A crise econômica brasileira se agrava em 2014[1],
com o país atravessando uma nova recessão, especialmente a atividade
industrial. Os trabalhadores veem seus salários comidos pela inflação, seus
empregos em risco com os lay-offs e as
demissões, e suas conquistas ameaçadas pelo ajuste fiscal que se avizinha e por
novas “reformas”. As ruas têm tudo para fervilhar em 2015...
Com esse cenário desenhado, Lula, Dilma e o PT viram
sua condição de melhores gestores do aparelho de estado capitalista no Brasil ameaçada
nas últimas eleições, realizadas nesse ambiente de recessão em agravamento,
além da revelação de mais um multibilionário esgoto petista, desta vez na
Petrobrás[2].
Diferentemente das outras três eleições ganhas pelo PT, desta vez houve ampliação
das alianças opositoras ao governo, reforçando posições à direita
(especialmente nos novos parlamentares eleitos ao Congresso Nacional), e a
eleição presidencial terminou com estreita margem de 3,3%, a menor dentre as
vencidas pelo PT[3].
Ganhas as eleições, a presidente reeleita não tardou para
sinalizar a disposição de cumprir integralmente seus principais compromissos assumidos
com seus mais importantes eleitores: as grandes empresas que financiaram sua
milionária campanha de (declarados) R$ 350 milhões[4].
Já na noite seguinte à votação, Dilma bateu ponto no Jornal
Nacional da Rede Globo para explicitar esses eleitores:
"Externei ontem [domingo,
26] que não ia esperar a conclusão do
primeiro mandato para iniciar todas as ações no sentido de transformar e
melhorar o crescimento da nossa economia. Eu
vou abrir o diálogo com todos os segmentos. Quero dialogar com setores
empresariais, financeiro, com o mercado, para discutir quais são os caminhos do Brasil. Pretendo colocar
de forma muito clara as medidas que vou tomar". (negritos nossos. http://cemflores.blogspot.com.br/2014/10/caiu-mascara-de-dilma-rousseff-do-pt.html).
Como isso ainda era pouco, na entrevista concedida aos
principais jornais da imprensa burguesa em 6 de novembro, Dilma foi ainda mais
explícita quanto às próximas medidas a serem implementadas:
“Nós
vamos ter de fazer nosso dever de casa. Nós vamos ter de fazer aqui: apertar
o controle da inflação, vamos ter limites
dados pela nossa restrição fiscal para fazer toda uma política anticíclica
que poderia ser necessária agora, mas vão ter limites”. (negritos nossos. http://oglobo.globo.com/brasil/confira-ponto-ponto-entrevista-completa-da-presidente-dilma-14493604).
Meras declarações da presidente, no entanto, não
bastavam. Os patrões, insaciáveis, exigiam a comprovação do prometido, mediante
imediata apresentação de programa e medidas do novo mandato, bem como da equipe
a implementá-las[5].
Lula então decidiu que acabara a hora dos amadores, era preciso ceder a vez,
novamente, aos profissionais. Iniciou-se a montagem da equipe econômica do
segundo mandato de Dilma, definição que estava no centro das demandas das
classes dominantes nacionais. Começou uma verdadeira caçada de Lula e Dilma aos
banqueiros.
1º Banqueiro:
Volta, Meirelles!
Tão logo apuradas as urnas, começaram a surgir os
primeiros nomes de ministeriáveis da nova equipe econômica de Dilma. Lula
coloca como sua primeira opção, destinada a assegurar a “confiança” (palavra
politicamente correta para submissão) do mercado financeiro, seu banqueiro
predileto, ex-presidente mundial do BankBoston, eleito deputado federal em 2002
pelo PDSB de Goiás, e Presidente do Banco Central durante seus oito anos:
Henrique Meirelles (http://oglobo.globo.com/economia/henrique-meirelles-o-favorito-para-assumir-ministerio-da-fazenda-em-2015-diz-agencia-14539638;
http://www.cartacapital.com.br/politica/meirelles-o-plano-b-de-dilma-para-a-fazenda-8970.html).
