sábado, 26 de fevereiro de 2011

O caleidoscópio da ideologia dominante.

Retomamos o trabalho em nosso blog e sítio na internet que interrompemos por um breve período diante do acúmulo de tarefas em outras frentes com um texto de análise da conjuntura da luta de classes no Brasil, no início deste ano de 2011, e de crítica da linha de seguidismo da política da burguesia por parte dos partidos que se dizem da classe operária, resultado do domínio do revisionismo e reformismo sobre nossos auto-intitulados comunistas, por meio de uma crítica a um artigo de José Luis Fiori.
Decidimos também, ao lado de textos produzidos por nosso coletivo, publicar intervenções de companheiros, produto das discussões em nossos organismos, como forma de permitir que cem flores desabrochem e que assim possamos desenvolver o processo de aperfeiçoamento e retificação de nossas posições no ritmo que nos requer a luta de classes.
Conclamamos a que nossos camaradas contribuam com sua crítica, crítica necessária, para a conformação de uma linha de atuação justa para os que lutam pela libertação de nosso povo.

“... visto o principal objetivo do livro, hoje como ontem, consistir em mostrar, com a ajuda dos dados gerais, irrefutáveis, da estatística burguesa e das declarações dos homens de ciência burgueses de todos os países, um quadro de conjunto da economia mundial capitalista nas suas relações internacionais,... O movimento proletário revolucionário em geral e o movimento comunista em particular, que crescem em todo o mundo, não podem dispensar a análise e o desmascaramento dos erros teóricos do «kautskismo». Isto é tanto mais necessário quanto o pacifismo e a «democracia» em geral - que não têm as mínimas pretensões de marxismo, mas que, exatamente como Kautsky e C.ª, dissimulam a profundidade das contradições do imperialismo e a inelutabilidade da crise revolucionária que este engendra - são correntes que ainda se encontram extraordinariamente espalhadas em todo o mundo. A luta contra tais tendências é obrigatória para o partido do proletariado, que deve arrancar à burguesia os pequenos proprietários que ela engana e os milhões de trabalhadores cujas condições de vida são mais ou menos pequeno-burguesas.”Lenine. V. I. O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo. Prefácio às edições francesa e alemã. 6 de julho de 1920

O primeiro texto de retomada da discussão é de Leonardo Nino que poderá ser acessado "clickando" no título do texto abaixo:

Caleidoscópio de erros ou o “dernier cri” da ideologia dominante.

6 comentários:

Cem Flores disse...

Recebemos uma crítica de um camarada e resolvemos postá-la aqui. Como não pedimos autorização para este ato, omitimos seu nome e quaisquer referências que possam identificá-lo:
Leiam abaixo e debatam:

Companheiros,

bem organizado e elaborado o artigo de vcs. Faço entretanto algumas críticas.

A nossa classe não deve ter estimulada por parte dos revolucionários qualquer pauta burguesa. A começar pela questão nacional. Não interessa ficar discutindo os benefícios para a fração brasileira da nossa classe, o problema da ascensão do brasil ao nível de potência imperialista. Essa ascensão é fato. Precisamos é formar quadros revolucionários que apontem para a classe o q isso significa. É dizer, nenhum país do mundo é dos trabalhadores mas sim propriedade e organização das frações da burguesia. Os vendedores de força de trabalho devem se convencer (com a luta) da necessidade de luta por acordar a sua classe da passividade política que vem com essa ascensão. É dizer que capitalismo é desenvolvimento para o mercado, e não para os seres humanos, dizer que este desenvolvimento é inevitavelmente ligado à guerra. Dizer que essa crise NÃO é uma "terceira grande depressão" mas somente uma crise de reestruturação do capital. Há ainda muita carne humana por ser queimada sem resistência em nome do capital. Crises muito mais profundas estão no horizonte de médio-longo prazo (20-30 anos). E o pior, guerras mundiais também serão necessárias ao capitalismo neste horizonte.

Ou preparamos nossa classe para estar de pé e a postos quando a tempestade do imperialismo chegar ou seremos empurrados como uma boiada para a carnificina. É necessário o enraizamento de uma organização bolchevique no seio da nossa classe. Uma organização sem vínculos com partidos eleitorais, sem vínculos com empresas privadas e ou com o estado. Uma organização auto-financiada e portanto independente. Com militância viva nas ruas, nos bairros, nos locais de trabalho, universidades. E NÃO NOS FÓRUNS ESTÉREIS DA ESQUERDA!!! Não podemos aceitar a pauta da esquerda companheiros!!! Os nos convencemos da necessidade de levantar a cabeça e enraizar o marxismo como uma ferramenta para a compreensão da marcha do imperialismo, ou nossa classe continuará afogada com as ideologias nacionais, ecológicas, democráticas, racistas, elitistas, religiosas, etc.

