexível, como foi esboçado atrás.
Porque não imediatamente um partido comunista no
modelo bolchevique do passado, perguntam alguns, considerando-o imutável.
Porque:
1.º Um partido que não tenha, nas condições
atuais, quase nenhuma ligação com as massas proletárias, no seu seio, não
passaria de um grupúsculo ridículo autoproclamado, uma impostura.
2.º Para que essa ligação exista, é preciso
também que exista no proletariado uma necessidade correspondente, uma
necessidade de ultrapassar as tradicionais lutas salariais e pelo emprego, de
procurar e construir uma real alternativa que permita sair dos recuos e das
derrotas do período atual, que rompa portanto com os partidos e sindicatos do
sistema burguês. Sem a emergência e a afirmação de tais necessidades, as
propostas comunistas só encontrariam indiferença e hostilidade. (44)
3.º Enfim, e para resumir, que partido? Os do
passado que conseguiram avançar pelo caminho do comunismo antes de fracassarem
não são necessariamente um modelo. A organização comunista deve responder a uma
situação que hoje não é a mesma de ontem — ela modifica-se segundo as diferentes
etapas do processo revolucionário ou esclerosa-se. Essa organização não tem,
portanto, nada de imutável, sejam quais forem as circunstâncias, nem nos seus
objetivos estratégicos e táticos, nem nas suas formas, nem nos meios que ponha
em marcha.
Não se discute aqui, portanto a questão de criar
um partido porque ela não se coloca ainda. O que se coloca é preparar-lhe a
criação naquilo que dependa dos comunistas. Essa deveria ser a finalidade de
uma associação flexível dos comunistas que é preciso hoje criar. Ela deverá em
particular, para começar:
1.º Dotar-se dos meios — nomeadamente uma
revista teórica — para levar a cabo análises e debates de questões importantes
sobre as quais a unidade está por aperfeiçoar.
2.º Fornecer aos diferentes membros da associação,
mais ou menos dispersos e autónomos, uma base comum para as suas atividades.
3.º Organizar uma centralização das experiências
práticas a fim de delas tirar, em relação com a análise teórica e o seu
aperfeiçoamento, uma síntese que permita aperfeiçoar as atividades e a tática
da associação, alimentar o debate crítico, melhorar a ligação com os
proletários. Isto até ao momento em que os resultados obtidos sejam suficientemente
convincentes para se poder fundar um novo partido comunista segundo uma doutrina,
uma forma, objetivos determinados por todo o trabalho prévio.
Ao examinar as revoluções passadas, que acabaram
por fracassar, e depois a situação atual do capitalismo, vemos finalmente que
duas condições que Marx (45) colocava como conjuntamente necessárias ao sucesso
de um processo revolucionário comunista de abolição da condição de proletário
estão hoje reunidas, e não estavam antes. A saber:
1) O esgotamento da acumulação (do crescimento)
capitalista, que condena os proletários a enfrentar esse processo, ou a sofrer
uma descida aos infernos duma amplitude, duma violência destrutiva sem
precedentes.
2) A existência de condições materiais
indispensáveis ao seu sucesso.
Resta inventar e construir a força organizada
consciente “das condições, da marcha e dos fins gerais do movimento proletário”
(46), o partido comunista adequado a esta época nova.
Paris, Outubro 2014
NOTAS
(31) Gustave Lefrançais, dirigente da Comuna
de Paris, em Souvenir
dʼun révolucionaire. ed. La Fabrique. E também Lenine (O.c. T. 24,
pág. 135): “O principal erro que os revolucionários podem cometer é olhar para
trás para as revoluções do passado”.
(32) Ver por exemplo uma
predição deste tipo no muito mediatizado J.Rifkin, em La Nouvelle Société du coût
marginal zéro, ed. Les liens qui libèrent.
(33) Como, por exemplo, M.
Postone, R. Kurz, A. Jappe, para citar alguns desses teóricos.
(34) A. Jappe, Crédit à mort,
ed. Lignes, 2011.
(35) Cf. Crise 1, p. 49-74,
Crise 2, capítulo 3.
(36) Não se trata já,
nomeadamente com os grupos neofascistas como a FN, de um reformismo clássico.
As bases ideológicas assentam nos mesmos fetichismos, mas neste caso levados ao
extremo numa espécie de integrismo, bárbaro como todos os integrismos. Cf. T.
Thomas, La montée
des extrêmes, de la crise économique à la crise politique, ed. Jubarte,
2013.
(37) Carta de Marx a Ruge, em
K. Marx, F. Engels, Correspondance, ES, I, 296.
(38) Só para citar uma nota de
ordem geral, a ONG Global Footprint Network calculou que o consumo da
humanidade ultrapassa hoje em 50% as reservas de recursos renováveis
(biocapacidade do planeta). Ou seja, seriam precisas 1,5 Terras para satisfazer
um tal consumo. Excesso que, segundo essa ONG, poderia atingir 200% em consumo
energético e alimentar considerando um crescimento demográfico moderado.
(39) No momento em que se vê
que o Estado é obrigado a organizar a degradação contínua da situação dos
proletários para assegurar, como é sua função intrínseca, a existência do modo
de produção capitalista; no próprio momento, portanto, em que se torna
possível, e mais que nunca necessário, combater com fatos evidentes todas as
formas da ideologia burguesa assentes no fetichismo do Estado, os partidos do
extremismo estatal, que são, cada um a seu modo, a FN e a FG, lançam uma
ofensiva de propostas para reforçar esse Estado, pretendendo que com eles à
cabeça ele estaria ao serviço da Nação, do povo, do “as pessoas primeiro”, e
outras patetices. Quer dizer, eles defendem a respeito do capitalismo e do seu
Estado uma espécie de terapia agressiva em lugar de acabar com eles de vez.
(40) “Teoricamente, [os
comunistas] têm sobre o resto do proletariado a vantagem de uma inteligência
clara das condições, da marcha e dos fins gerais do movimento proletário.”
(Marx, Engels, Manifesto do
Partido comunista). Gustave Lefrançais, (obra citada) havia de constatar a
propósito dos Communards de 1871 que “o saber, a compreensão, não
estiveram, sem dúvida, à mesma altura das suas outras qualidades”.
(41) A ONG Oxfam calculou que
em 2014 as 85 pessoas mais ricas do planeta possuíam tanto como os 3,5 mil
milhões mais pobres, isto é, 1,7 biliões de dólares. Ou que o 1% dos mais ricos
detém metade da riqueza mundial. Seja qual for o rigor destes cálculos,
diversas fontes confirmam que a disparidade é absolutamente escandalosa. Mas se
se distribuíssem os 1,7 biliões entre esses pobres daria 486 dólares a cada um!
Uma tal medida por si só não melhoraria a situação. E tal não se repetiria.
(42) Citado em A. Soboul,
Paysans, Sans-Culottes et Jacobins, Paris, 1966.
(43) KM, Salário, Preço e
Lucro, 1865.
(44) É por faltarem tais
condições que em França, como na Europa, todas as tentativas para construir uma
organização comunista sobre os supostos escombros do reformismo após Maio-Junho
1968 — conduzidos embora por muitos militantes devotados, conquistados para o
comunismo, ativos entre a classe operária — fracassaram.
(45) “Uma formação social
nunca desaparece antes que estejam desenvolvidas todas as forças produtivas que
ela possa conter, nunca novas e superiores relações de produção substituem
aquelas antes que as condições de existência material dessas relações tenham
eclodido no próprio seio da velha sociedade”. KM, Contribuição para a crítica
da economia política (prefácio), ES p. 5.
(46) KM, FE, Manifesto do partido
comunista.
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