Tudo indica que a indicação de Lula foi para valer,
podendo, no entanto, ter sido também um balão de ensaio para testar a
resistência (do governo? Do PT? Dos “movimentos sociais” ligados ao PT ou do
sindicalismo pelego?) à perspectiva de colocar um banqueiro no principal cargo
do novo governo.
As reações foram tímidas. Um artigo do André Singer,
na Folha de São Paulo; editoriais na Carta Capital[6];
um mínimo burburinho nas bases petistas; e quase nada mais que isso. A porteira
estava aberta.
O goiano Meirelles, confortavelmente instalado na
presidência do conselho consultivo da J&F (http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1012/noticias/o-preco-de-henrique-meirelles) – holding que controla o JBS, que nasceu
frigorífico e hoje é, na verdade, uma empresa monopolista transnacional, com
tentáculos em mais de uma dezena de países, e faturamento estimado em R$ 65
bilhões anuais; além de diversas outras empresas, incluindo um banco (http://www.bancooriginal.com.br/site/Sobre-o-Grupo-J-e-F.aspx), e que
foi o principal financiador das campanhas eleitorais de 2014 (http://www.ihu.unisinos.br/noticias/537173-jaf-elegeu-a-maior-bancada-da-camara) – por lá
mesmo ficou.
2º
Banqueiro: Chega de Intermediários, Presidente do Bradesco para Ministro da
Fazenda!
Pacificada a “resistência” e aceita a premissa de ter
um banqueiro no posto de comando da economia brasileira, a verdadeira cartada
Lula-Dilma veio então a público. Em reunião no dia 18 de novembro, na Granja do
Torto, Lula e Dilma concordaram com a nova carta no baralho da sucessão
ministerial: Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/11/1550364-lula-e-dilma-avaliam-nomes-para-fazenda-em-brasilia.shtml).
Nessa altura, o “ajuste” econômico já havia sido
iniciado, com o primeiro aumento de juros pelo Banco Central, enquanto a
(velha) equipe da Fazenda, de Guido Mantega, se desincumbia da encomenda de preparar
um novo (e duro) pacote fiscal (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/11/1550833-governo-prepara-pacote-fiscal-para-tentar-conseguir-superavit-em-2015.shtml).
Nada mais natural, do ponto de vista dos gestores do
aparelho de estado capitalista! Se era necessário recuperar a “confiança” dos
empresários, dar satisfação às agências de rating
do capital financeiro internacional, indicar claramente o caminho da economia a
partir de 2015, nada melhor que instalar de vez o principal representante[7]
do capital financeiro nacional no simbólico cargo de Ministro da Fazenda.
No
mesmo dia da reunião com Lula (quando se trata de vassalagem, é melhor não
perder tempo...), Dilma foi ao presidente do Conselho de Administração e
patriarca do Bradesco, o octogenário Lázaro Brandão, pedir a mão, quer dizer, sua
licença para a nomeação do seu funcionário Trabuco (http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,trabuco-alega-compromissos-com-bradesco-para-recusar-convite-para-a-fazenda,1595695;
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/11/1550945-presidente-do-bradesco-nao-deve-aceitar-convite-para-a-fazenda.shtml).
O discurso petista já estava pronto para recepcionar
euforicamente o banqueiro. Definitivamente incorporado ao anedotário político
nacional, como prova adicional do contorcionismo servil petista, está a
justificativa do Presidente do PT, Rui Falcão: “Ele não é banqueiro, é bancário, funcionário” (http://g1.globo.com/politica/blog/cristiana-lobo/post/tombini-segue-no-bc.html)[8].
Com a palavra a categoria dos bancários no Brasil inteiro, que sofre com a
exploração do Bradesco de Brandão e Trabuco (bem como dos outros bancos) e luta
contra essa exploração!
Satisfeito com essa demonstração explícita de vassalagem
e subserviência, e tendo claramente demonstrado quem é que manda, Brandão
recusou. Disse que Trabuco seria seu sucessor (em 2017!) e que o Bradesco era
mais importante. E pronto.
Mais ainda restava um último ato dessa busca
incansável do PT por um banqueiro para chamar de seu.
