Recebemos comentários acerca do artigo Sobre a Situação Atual da Luta de Classes na Venezuela publicado em 26 de março de 2014. O coletivo Cem Flores os considera
relevantes, dando importância em sua divulgação por concordar com os mesmos e para
estimular o debate acerca da posição.
Em 06 de abril
Caros
companheiros,
Gostaria
de fazer um comentário breve sobre a participação do imperialismo americano nessa
tentativa de golpe na Venezuela. Pode ser que em trinta anos, os EUA divulguem
o que estão tramando agora. Mas para bons entendedores, os sinais públicos já
devem bastar.
A
primeira ameaça assumida do governo americano veio do Secretário de Estado John
Kerry, que em meados de março ameaçou adotar "sanções" contra a
Venezuela. Além disso, segundo ele, os EUA estão preparados para "se
envolver de várias formas, com sanções ou de outra maneira"
(http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/03/140313_venezuela_sancoes_eua_lk.shtml).
Precisa ser mais explícito?
A
mesma matéria da BBC afirma que o Senado americano já está discutindo projeto
de lei para as sanções, além de destinar US$15 milhões para a oposição
venezuelana.
E
por falar em dinheiro, coisa que não falta ao imperialismo para financiar
golpes de estado pelo mundo afora, o imperialismo já colocou também o FMI no
jogo para financiar o pais, claro que assim que mudarem suas políticas... Para
o FMI seria "bem vinda a oportunidade de discutir os desenvolvimentos
econômicos e as prioridades de políticas com as autoridades venezuelanas ... o
FMI está preparado para assistir o governo" (http://www.imf.org/external/np/tr/2014/tr032714.htm).
Quando
se trata do imperialismo, caros camaradas, o buraco e bem mais embaixo. Como
bem dizia o Che, não podemos confiar nem mesmo um tiquinho assim. Nada!
No dia 07 de abril.
Camaradas,
Li
com atenção esse interessante artigo sobre a Venezuela que vocês publicaram. No
documento, vocês analisaram diversos pontos relevantes da luta de classes no
país: o imperialismo dos EUA, o golpismo da burguesia que sempre se beneficiou
com exclusividade dos recursos do petróleo, a mudança de enfoque dos governos
chavistas, aumentando a distribuição dessa renda aos mais pobres, o caráter
anti-imperialista do governo, etc.
Ao
mesmo tempo, vocês não deixaram de apontar seus limites: a ausência de mudanças
significativas na estrutura econômica do pais, ainda exclusivamente vinculada
ao petróleo, e a dependência que isso traz dos ciclos da economia internacional
(que define a atual crise econômica do país) e o próprio caráter de classe do
governo, que não é socialista, e sim busca confusamente seu caminho em uma
política capitalista, integrada ao mercado internacional, porém
anti-imperialista, anti-EUA.
No
entanto, ainda assim, vocês definem apoio ao governo Maduro, contra o
imperialismo e contra o golpismo da burguesia venezuelana. Eu acho essa postura
acertada. Na verdade, não me parece haver outra opção ao analisarmos a situação
concreta da luta de classes na Venezuela.
Gostaria,
apenas, de ressaltar duas coisas.
Primeiro,
o mais importante é perceber que a posição estratégica dos comunistas é a de
buscar construir seu trabalho junto à massa proletária do pais, junto às demais
classes dominadas e apresentar sua perspectiva socialista, de que a única
solução definitiva é a derrubada do regime do capital.
Segundo:
embora o apoio a Maduro, na situação atual seja indispensável, os comunistas
não podem se iludir com ele, não podem entregar toda a ação necessária ao
governo e ficar de espectadores, não podem deixar de fazer seu trabalho
cotidiano, militante, dentro de sua própria perspectiva estratégica. É com essa
organização e luta que os comunistas e o proletariado venezuelano podem barrar
o golpe e fazer avançar a luta de classes no país.
Sobre
os limites de Maduro, vou copiar em outro comentário suas mais recentes
entrevista e artigo.
Primeiro,
o artigo que Maduro publicou no New York Times, de acordo com a tradução do
Resistir (http://resistir.info/venezuela/artigo_nyt_02abr14.html). Noto, antes
de mais nada, que o Resistir trocou o título do texto. No original, o artigo
chama-se "Venezuela: a call for peace", algo como "Venezuela: um
chamado para a paz". No Resistir virou "Os 1% de privilegiados, com o
apoio dos EUA, querem derrubar o governo legal". Cada um pode tirar suas
próprias conclusões...
