Ocupação em São
Bernardo do Campo, São Paulo
. Iniciada em 1º de setembro de 2017, a ocupação reúne hoje cerca de 7 mil famílias. |
Eu
preciso também de um lugar para morar, né? Que não seja para mim, porque eu não
sei o dia de amanhã, mas que seja para os meus filhos que estão aí crescendo,
dois adolescentes, para deixar alguma coisa, para eles não ter que passarem a
mesma história que eu passei. [...] Às vezes, eu falo assim e a história passa
na cabeça. Porque eu lembro dos meus filhos, lembro da minha mãe também
passando muita humilhação, onde ela vinha dividir um ovo para a gente comer e
enganar o estômago... Aí eu olhei e
falei "não, não tem condições de ficar assim", quando eu perdi o
serviço ficou mais difícil ainda. Eu tentei entrar em programa social aqui em
São Bernardo do Campo, mas eu não consegui.
Joana
Darc Nunes, desempregada, membro da ocupação de São Bernardo do Campo de 2017[1]
"Os empregos não param de
crescer", diz Temer (02/10/17)[2].
"O mercado de trabalho mostra recuperação", confirma Meirelles (19/07/17)[3].
Na TV e nos jornais, a tentativa desesperada do governo de tentar mostrar que
as coisas enfim estão se ajustando para a população. E, com isso, buscar
esconder ou mesmo justificar seu governo numa República de corruptos e ladrões.
Enquanto isso, a bolsa de valores bate seu recorde histórico, superando enfim a
marca de 2008, com farta entrada de capital estrangeiro. A confiança
empresarial retoma patamares do início da recessão aberta, entre 2014 e 2015[4].
Afinal de contas, as reformas fundamentais para o capital estão mais ou menos
se encaminhando... e "o objetivo (desse governo) é ajudar as empresas a
saírem da crise e superar os processos judiciais", como entregou Meirelles
(14/07/17)[5].
Esse é o discurso que diariamente o
operário se vê forçado a ouvir, a ideologia dominante forçando-o a assumir como
sua, mesmo que o seu cotidiano, no trabalho (para os que não estão nos 13
milhões de desempregados!), em casa (para os que a tem, ver epígrafe), ou na
rua (buscando se proteger ao mesmo tempo da polícia e do crime organizado),
mostre o quanto as coisas continuam a vagar pelo fundo do poço; o quanto a
defesa dos “produtores de emprego e renda” (sic!) está deteriorando sua vida.
Nesse contexto contraditório, aparentemente
esquizofrênico, precisamos olhar mais a fundo e de forma mais sistemática o que
os últimos dados do mercado de trabalho têm a nos dizer. Mais especificamente,
como a classe operária tem sido afetada através de mudanças na venda e no uso
de sua força de trabalho e na sua reprodução nesse momento da crise. Notaremos
que a expressão usada no texto A rápida deterioração das condições de
reprodução da classe operária e demais classes trabalhadoras no Brasil[6],
"bombardeio à força de trabalho", continua pertinente mesmo depois de
um ano.
Do
otimismo à realidade
Bem, para confrontar a euforia da ideologia
burguesa, que busca amansar a rebeldia operária e popular, não precisamos ir
muito longe. Os próprios técnicos do aparelho de Estado de certa forma
denunciam a lenga-lenga do governo. "Falar que o pior do mercado de
trabalho já passou é muito otimista. Tem um cenário exógeno, que é a crise
política, e que pode reverter todo esse processo de recuperação que temos
observado desde o começo do ano". Quem diz isso é o coordenador de
Trabalho e Rendimento do IBGE no Valor
Econômico (29/09/2017)[7].
De um lado, sensata observação do
coordenador do IBGE, já que feita alguns dias depois da segunda denúncia de
Temer ser julgada procedente pelo STF, dos militares terem ameçado um golpe
iminente com os generais Mourão e Villa Bôas e antes da "crise
institucional" afastar o senador/playboy/trambiqueiro Aécio Neves pelo
STF... Ou seja, no meio da luta feroz das facções[8]
das classes dominantes entre si e com seus representantes, alas e agentes
dentro do Estado - a elegante "crise institucional e política", para
os acadêmicos e a mídia.