3º
Banqueiro: Brandão e Trabuco Nomeiam Levy
Tal qual o pastor de Camões, Labão, que sabedor do
desejo de Jacó por Raquel lhe deu Lia, garantindo deste mais sete anos de
serviço, Lázaro Brandão não se contentou em não ceder Trabuco. Ele ainda
determinou qual funcionário do Bradesco seria cedido ao governo para ocupar o
Ministério da Fazenda. A escolha de Brandão e Trabuco recaiu sobre Joaquim Levy,
então Diretor-Superintendente do Bradesco Asset
Management, salário anual de R$ 1 milhão, podendo chegar a R$ 3 milhões com
os “bônus” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/197403-joaquim-maos-de-tesoura.shtml)[9].
Nesse momento, as primeiras medidas do futuro pacote
fiscal já começavam a aparecer: “corte de
despesas com seguro-desemprego, pensões por morte e abono salarial” (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/11/1551935-nova-equipe-economica-deve-anunciar-medidas-logo-ao-assumir.shtml). Dilma,
no entanto, teve que adiá-las, pois o novo ministro as considerou “insuficientes”, e “decidiu que vai ‘encorpar’ o pacote”, com “corte de despesas” e “bloqueio ‘significativo’ de gastos no
Orçamento” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/197392-dilma-adia-anuncio-de-medidas-fiscais.shtml).
Levy transmutou-se, então, em unanimidade, tanto para a
imprensa burguesa quanto para governistas em geral. Era o homem certo, no lugar
certo. Quiçá um salvador da pátria. De repente, parecia que a Universidade de
Chicago, onde concluiu seu doutorado, não era mais o templo das “expectativas
racionais” e do liberalismo puro e duro. O FMI, onde trabalhou quase uma
década, de fazedor de “ajustes” recessivos nos países dominados, passou a parecer
uma entidade neutra, onde se adquire experiência “técnica”. Ter sido aluno de
Armínio Fraga, e permanecer seu colaborador até hoje a ponto de ter dado
sugestões à campanha de Aécio, então, sumiu das lembranças (http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Joaquim-Levy-danca-conforme-a-valsa-/4/32301). Ser
sócio-fundador de instituto de pensamento “liberal” paulista[10]
foi prontamente esquecido. O próprio PT também “esqueceu” o apelido que colocou
quando ele foi o Secretário do Tesouro Nacional no primeiro mandato de Lula:
“Joaquim Mãos de Tesoura”.
Numa emulação pusilânime, os parlamentares petistas
puseram-se a enaltecer o seu banqueiro. Para o líder do PT, Humberto Costa,
Levy “será o guardião do modelo de
desenvolvimento”. Para superar o colega, o petista Jorge Viana teve que ir
além: “O Joaquim Levy é mais completo:
não é banqueiro, é do mundo da economia e tem contato com a vida real” (http://oglobo.globo.com/brasil/lider-do-pt-sai-em-defesa-de-joaquim-levy-na-fazenda-para-evitar-fritura-antecipada-14647766)[11].
E o que dizer quando as semelhanças entre a revista
semanal das Organizações Globo e a revista de um site petista são tantas que elas até mesmo convergem para a mesma capa?
Revista Brasil 247: “Deixem Joaquim Levy
Trabalhar” (http://www.brasil247.com/pt/247/revistabrasil247/?tpl=32). Época: “Deixem o Homem Trabalhar” (http://editoraglobo.adobe.globo.com/adobe/revista-digital/epoca/).
E o futuro Ministro Levy não decepcionou seus patrões
(os do Bradesco, é claro). Já no seu primeiro discurso como ministro indicado,
em 27 de novembro (no qual não agradeceu à indicação da Presidente), já disse a
que veio, aumentando as metas do superávit primário em R$60 bilhões por ano até
2017, como “objetivo imediato do governo”.
Outros objetivos são “aumentar a nossa
produtividade”, a “concorrência, o
empreendedorismo e a inovação”, a “efetivação
de uma ‘agenda micro’”, ampliar “as
concessões de infraestrutura”, e “o
mercado de capitais” (http://www2.planalto.gov.br/acompanhe-o-planalto/notas-oficiais/notas-oficiais/nota-a-imprensa-declaracao-a-imprensa-de-joaquim-levy-indicado-a-ministro-da-fazenda).