Obviamente,
o texto em um dos principais jornais dos EUA, alinhado com o Partido Democrata,
de Obama, é um aceno ao diálogo, à uma solução negociada com os EUA. Se, por um
lado, a OEA, com a participação americana, não tem tido voz na questão
venezuelana, sendo substituída pela Unasul, sem participação dos EUA, eis que
agora os EUA são reintroduzidos na questão pelo próprio governo bolivariano.
"Agora
é um momento para o diálogo e a diplomacia". "Também fizemos um apelo
público ao presidente Barack Obama, exprimindo nosso desejo de intercambiar
embaixadores novamente. Esperemos que a sua administração, tal como os
elementos menos radicais da oposição interna na Venezuela, responde de maneira
recíproca". (Maduro).
Eu
avalio que esse aceno não terá resultados concretos e acho que os próprios
bolivarianos também sabem disso. Pode ser uma tentativa de evitar que o governo
ou o Congresso americanos imponham sanções ao país. O artigo me parece, assim,
mais uma tentativa "diplomática", para não dizer que o governo não é
moderado, democrático, seguidor das regras do jogo institucional.
E
esse é o limite de Maduro que eu gostaria de destacar.
Se
é certo e necessário denunciar o golpismo da burguesia do país e do
imperialismo, apenas essa denúncia - de que se busca derrubar "ilegalmente"
o "governo democraticamente eleito", "legal",
"constitucional" - é insuficiente. Apenas denunciar ataques físicos,
ataque a "instituições públicas", uso de "bombas molotov e
pedras", "ações violentas" que causaram "milhares de
milhões de dólares de prejuízos" é por peso demais em ilusões jurídicas
(todos os termos entre aspas são do artigo de Maduro). Neste texto e no
próximo, não há chamados aos trabalhadores, ao povo, para que saiam às ruas,
para que defendam "seu" governo.
O
chamado à paz (e a ação dos aparelhos repressivos de estado) podem até evitar o
golpe, mas não farão avançar a consciência e a organização das massas. Claro
que isso é o papel do Partido Comunista, não do governo bolivariano, mas não
deixa de ser relevante notar esse limite em Maduro.
O
segundo texto é uma entrevista publicada na Folha de São Paulo (íntegra
disponível em http://www.defesanet.com.br/al/noticia/14784/MADURO---Extrema-direita-provoca-o-caos-para-derrubar-o-governo/).
Nessa entrevista, Maduro segue o roteiro de "defesa da democracia",
do "governo constitucional", contra a "violência de rua",
contra "o caos e a ingovernabilidade" (de novo, todos os termos entre
aspas são de Maduro). Duas frases, no entanto, são muito significativas:
"Todos
os países têm problemas, que surgem por uma conjuntura, por causas naturais,
sociais ou por políticas equivocadas. E isso justifica a violência, derrubar
governos legítimos e democráticos no mundo? Não".
"Para
isso há democracia. Para que as pessoas saiam, digam o que querem, o que
sentem, e para que os governantes façam o que têm que fazer para resolver os
problemas".
Ressalto
que tanto o artigo quanto a entrevista podem ser apenas o discurso "para
fora" do governo Maduro, para ganhar aliados ou tentar paralisar inimigos.
Essa atividade diplomática pode ser importante para a Venezuela. Não podemos
ser esquerdistas e não considerar isso uma possibilidade.
Mesmo
com essa ressalva, as frases parecem revelar outros aspectos importantes da
política de Maduro e de sua forma de enfrentar a crise atual. De uma certa
forma, a primeira frase parece vir de um governo acuado, isolado, sem
capacidade de levar a luta de classes na Venezuela adiante. Já a segunda expõe
uma visão burocrática, meramente institucional do processo bolivariano,
igualando-o a qualquer governo em qualquer canto do mundo. Ao povo não cabe
agir, ser protagonista, mas apenas pedir ao governo...
Devemos
seguir acompanhando com atenção a evolução da luta de classes na Venezuela,
discuti-la com todos os companheiros, e aprender as suas lições.
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