Cem Flores disse...

Continuação...

Marxismo é ciência pois se debruça sobre a rede material de relações entre os seres humanos que é o modo de produção de uma sociedade. À época do imperialismo (fase do capitalismo em que o comércio de capitais supera o de mercadorias), devemos armar a classe com a arma mais elaborada que o proletariado já construiu, a dizer, o partido leninista. É o ponto mais alto de consciência da nossa classe pois foi o único que realmente organizou uma revolução, uma guerra de classes, com o proletariado enquanto classe dirigente. E o fez pois compreendeu acertadamente a necessidade de preparação longa e silenciosa da consciência nos momentos de passividade.

Companheiros, esqueçam a união soviética, a china de mao, cuba de che, ou qualquer outra bosta ... !!! A china nunca retornou ao capitalismo pois desde quando entrou, nunca mais saiu. O mesmo vale pra cuba, urss, coréia do norte, etc Nada disso foi comunismo e tampouco socialismo!! Olhem para o modo de produção. Era o trabalho assalariado que produzia tudo. A tal propriedade privada dos meios de produção, não se esqueçam, é apenas o ingrediente jurídico que garante a um conjunto de seres humanos (a burguesia) o direito de se ocupar exclusivamente da tarefa política de alocação e reprodução do valor social (de troca) no mercado, e se desocupar da própria produção de valor. Ora, é esse objetivo (político) de reprodução do valor que caracteriza a própria exploração pois pressupõe a desvalorização sistemática de todas as mercadorias que o compõem, entre as quais está a especial força de trabalho.

A revolução de 1917 foi a única que realmente se fundou sobre pilares os científicos da análise de classes. Infelizmente, ela foi derrotada (não é que ela teve erros, ou simplesmente não deu certo ... ela foi derrotada!) . E ela foi derrotada ainda na década de 20 tendo como ponto de inflexão a derrota da revolução na alemanha em 19. A revolução internacional foi uma experiência belíssima que devemos colocar enquanto referência do que fazer para a nossa classe. É mostrar que foi a experiência que conseguiu parar uma guerra mundial.

Precisamos é impor uma pauta de classe!! Para nós, que vivemos neste canto do planeta, a tarefa é fundar uma imprensa marxista periódica no brasil e na américa latina. Uma escola revolucionária autofinanciada, formando quadros para a nossa classe numa perspectiva revolucionária. Quadros que se formem na luta contra as ideologias. A dizer, no contato da organização com a classe, e não nos partidos, e assembléias dessa esquerda ridícula. Precisamos colocar a cara a tapa companheiros, sair à rua e difundir a perspectiva revolucionária para pessoas desconhecidas e não para os amigos. Precisamos fazer isso de forma organizada e sistemática. Com compromisso, metas, e tática dentro da estratégia revolucionária internacionalista. Precisamos afirmar nossos quadros enquanto referência para a classe e negar todos os quadros da burguesia. Todos os deputados, senadores, prefeitos, vereadores, toda a máquina do estado não funcionam para os trabalhadores e eles precisam saber disso!!

Por último reafirmo, ganhar na política é impor a sua pauta. Ou impomos uma pauta de classe ou o delírio coletivo que vêm com as ideologias continuará a embebedar o proletariado de todos os países. É uma pauta da esquerda, e portanto da burguesia, a discussão entre países dominados e dominantes. A pauta revolucionária é a subordinação que o capital exerce sobre cada ser humano na terra (na verdade até sobre a própria burguesia).


Já temos uma experiência muito consolidada em [****}. Quem quiser conhecer é só entrar em contato.


Saudações revolucionárias,


R. N.

Anônimo disse...

Ola,
primeiramente gostaria de louvar aos camaradas que escrevem no blog, sempre nos presenteando com textos primorosos que nos ajudam no entendimento do atual momento do capitalismo e principalmente aprofundam o estudo da a teoria marxista se tornando, portanto, uma importante arma de luta do povo explorado.

O que eu aqui escrevo gostaria que fosse lido muito mais a título de contribuição e até mesmo desabafo do que uma crítica propriamente dita.

Bom, comecei a ler recentemente uma dissertação chamada diversificação ou especialização: uma análise do processo de mudança estrutural da industria brasileira nas últimas décadas, publicada pelo BNDES ano passado.

O livro não traz nada demais, girando em torno da problemática:" diversificar a produção industrial ou especializá-la?", tratando tais movimentos como se fossem independentes, sem levar em conta que tanto um quanto outro podem ocorrer dependendo da necessidade que o capital apresenta dentro de determinada conjuntura.