Se essas medidas já foram anunciadas antes mesmo da
posse, não é preciso grande esforço para imaginar o que virá depois, em 2015.
2015: Ano
de Crise Econômica e de Lutas da Classe Operária!
“O ‘debate’ eleitoral passou ao largo das
verdadeiras medidas econômicas e sociais que estão em discussão e deverão ser
tomadas pelo governo a partir de 2015, seja ele qual for. Na verdade, não se discute se haverá ou não um ajuste recessivo,
anti-trabalhador, mas ‘apenas’ como este ‘ajuste’ será operacionalizado,
concretizado. ... Além disso, a
convergência entre o programa dos dois candidatos pode chegar inclusive ao
detalhamento das medidas de ‘ajuste’” (negritos nossos. http://cemflores.blogspot.com.br/2014/10/dilma-ou-aecio-direito-de-resposta-uma.html).
Quando
escrevemos o texto acima, em 24 de outubro, o que não sabíamos era que a
mencionada convergência incluía a nomeação de um banqueiro, aliado de Armínio
Fraga, para o Ministério. Mas não podemos dizer que tenha sido uma surpresa...
Ao contrário, já naquele momento denunciamos o posicionamento daqueles que
insistiam na defesa de posições como a de que o governo Dilma estava em
“disputa” ou que seria “progressista”, “popular”, “de esquerda” ou como as
ilusões reformistas queiram chamar. Criticávamos
aquelas posturas, pois tínhamos absolutamente claro que elas contribuíam (e
contribuem ainda) para confundir e paralisar a classe operária e as demais
classes dominadas, ajudando os seus exploradores.
Variações
dessas posições reformistas surgiram, entre outros, em dois manifestos
divulgados no mês de novembro, contrários às anunciadas definições de política
econômica para o segundo mandato de Dilma. “Economistas pelo desenvolvimento
e pela inclusão social” (http://www.cartacapital.com.br/economia/economistas-fazem-manifesto-pelo-desenvolvimento-com-inclusao-social-no-brasil-6257.html), do início do mês, e “Em Defesa do Programa Vitorioso nas Urnas”
(http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Em-defesa-do-programa-vitorioso-nas-urnas/4/32296), do final. Em comum, esses
manifestos idealizam a passada campanha eleitoral, colocando a candidatura
vitoriosa como fruto da mobilização de “partidos e movimentos sociais favoráveis à participação popular nas
decisões políticas, à soberania nacional e ao desenvolvimento econômico com
redistribuição de renda e inclusão social”. Atribuir a isso qualquer papel significativo na
campanha é fruto de imaginação delirante, de desejos dos seus autores, sem ter
qualquer similitude com a realidade concreta que todos nós vivemos.
Ao
caracterizar a posição perdedora das últimas eleições – “o jogral dos porta-vozes do mercado
financeiro” – o que
descrevem é, sem tirar nem por, os anúncios do novo governo Dilma: “austeridade
fiscal e monetária, exigindo juros mais altos e maior destinação de impostos
para o pagamento da dívida pública” e o “mergulho
na recessão para facilitar o corte de salários, gastos sociais e direitos
adquiridos”. A
forçosa conclusão, que seus compromissos ideológicos com o reformismo não
permitem chegar, é que o governo Dilma será indistinto de um imaginário governo
Aécio. QED: como queríamos demonstrar[12].