De outro, observação errônea, já que tal
dificuldade em executar a dominação através de uma unidade interna nas classes
dominantes (a "crise política"), apesar de se mover por inúmeros
fatores contingentes e aleatórios, está vinculada e determinada em última
instância pela crise do próprio capitalismo brasileiro (dificuldade de acumular
e manter suas taxa de lucro). Crise cujo ponto mais visível tem sido a enorme
recessão econômica e seus sérios desdobramentos[9],
como por exemplo, na situação fiscal do país, cujo horizonte de
"resolução" se distancia a cada passo, como uma miragem.
Outra não tão otimista instituição, agora
da “sociedade civil”, é a FGV. Em seu último Boletim Macro, de setembro de 2017,
ainda se mantém a previsão de taxa de desemprego para o ano que vem nos 12%,
isso mesmo considerando que "o desempenho do mercado de trabalho também
tem sido melhor que o esperado". Vamos lembrar que o patamar de 12% só foi
atingido em meados de 2016, no "olho do furacão" dos indicadores
econômicos. Grandes perspectivas para 2018! O acalanto sutil do FGV é que
poderia ser pior (ou deverá ser, com o que chama de "confusão
política").
Fora da ilusão da propaganda governista e
empresarial, já não se pode ser "otimista". Agora se tentarmos
interpretar os dados de acordo com o ponto de vista da classe operária, as
coisas se tornam um tanto mais graves. Vejamos dois fatores centrais: emprego e
renda.
Após ter alcançado um pico em 2017 de 13,7%
no primeiro trimestre (maior desta crise), a taxa de desemprego calculada pelo
IBGE caiu para 12,6% segundo a última medição (junho a agosto). A massa do exército industrial de reserva
que ainda procura emprego vegeta em seu volumoso número de 13 milhões de
pessoas, conforme o conceito mais restrito do IBGE. No conceito amplo –
“desocupados mais os subocupados por insuficiência de horas trabalhadas mais a
força de trabalho potencial” – essa massa dobra para pouco mais de 26 milhões,
quase um quarto da força de trabalho do país.
Essa pequena redução na taxa de desemprego
se deu pelo crescimento da População Ocupada, mas "esse indicador, que
considera o total de trabalhadores empregados formalmente e informalmente na
economia, tem crescido de forma mais acelerada do que o estoque de emprego
formal do CAGED [com carteira assinada]. Este último se mantém em trajetória de
expansão lenta e gradual desde março de 2016, mês em que apresentou o pior
resultado em termos de variação no ano contra ano." (IBGE, 2017). Vemos o
gráfico abaixo:
Ou
seja, o "emprego não para de crescer" (Temer), "o mercado está
em recuperação" (Meirelles)... mas um emprego e um mercado específico: o
informal, precarizado e superexplorado. E
ainda muito pouco para retomar ao patamar antigo. O diabo mora nos detalhes.
Utilizando os dados até julho, diz o IBGE:
O número de empregados com
carteira de trabalho assinada (33,3 milhões de pessoas)
manteve-se estável frente ao trimestre anterior, mas caiu 2,9% frente ao mesmo
trimestre do ano anterior (- 1,0 milhão de pessoas). Já o número de empregados sem
carteira assinada (10,7 milhões de pessoas) cresceu 4,6% em
relação ao trimestre anterior (mais 468 mil pessoas) e 5,6% contra o mesmo
trimestre de 2016 (mais 566 mil pessoas). O contingente de trabalhadores por conta própria (22,6 milhões de
pessoas) subiu 1,6% na comparação trimestral (mais 351 mil pessoas) e na anual
houve estabilidade.[10]
Como está no título da matéria do Valor de
29/09/17[11],
o informal é responsável por cerca de 70% das novas vagas, que representa na
verdade nosso passado recente de gigantesca informalidade. Nessa matéria, mais
uma vez, o mesmo coordenador do IBGE fala: "são empregos como trabalhador
familiar auxiliar, trabalhador por conta própria, emprego no setor privado sem
carteira. Em momento de saída de crises, é comum aumentar o emprego informal.
Foi assim em 2008, em 2003. As pessoas contratam, mas não efetivam com a
assinatura da carteira porque ainda existem incertezas". Se existem incertezas ao empresário, cada
dia mais "confiante", imagine para o trabalhador que está com sua
família dormindo com o fantasma da fome ao lado!