Bom, apesar de não trazer nenhuma perspectiva revolucionária o livro traz uma vasta bibliografia sobre o tema e, lendo esses autores que eu não tenho a menor afinidade, deparei me com um tal de Prebisch, este faz a seguinte reflexão : a estrutura produtiva da periferia gera uma demanda por importações muito mais dinâmica do que o comportamento das exportações, levando a uma tendencia de desequilíbrio externo nesses países. A correção desse desequilíbrio provocaria, por sua vez, a obtenção de taxas mais baixas de crescimento econômico nessas economias."

Essa reflexão do economista citado me obrigou a ter que lidar com uma inquietação que nunca consegui sanar: o termo regressão, tão usada nos materiais.

Acho que a conjuntura é outra e, portanto, entendo a nova situação colonial que não é aquela do séc XVIII nem aquela do inicio do século passado, chamada de nova partilha.

Entretanto o termo regressão fica ainda muito nebuloso para mim, isto porque como bem dito no texto " o caleidoscópio da ideologia dominante" , não há nada de revolucionário em clamar pela diversificação ou aumento do parque industrial brasileiro, como ocorreu nos anos 50 ou nos anos 70, na época do milagre econômico, se não está se rompendo com a divisão internacional do trabalho,ou seja, é somente um discurso ideológico que travestido de um nacionalismo defende com unhas e garras a burguesia.

Além disso o que esse Prebisch diz é que mesmo com uma política de diversificação do parque industrial e aumento deste, ainda sim haveria um " desequilíbrio externo nesses países", ou seja, tal política não é sinonimo nem de independência externa como aponta o próprio blog, nem de desenvolvimento econômico ( peço perdão pelo uso de uma teoria não revolucionária, mas também serve para mostrar o quanto podemos estar caminhando em falso, já que ate mesmo este autor que pelo que me parece não tem nenhuma proximidade com a teoria marxista percebeu essa incongruência).
Resumindo, a minha questão é: por que ainda insistimos na palavra regressão se as décadas anteriores não apresentaram algum estado de melhora para a classe trabalhadora ??
Será que ainda acreditamos que tais décadas anteriores representaram um avanço para a classe explorada, quando na verdade foi somente uma época em que o capital se reproduzia ampliadamente de maneira mais eficaz, pelo menos aqui no Brasil, pela diversificação do parque industrial e pela montagem de uma cadeia completa sem representar de forma alguma uma independência econômica do nosso país?



Um fraterno abraço,
D. Toboso

Anônimo disse...

Olá aos companheiros do blog
Vou me referir a última postagem, que me parece questionar o sentido do termo “regressão”, na elaboração do conceito “regressão a uma situação colonial de novo tipo” exposta no blog no texto “Formação econômico-social brasileira:
regressão a uma situação colonial de novo tipo” em fevereiro de 2006. Penso eu, que a crítica (ou não entendimento) ao termo “regressão” deve-se a uma associação no sentido da palavra "regressão" com "regressivo". O sinômimo de "regressão" é retorno, portanto, o conceito "regressão a uma situação colonial..." refere-se, exclusivamente, a observação de "retorno" a uma situação colonial, processo que foi caracterizado com a quebra de cadeias produtivas, exportação de commodities e especulação financeira, etc.... Portanto, no meu entendimento, se olharmos desta forma não deixamos brechas para interpretações de que o processo de industrialização foi melhor e que agora estamos em uma situação pior, é simplesmente uma observação de "retorno" a condições anteriores (obviamente não iguais, por isso o termo de "novo tipo"). Quando se associa “regressão” com o termo "regressivo" aí dá-se brecha para interpretações nacionalistas, pois atribui-se uma qualidade melhor ao processo de industrialização. Para a classe operária não interessa os adjetivos aqui, pois estamos, tanto em um período como no outro, em situações de exploração, aliás, a julgar pelos índices de produtividade alcançadas no governo Lula, o termo “regressivo” é ainda mais prejudicial, pois hoje as exploração é muito maior que no período da industrialização, visto as tecnologias, métodos de gestão, intensidade do trabalho. Acho que esta confusão permeia o entendimento do conceito “regressão a uma situação colonial de novo tipo”, como um obstáculo ao seu desenvolvimento, pois a posição nacionalista é muito mais fácil de ser compreendida e divulgada, ou como foi colocado na resposta a R.N., o seguidismo a uma posição da “burguesia nacional” esteve (e ainda está) muito presente. Por isso a denúncia da regressão, por si, não adianta, temos que aprofundá-la, caracterizando melhor o período anterior a ela e mostrando que esta regressão foi a forma específica de reprodução do capital possível no jogo das contradições externas e internas a nossa formação econômico-social. Possível, aqui, no sentido de guiada para a busca da maior taxa de lucro... e o que nos interessa, no fundo, é a extinção destas relações de exploração
Saudações
Antônio

Rafael disse...