E a
própria Dilma não se cansa de provar isso, repetidamente. Apenas para citarmos
a última ocasião, no começo de dezembro, temos, nada mais nada menos, que a
carta enviada ao Brazil Opportunities
Conference, evento promovido – surpresa! – pelo banco JP Morgan, nas lides
do imperialismo desde a época de Lênin. Na carta, Dilma define como “nossa prioridade” o “controle rigoroso da inflação e o
fortalecimento das contas públicas” para recuperar o crescimento. Afirma
que buscará “elevação gradual, mas
estrutural, do resultado primário”, com “iniciativas” como “reformas
do lado fiscal” e “maior
desenvolvimento financeiro ... com aumento da participação de fontes privadas”,
ou seja, dos bancos... E conclui: em “2015
e além, contamos com a participação do mercado”! (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/12/1556714-em-carta-ao-mercado-dilma-reforca-aperto-maior-da-politica-economica.shtml)
O que
essa “esquerda governista” (sic!) não
consegue entender é que a crise
econômica brasileira atual deriva dos rearranjos da economia mundial à crise do
imperialismo e seus impactos no Brasil, no lugar que o Brasil ocupa na divisão
internacional do trabalho. E de como
as contradições internas do modo de produção capitalista no Brasil o tornam
capaz (ou incapaz) de reagir a essas novas condições.
Mais
concretamente, as tendências da economia mundial que impulsionaram modificações
na estrutura produtiva brasileira nas últimas décadas, mudanças que ocorreram
nos limites das contradições internas, e que possibilitaram um curto surto de
crescimento durante um quinquênio do governo Lula (2005-2010), estão esgotadas
ou, ao menos, significativamente debilitadas. Para começar, a China, que na
década de 2000 surgiu como principal parceira comercial do Brasil, não mais
cresce a 10% ou mais anualmente, sua média desde os anos 1980, mas deverá
passar em breve para menos de 7%. Esse crescimento mais baixo é
acompanhado/causado por modificações na sua demanda interna que tendem a
minimizar seu apetite pela importação de commodities
básicas, 90% das exportações brasileiras para lá.
Em função disso, como também fruto da
estagnação/recessão europeia, os preços internacionais de commodities estão em forte e generalizada queda, em condições de
superprodução, que em alguns casos supera 30% (minério de ferro). O chamado
“superciclo” de commodities, iniciado
no final dos anos 1990, está encerrado.
O fator que ainda se mantém, a abundante
liquidez de capital-dinheiro (ou fictício) a juros zero nos mercados
financeiros internacionais, já está com seus dias contados. Em outubro, o banco
central dos EUA encerrou suas compras de títulos e, em 2015, deve começar a
subir os juros. A situação original, no entanto, ainda vai perdurar por mais um
período razoavelmente grande, tanto na Europa quanto no Japão.
Por
outro lado, desde o agravamento da crise do imperialismo em 2007-08, a reação
do capital na ampla maioria dos países tem levado a rebaixamento das condições
de reprodução da classe operária (redução dos salários e das conquistas
trabalhistas, deterioração das condições de trabalho), que se traduzem em
ganhos de produtividade e em aumento da competitividade nos mercados
internacionais. Buscamos analisar esses itens em mais detalhe no artigo “A
Crise do Imperialismo ‘Globaliza’ o Acirramento da Luta de Classes”, de
5 de janeiro deste ano (http://cemflores.blogspot.com.br/2014/01/a-crise-do-imperialismo-globaliza-o.html), e na série de postagens denominada
“Teses
Sobre a Conjuntura Nacional”, iniciada em 24 de novembro, com o texto “Brasil:
Crise e Regressão (Parte 1)” (http://cemflores.blogspot.com.br/2014/11/teses-sobre-conjuntura-nacional.html).
O governo Dilma e do PT não foram capazes de
compreender as causas da crise econômica que assola o país neste seu primeiro
mandato e que se prolongará pelo segundo. Dominados pela ideologia reformista
do (nacional-, social-, neo-, ou como queiramos chamar) desenvolvimentismo, insistiu
na ficção pela qual se pode ampliar indefinidamente os lucros (juros reais
negativos; desonerações; privatizações, perdão, concessões; etc.) via expansão
da dívida pública (capital fictício), mantendo os salários e as demais condições
de trabalho com o mínimo de deterioração. Nessa fábula, o Estado seria o
árbitro da luta de classes, o definidor das condições de reprodução do capital
e o repartidor da mais-valia. De te
fabula narratur!
Mas a realidade se impõe e a ilusão se desmanchou no
ar. O governo petista, gestor do aparelho de estado capitalista, assume
plenamente o caráter de classe do Estado, aparelho a serviço das classes
dominantes. Se isso já vinha desde o primeiro mandato – ver nossas publicações
sobre o “Comitê Central da Burguesia”[13]
– se aprofunda ainda mais nessa preparação para o segundo, como indicamos
acima.