Isso sem falar que setores específicos dos
trabalhadores tem sofrido de forma aguda essa recessão. A
"escolarizada" juventude[12]
dos anos 2010 sofre com altíssimo nível de desemprego (desde 2016 em torno de
25%), alta rotatividade e menores salários. Não é à toa que é a principal
vítima do contexto de guerra perpétua coordenada pelo Estado burguês no campo e
na cidade.
Quanto à chamada renda do trabalho, esta
tem se mantido estável pelos dados oficiais. Mas o IPEA explica o porquê:
"ao longo da crise, a opção inicial é a dispensa de trabalhadores menos
qualificados e, portanto, com salários menores, pois esse contingente é mais
fácil de ser recontratado no momento da retomada da atividade econômica. Com
isso, a média salarial se eleva mesmo na ausência de reajustes. Adicionalmente,
a acentuada queda da inflação nos últimos meses, vem contribuindo positivamente
para essa expansão dos salários reais."[13].
Mesmo crescendo no geral, a massa salarial está longe de retomar o patamar
anterior à crise.
E se desagregarmos os dados, veremos que
esse crescimento está concentrado na dita "Classe A" (renda familiar
mais que R$ 17.000), e não nas camadas populares, cuja massa salarial está
caindo ou estabilizada. Abaixo, um gráfico da Tendências Consultoria Integrada,
publicado no Valor Econômico[14]:
Depois
de, aos milhões, a dita "Classe C" ser jogada para faixas de rendas
mais baixas na crise, hoje ainda amargam um congelamento de sua massa salarial.
Outro indicador importante para notarmos
como anda a realidade dos salários e uso da força de trabalho está nos motivos
das greves. Recentemente, o DIEESE[15]
concluiu seu balanço das greves de 2016 e suas conclusões mostram um quadro
bastante ofensivo do patronato sobre os salários. Apesar do grande número de greves (mais de dois mil, mantendo o patamar
de 2013), 38% se deram por conta de atraso de salários. Em 2012 e 2013 esse
motivo não chegava a 20%. Em 2016, por fim, mais de 80% das greves foram apenas
por manutenção de conquistas ou por descumprimento dessas.
A
realidade do parcelamento, atraso, ou do calote puro e simples, dos salários é
uma realidade que tem crescido inclusive no serviço público[16], um bastião de
"direitos trabalhistas" e "seguridade". Desde 2015,
ocupações de prefeituras na virada dos anos fiscais têm sido comuns; assalto ("legais")
aos fundos de previdência dos servidores para pagamento de seus salários; filas
para distribuição de cestas básicas a servidores no Rio de Janeiro... tudo isso
com "concursados", um dos elementos ideológicos de ascensão social mais
importantes do período petista.
Sabe-se que apenas com o salário direto dos
que conseguem estar empregados, a própria relação assalariada estaria em risco
de não se sustentar - o tamanho do exército de reserva, o
"complemento" a salários menores que o valor da força de trabalho...
tudo isso é mais ou menos administrado pelo Estado[17].
No capitalismo, a reprodução da força de
trabalho também é auxiliada pelas políticas "sociais" do Estado.
No momento de crise, essa administração tende a sofrer alterações, como as que
estamos vendo: não só as verbas para tais programas vão minguando, quanto também
a própria ideologia que os sustenta.
Um exemplo é o programa Minha Casa, Minha
Vida – alvo de reivindicação da recente e gigantesca ocupação em São Bernardo
do Campo, cuja foto aérea ilustra este artigo. Para esse programa, os "pagamentos
chegaram à marca de R$ 20,7 bilhões em 2015, recuaram para R$ 7,9 bilhões em
2016 e somam apenas R$ 1,8 bilhão de janeiro a agosto deste ano."[18]
No Blog do professor da Unicamp, Fernando Nogueira da Costa[19]:
“segundo último balanço do programa disponível, repassado pelo Ministério das
Cidades, apenas 1.850 unidades de 110.129 foram contratadas no acumulado de
janeiro a abril deste ano por famílias com renda mensal de até R$ 1,8 mil. O
resultado representa uma redução de 51% na comparação com 2016, período em que
em que as contratações já estavam aquém das expectativas devido à redução das
receitas provocada pela recessão econômica”. Vai-se mudando assim o
"público" do programa, excluindo cada vez mais as camadas mais pobres
até mesmo das péssimas construções típicas do programa[20].