Ola companheiros,

Ao meu ver, nesta discussão há dois aspectos:

1) a exploração da classe operária. como se dá atualmente a exploração? Neste ponto temos todos os direitos para usar adjetivos de efeito para dizer quanto pior estão as coisas.

2) a divisão internacional do trabalho. aqui temos que demonstrar da forma mais objetiva possível como a divisão mudou pra continuar o imperialismo. daí eu entendo porque D. Toboso acha melhor deixar apenas "situação colonial de novo tipo", também poderia ser “nova posição do Brasil na economia mundial”...

Desta discussão, ao invés de discutir se há uma posição melhor que outra, se no passado o pais era menos ou mais colonial, precisamos denunciar que esta divisão está em plena crise, que o Brasil está totalmente atrelado a esta crise e investigar cada vez mais o que isto significa em termos de exploração.

Se o termo “regressão” é ambíguo, acho que ele tem que ser abandonado. É justamente a facilidade da interpretação nacionalista/desenvolvimentista, que nos obriga a não dar nenhuma margem para confusão.

Abraços.

Vantuir Negrão disse...

Camaradas,

Creio que quando escrevemos 'regressão a uma situação colonial de novo tipo' ficamos sempre muito impressionados com essa palavra 'regressão', e não nos damos conta do restante, 'situação
colonial de novo tipo'.

Isso expressa, em minha opinião, uma certa cegueira ideológica, bastante natural, de sair repetindo que o Brasil é um país independente, etc., quando isso é uma besteira: no período colonial 'antigo', as colônias eram dominadas de uma determinada forma, hoje, no 'novo' sistema colonial, o são de outra, e por aí vai... daí o espanto com a 'regressão'..., como se fosse retrocesso... É preciso reler a posição de Lenin em O Imperialismo, para ver que ele já dizia isso: as várias graduações de dominação, desde colônias 'típicas' sem Estado nacional próprio, passando por protetorados e outras coisas afins, até os 'estados (formalmente) independentes'...

Por outro lado, penso que praticamente todos os conceitos e noções do materialismo histórico têm uma característica comum: expressam uma contradição, uma unidade de contrários (que tal ditadura do proletariado, ou nova democracia, além, claro, da famosa tendência à queda da taxa de lucro...), são expressões de tendências que nunca se realizam plenamente, ou melhor, sua realização, se é que podemos falar assim, leva(ria) à superação da contradição.

Bem, eu creio que com a tal situação colonial de novo tipo não é diferente: ela simplesmente expressa o processo - naturalmente contraditório - por que passa a formação econômico-social brasileira nesta etapa do desenvolvimento capitalista.

Ou seja, o processo de 'regressão' nunca vai se completar! As alterações em cada formação econômico-social ocorrem conforme as 'necessidades' do capital (=da lei do valor e de seus desdobramentos), é claro, determinadas pelas contradições internas que cada formação econômico-social apresenta, estas sobredeterminadas pelas contradições do sistema imperialista.

Extrapolando, creio que podemos dizer que a 'regressão' é um processo que sempre aconteceu (mas nunca se 'completou' ou se completará, ou seja, trata-se de uma tendência, com vários fatores contrarrestantes), mas as formas com que ela se apresentou foram e são diferentes ao longo do processo. É como diz o trecho de Charles Betelheim transcrito no "Caleidoscópio", sobre a posição que um país dominado ocupa no sistema imperialista...

Em minha opinião, a regressão é... outro nome para a própria dominação/exploração capitalista!!! É o nome do lugar que ocupamos, é nosso 'lugar' no 'parqueamento' que cada reconfiguração da divisão internacional do trabalho do sistema imperialista determina às formações econômico-sociais.

Sempre fomos, em cada período histórico, uma 'colônia de algum tipo', mas nesta formulação o determinante é 'colônia'... afinal, o Brasil nunca foi país dominante. O capitalismo que por aqui se desenvolveu surgiu sob o imperialismo.

Mas a expressão 'de novo tipo', é uma formulação que está aí simplesmente para escancarar a insuficiência dessa análise, mas que, pelo menos, demarca com a colônia de 'velho' tipo.

Enfim, temos que aprofundar isso... sob pena de tomarmos uma coça da conjuntura... Nesse sentido, o "Caleidoscópio" cumpre um papel de estimular o debate.

Saudações socialistas,
Vantuir