A classe operária e o conjunto das classes dominadas
já sofrem a crise nesses últimos anos, expressa concretamente nas suas vidas e
lutas cotidianas em diversas formas: na diminuição gradual das novas oportunidades
de trabalho, ano a ano, chegando a 30 mil demissões em termos líquidos só no último
mês de outubro (http://g1.globo.com/economia/noticia/2014/11/pais-fechou-30-mil-vagas-formais-em-outubro-mostra-caged.html), nos
cortes daquelas vagas de maior qualificação/salário (http://www.ihu.unisinos.br/noticias/537318-geracao-de-emprego-se-concentra-em-vagas-de-baixo-salario-este-ano; http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/194374-vagas-de-menor-salario-crescem-no-pais.shtml), nas
demissões crescentes na indústria (http://economia.ig.com.br/empresas/industria/2014-11-13/demissoes-na-industria-paulista-somaram-51-mil-de-janeiro-a-outubro-diz-fiesp.html). As “reformas
trabalhistas”, por sua vez, já estão a pleno vapor, com a adoção indiscriminada
dos layoffs na indústria,
principalmente no setor automobilístico, já atingindo mais de dez mil
operários. O conluio dos sindicatos patronais, dos pelegos e do governo é para ampliar
ainda mais as possibilidades de flexibilização das condições de trabalho, de
“afastamento temporário”, pré-demissão (http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/sindicatos-vao-negociar-lay-off-com-governo-diz-anfavea).
Em suma, a classe operária, todos os trabalhadores, e
o conjunto das classes dominadas, não podemos nos iludir e acreditar nas falsas
bandeiras petistas e na falsa polarização eleitoral a cada quatro anos. A única
saída possível para a classe operária, para todas as classes dominadas, é a sua
luta e sua organização independente – o que no Brasil atual significa a
reorganização do Partido Comunista – para fazer frente às classes dominantes na
luta de classes. Neste ano em que comemoramos os 150 anos da fundação da Associação
Internacional dos Trabalhadores, a 1ª Internacional, a classe operária deve
escutar a palavra dos nossos antecessores:
“Em todos os lugares, a experiência mostrou
que a melhor maneira de emancipar os
trabalhadores dessa dominação dos velhos partidos é formar, em cada país, um
partido proletário com uma política própria, manifestamente distinta daquela
dos outros partidos, porquanto tem de expressar as condições necessárias
para a emancipação da classe trabalhadora. Essa política pode variar em
detalhes, de acordo com as circunstâncias específicas de cada país; mas
enquanto as relações fundamentais entre o trabalho e o capital forem as mesmas
em toda a parte, e a dominação política das classes possuidoras sobre as
classes exploradas for um fator universalmente existente, os princípios e objetivos da política proletária serão idênticos”
(negritos nossos). Friedrich Engels. Sobre a Importância da Luta Política[14].
[1]
Propomos uma análise da crise econômica brasileira atual e de suas causas mais
profundas em uma série de postagens com o título geral de “Teses Sobre a Conjuntura Nacional”.
A primeira postagem, “Brasil: Crise e Regressão (Parte 1)”
já foi publicada em 24 de novembro (http://cemflores.blogspot.com.br/2014/11/teses-sobre-conjuntura-nacional.html).
[2]
Que analisamos no texto “Agora... A Crise do Governo Dilma, ou Governando
com o Esgoto a Céu Aberto II”, de 20.11.2014 (http://cemflores.blogspot.com.br/2014/11/agora-crise-do-governo-dilma-ou.html).
[3]
Ver nossos textos “Notas sobre a conjuntura da
luta de classes e as eleições de 2014”, de 8.09.2014 (http://cemflores.blogspot.com.br/2014/09/notas-sobre-conjuntura-da-luta-de.html)
e “Dilma ou Aécio? Direito de resposta a uma
falsa questão. Ou: organizar as lutas da classe operária e dos trabalhadores”,
de 24.10.2014 (http://cemflores.blogspot.com.br/2014/10/dilma-ou-aecio-direito-de-resposta-uma.html).