Abaixo, a tabela elaborada pelo Valor
Econômico mostra ainda drástica redução em outros programas semelhantes:
Por
fim, mesmo com salários diretos e indiretos mantidos, ou diminuídos de forma
"suportável", o mesmo não se pode falar das perspectivas das condições
de trabalho - e consequentemente de vida e saúde. A unanimemente aclamada pelos empresários[21]
reforma trabalhista tem sido aprovada em suas diversas partes veloz e
facilmente. E, como tem sido amplamente noticiado, a capacidade de reação e
resistência dos trabalhadores sofrerá forte queda, ao menos nos marcos legais e
institucionais. Fim da ultratividade (dos “direitos adquiridos” em outras
data-bases), possibilidades de acordos individuais, terceirização irrestrita,
mais dificuldades no acesso à Justiça do Trabalho, são alguns exemplos nesse
ponto. Já a "liberdade" patronal para explorar ganhou novos
horizontes. Possibilidade de aumentar a jornada e a intensidade de trabalho são
múltiplas. A simples alteração do que a lei entende por "tempo de trabalho"
já exemplifica isso. Em seu Art. 4º, a "nova" CLT não considera tempo
de trabalho “adentrar ou permanecer nas dependências da empresa para exercer
atividades particulares, entre outras: I – práticas religiosas; II – descanso;
III – lazer; IV – estudo; V – alimentação; VI – atividades de relacionamento
social; VII – higiene pessoal; VIII – troca de roupa ou uniforme, quando não
houver obrigatoriedade de realizar a troca na empresa”[22].
Os tempos mortos para o capital dentro das empresas, alvo de vigilância
constante da burguesia, agora tem uma segurança jurídica de novo patamar.
Mas o
inferno tem vários andares. Apesar do esforço dos representantes políticos da
burguesia, ainda há caminho a se trilhar. O capital precisa de (sempre) mais
liberdade! É o que grita a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, que se
reuniu em Nova York após a aprovação da Reforma Trabalhista. Na matéria da
Folha de São Paulo[23],
vemos o quanto a burguesia da potência imperialista puxou a orelha da burguesia
daqui. Frustrado, um executivo disse: “Então quer dizer que ainda não vamos
poder reduzir salários? Isso é a coisa mais anticapitalista que existe”[24].
Afinal, ele está acostumado com um país, dito "país da democracia", onde
a empresa não tem obrigação de pagar férias, dar licença maternidade, e pode
demitir sem nem aviso prévio...
A reforma visa dar um novo patamar
jurídico, mas obviamente que este é apenas um eixo para a prática burguesa mais
segura na extração da mais-valia. Um Estado mais afinado com suas necessidades
objetivas. Ora, vários desses pontos alterados já são práticas comuns pelo país
a fora – incluindo a escravidão[25],
cuja verba para fiscalização está sumindo por conta de “interesses econômicos
com extensa representação política nas mais altas instâncias de poder do Estado
brasileiro”, segundo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). Para bom
entendedor meia palavra basta.
Da
realidade à luta
Causas
Contrariantes [da Lei da Queda
Tendencial da Taxa de Lucro]: I. Elevação
do grau de exploração do trabalho. O grau de exploração do trabalho, a
apropriação de mais trabalho e de mais-valia, é elevado a saber por meio de
prolongamento da jornada de trabalho e intensificação do trabalho.
...
II.
Compressão do salário abaixo de seu valor ... é uma das causas mais
significativas de contenção da tendência à queda da taxa de lucro [26]
Trouxemos essa citação de Marx do texto A
Crise do Imperialismo Como Ofensiva do Capital na Luta de Classes e a
Necessidade da Contraofensiva da Classe Operária[27],
de 2012. Nela vemos de forma muito sintética como o avanço do capital sobre o
trabalho é uma necessidade constante ao capitalismo, agravada em períodos de
crise que visam reverter a queda da taxa de lucro. E à época nos ajudou a
refletir sobre as diferentes formas como as formações sociais, dominantes e
dominadas, estavam reagindo à crise do imperialismo no tocando à força de
trabalho. Desemprego e aumento da exploração atingiam de formas variadas as
formações, sendo o papel da análise científica focar as diferenças e pontos
comuns.
O mercado de trabalho brasileiro, por
diversas razões, só foi atingido gravemente a partir de 2015, com elevação da
taxa de desemprego e posterior agravamento geral da reprodução dos
trabalhadores e quebra (intencional) da resistência e poderio de barganha,
sobretudo de nível sindical. As reformas
que comentamos acima visam reformular o uso e as características da força de
trabalho com fins de retomar a taxa de lucro e a acumulação dos capitais.
No texto de 2012, comentamos como, por
exemplo, a Alemanha reformou o mercado de trabalho antes do estouro da crise e
foi menos atingida em níveis de desemprego, queda de produtividade etc. Isso
não em benefícios de seus trabalhadores, mas de seus capitais: já antes da
crise sua massa de trabalhadores sofreu forte disciplinarização, redução de
salários, flexibilização de contratos e jornadas etc. Coisas que as classes
dominantes de nossa formação social correm contra o tempo para aprovar –
reformas extremamente necessárias a esse sistema, e não "maldades" de
a ou b, como os reformistas querem fazer crer.
A
modernização (capitalista) para combater a crise é sempre mais massacre para o
proletariado. Prolonga sua miséria e opressão com a ilusão de que os
frutos do crescimento futuro serão divididos pelas classes – coisa que nunca
acontece, como se viu em mais um importante estudo sobre a tal “distribuição de
renda” do petismo[28].
Exige-se sacrifício (que gera adoecimento[29],
morte...) para, na próxima crise, exigi-lo de novo... e assim continuar a história
da exploração do proletariado, geração por geração, como na história de Joana
no início do texto, que luta por uma moradia num país onde 6 bilionários[30]
tem mais dinheiro que toda sua família, companheiros, antepassados, cidade...
mais que metade da população brasileira mais pobre, para ser mais preciso.
Nas
condições concretas de nosso país, a classe operária e os trabalhadores lutam
sob forte desorganização, em imensa defensiva. Eis o atual quadro
da luta de classes, sentido pela maioria dos trabalhadores. Trabalhadores
esses, incluindo os "por conta própria", ditos "empreendedores",
sofrem um forte ataque ideológico, visando acabar com qualquer reação coletiva
e individualizando seus problemas. É nesse contexto que se insere os arroubos
otimistas e ilusões pregadas pelas classes dominantes. A ideologia
meritocrática nunca foi tão explícita como na recente propaganda do Santander[31],
onde o "vermelho" não é uma alternativa de sociedade para os
trabalhadores, (nem a ilusão eleitoral dos últimos anos), mas uma máquina de
cartão para seu pequeno negócio. Banco este com lucros bilionários e crescentes
- pequenos negócios que na sua maioria são fechados hoje antes de completar 5
anos. Não só na propaganda do banco: na Igreja, nas empresas, no sindicato...
Fomentar
soluções coletivas, novas formas de organização e luta, são as tarefas urgentes
e imediatas para todos os comunistas. Esse ano completa-se 100 anos da primeira
greve geral do país e o não rompimento com esse sistema nos coloca nas mesmas
esquinas da insegurança, da miséria, da fome... de 100 anos atrás.
Há que se sair dessas esquinas, e a
diretriz central já a temos: "a
emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores" -
e não de qualquer oportunista que apareça no mercado político.
[9] Em outro momento discutiremos sobre o fim
"técnico" da recessão, tendo em vista os pífios resultados positivos
do PIB deste ano (sobretudo pela safra do início do ano e liberação do FGTS), e
como uma análise marxista deve interpretar tais dados, concretamente, como se
relacionam com a crise do imperialismo atual.
[17] Em seu importante livro, Estado e Capital - Uma análise da política econômica, Suzanne de
Brunhoff lembra que "o capital privado tem sempre necessidade da
existência de um poder estatal". No tocante à mercadoria força de
trabalho, o Estado tem papel fundamental em sua reprodução. Na página 9,
Brunhoff diz: "Disciplina do trabalho, insegurança do emprego, permanência
do aprovisionamento de força de trabalho proletária ao menor custo possível: a
combinação desses aspectos implica uma intervenção estatal imanente ao processo
de acumulação capitalista, ao mesmo tempo que fundamentalmente exterior a esse
processo. A exterioridade da gestão estatal da força de trabalho é a própria
condição de sua imanência. Essa gestão acompanha todas as fases do capitalismo.