[5]
Esse fato está bem claro no artigo “Sinais Trocados”, do André Singer,
na Folha de São Paulo, de 01.11.2014. Nele, o ingênuo petista, cientista
político que ainda acredita nas promessas de campanha (ao invés de fazer a
correta análise de classes e a análise concreta da situação concreta), informa
o real programa de Dilma, apenas para concluir, perplexo:
“Encerrada a contenda, no entanto, começaram a proliferar informações
contraditórias a respeito das escolhas cruciais a serem feitas pela ex-jovem
heroína. A primeira veio à tona menos de
24 horas após contados os votos. Dilma
estaria em busca de um nome de mercado para ministro da Fazenda. Mas se era
para entregar a política econômica aos banqueiros como justificar os ataques a
Marina e Aécio?
No dia seguinte coube ao próprio BC protagonizar mais uma emissão
atravessada de sinais. Para surpresa do próprio mercado, a diretoria decidiu aumentar os juros. Mas não era isso que
se queria evitar? Dilma havia dito que o PSDB plantava ‘dificuldades para
colher juros’. E agora?
Por fim, surge a informação de que o governo prepara um pacote com redução de gastos públicos
para a semana que vem. Na campanha, Dilma disse que os tucanos só sabiam
cortar, e que ela faria diferente” (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/andresinger/2014/11/1541738-sinais-trocados.shtml).
[6]
André Singer, “Escolha de Sofia”, Folha de São Paulo, 15.11.2014 (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/andresinger/2014/11/1548561-escolha-de-sofia.shtml).
Mino Carta, “A Paz Esteja Convosco”, e Luiz Gonzaga Belluzzo “Promotores
de Desastres”, ambos na Carta Capital de 19.11.2014 (http://www.cartacapital.com.br/revista/826/a-paz-esteja-convosco-9756.html
e http://www.cartacapital.com.br/revista/826/promotores-de-desastres-1940.html).
Enquanto Singer é mais geral, os outros dois “fulanizam”: “por favor, nada de Meirelles”, afirma Carta. Armínio Fraga e
Meirelles são “duplos”, segundo
Belluzzo.
[7]
A rigor, essa posição é arduamente disputada, há décadas, por Bradesco e Itaú,
em processos de centralização de capital que já se expressam em dezenas de
fusões e aquisições de cada lado. Desde a compra do Unibanco, após a crise de
2009, o Itaú está à frente do Bradesco.
[8]
Eco feito por reportagem da Carta Capital, “Os Bastidores Antes da Estreia”,
de 3.12.2014 (https://www1.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/MostraMateria.asp?page=&cod=1000367):
“Trabuco formou-se em uma faculdade de
filosofia e fez pós-graduação em sociopsicologia. Comanda um banco mais afinado
com a clientela de baixa renda e não é dono da instituição”. Agora, sim,
está explicado! Trabuco não é banqueiro, nem o Bradesco é um banco... Quo usque tandem abutere, Catilina,
patientia nostra? ... O tempora, o mores!
[9]
Ver também a matéria “No Túnel do Tempo”, Carta Capital de
5.11.2014, ainda não disponível na internet. “Levy não era o favorito para o cargo e teria sido uma sugestão do
presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, em uma reunião em Brasília, na
terça-feira 18, da qual também participou o chefe do Conselho de Administração
do banco, Lázaro Brandão. ... O encontro
da presidenta com a cúpula do Bradesco foi organizado por Lula,
aparentemente simpático à nomeação de Trabuco para a Fazenda ... Dilma emitiu um sinal de estar aberta ao diálogo
com o setor financeiro. Trabuco e o Bradesco puderam exibir prestígio e ainda
ficaram com o mérito de ter indicado o titular da Fazenda. ... Um dia
depois da reunião com a cúpula do Bradesco, Dilma recebeu o próprio Levy”
(negritos nossos).
[10]
Centro de Debate de Políticas Públicas (cdpp.org.br).
Ver o texto “Sob a Luz do Sol – uma agenda para o Brasil”, do qual Joaquim
Levy escreveu a parte sobre política fiscal.
[11]
Embora não tratemos, neste artigo, da possível nomeação de Kátia Abreu para o Ministério
da Agricultura, não podemos esquecer sua defesa enfática, feita pela Senadora
petista e ex-Ministra Gleisi Hoffmann: “Ela
foi a única liderança do agronegócio que apoiou a presidente e reconheceu o que
o governo fez”, conforme Jânio de Freitas, “Dizeres”, Folha de São
Paulo, 27.11.2014 (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/janiodefreitas/2014/11/1553908-dizeres.shtml).
[12]
Nesse “debate”, o artigo “A Esquerda Está Dividida Entre Duas
Políticas”, de Bruno Altman, do Opera Mundi, de 3.12.2014 (http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/A-esquerda-esta-dividida-entre-duas-politicas/4/32346),
é um capítulo a parte. Buscando analisar a “esquerda
governista” (sic!), identifica duas posições: uma ofensiva, imaginem só!, a
da última resolução da Executiva Nacional do PT; e outra, defensiva, a do governo
Dilma. Aponta ainda uma posição intermediária, a de Lula. Essa “contradição”,
mais ao nível do discurso que real, é entre os reformistas hipócritas e os
pelegos cínicos.
[13]
“Como
o Comitê Central da Burguesia decide as medidas de política econômica”,
de 7.07.2012 (http://cemflores.blogspot.com.br/2012/07/como-o-comite-central-da-burguesia.html),
“A
peregrinação de Dilma a Davos, a Meca do Capital”, de 9.02.2014 (http://cemflores.blogspot.com.br/2014/02/a-peregrinacao-de-dilma-davos-meca-do.html)
e “Mais
uma Reunião do Comitê Central da Burguesia”, de 12.03.2014 (http://cemflores.blogspot.com.br/2014/03/mais-uma-reuniao-do-comite-central-da.html).
[14]
In: MUSTO, Marcello (Org.). Trabalhadores, Uni-Vos! Antologia Política
da I Internacional. São Paulo: Boitempo, 2014, pg. 300. O texto
compilado no livro é um trecho de carta de Engels ao Conselho Federal Espanhol
da Associação Internacional dos Trabalhadores, de 13.02.1871.
2 comentários:
Camaradas,
A edição deste final de semana da Carta Capital confirma a afirmação que vocês fizeram sobre o papel do Bradesco na indicação de Levy para o Ministério da Fazenda. Só que a influência dos banqueiros ainda vai mais além! Vejam a transcrição:
"Inicialmente, Dilma Rousseff convidou o presidente-executivo do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, para uma permanência de dois anos à frente do Ministério da Fazenda. Depois disso, ele poderia assumir a condução do banco conforme o plano de Lázaro Brandão, presidente do Conselho de Administração. Não se sabe ao certo por que a proposta de permanência por dois anos não vingou, apenas que a sugestão de Joaquim Levy partiu da própria organização, como moeda de troca. Trabuco e Brandão, comenta-se em círculos próximos de ambos, não teriam aceitado algumas das condições de Dilma”. (pg. 27),
Ou seja, sabemos agora que a proposta de Dilma a Trabuco era quase a de “acumular” as duas funções: Ministro d Fazenda e Presidente do Bradesco!
Com uma “esquerda” dessas, do que mais o capital precisa?
Saudações comunistas,
Alex
Prezados camaradas do Blog Cem Flores,
Ainda sobre a importância e a influência do Bradesco no governo Dilma e em especial no Ministério da Fazenda, onde eles emplacaram seu funcionário, que tem sido tema do blog, vejam o que aconteceu hoje.
O Levy foi fazzer seu primeiro discurso para uma plateia de "empresários e investidores" (sic!). E adivinhem quem era o promotor do evento?
Isso mesmo. O evento foi organizado pelo Bradesco. http://www.valor.com.br/brasil/3885886/politicas-adotadas-apos-crise-de-2008-estao-sendo-desfeitas-diz-levy
Fácil de adivinhar, não?
Saudações,
Bruno
Postar um comentário