É por isso que a assistência aos pobres do início do século XIX, esse arcaísmo,
permanece ainda hoje como uma forma viva que permeia as instituições mais
modernas do Seguro Social". Mais a frente, na página 17, complementa:
"Quaisquer que sejam sua forma e suas modalidades, a gestão estatal da
força de trabalho tem como objeto principal a responsabilidade sobre uma parte
do valor dessa força, que os capitalistas não remuneram de maneira direta. [...
As instituições públicas] constituem uma espécie de meio no qual se desenvolve
e funciona a exploração capitalista, e testemunham o fato de que não existe um capitalismo
puro que o Estado viria remediar ou completar de uma forma ou de outra. Ao
mesmo tempo, são permanentemente o lugar de conflitos de classe relacionados
não apenas à sua instauração mas à sua forma e extensão, enquanto só se
desenvolvem pela realização de compromissos entre as classes."
[21] “Segundo nossa análise, a reforma pode elevar a
posição do Brasil, no quesito eficiência do mercado de trabalho, da atual 117ª
posição para 86ª posição em um ranking de 138 países.” (Macro Visão do Itaú,
agosto de 2017, Disponível em: https://www.itau.com.br/_arquivosestaticos/itauBBA/contents/common/docs/04082017_MACROVISAO_REFORMATRABALHISTA.pdf). A tal eficiência, calculada também pelo Fórum
Econômico Mundial, leva em conta fatores como: flexibilidade para contratar e
demitir, flexibilidade de salários, cooperação empregado-empregador, custos de
demissão... em todos eles o Brasil está (ainda) em péssima “colocação”! No
texto de um ano atrás, chamamos a reforma trabalhista de a "galinha dos
ovos de ouro da burguesia". Com ela, "objetivamente, o que a
burguesia quer é um maior controle e espaço para a exploração da força de
trabalho, retirando do caminho limites que historicamente foram impostos pela
luta de classes. O que Marx chama de livre exploração da força de trabalho
(para e pelos capitalistas).".
[22] Para uma análise artigo por artigo, ver: http://www.jorgesoutomaior.com/blog/os-201-ataques-da-reforma-aos-trabalhadores.
[24] E o empresário continua: "E se perdermos
dinheiro? Vamos também dividir os prejuízos?". Com esse discurso podemos
ver a essência da ideologia capitalista que tende a se radicalizar nas crises.
Suzanne de Brunhoff fala, ao analisar as alterações no capitalismo, sobretudo
dos países centrais diante da crise dos anos 1970, em A hora do mercado:
crítica do liberalismo,: Durante a crise, algumas práticas patronais correntes,
mas até então disseminadas, procuram ser generalizadas e legitimadas. Assim, na
França, o direito de demissão foi sempre exercido, já que cerca de 90% das
demissões “econômicas” solicitadas eram concedidas. Mas o patronato pede mais:
deseja que o direito de demitir seja exercido sem formalidades nem controles,
segundo o modelo americano. De maneira mais geral, o que se procura, desta vez
segundo o modelo japonês que se imagina, é a flexibilidade do emprego e
condições de trabalho segundo as necessidades da empresa. Essa flexibilidade já
existe sob diferentes formas, por exemplo, o trabalho por turnos de 3 x 8 horas
ou o emprego de trabalhadores temporários. Mas isso é considerado insuficiente
pela organização patronal francesa, porque é necessário um novo consenso sobre
as condições de emprego que seja oficialmente ratificado por regras do jogo que tenham alcance geral.
[...] A pressão da concorrência de crise estimula as empresas a transferir uma
parte de suas dificuldades sobre os assalariados, além da extração “normal” da
mais-valia.". Ver: https://lavrapalavra.com/2017/03/16/salariados-e-corporativismo/.
[29] Vários estudos apontam a relação entre adoecimento e
período de crise, austeridade, aumento de precariedade no trabalho etc. Hoje os
dados relacionados ao adoecimento psíquico são alarmantes. Um dado indireto
disso no Brasil é o crescimento da venda de antidepressivos. Em 2015, 25
milhões de unidades foram vendidos de janeiro a junho. Em 2017, para o mesmo
período, as vendas passaram de 31 milhões. Dados da Associação Brasileira das
Indústrias de Medicamentos Genéricos. Já segundo dados da Secretaria da
Previdência, "as concessões de auxílio-doença para pessoas que sofrem
desse mal cresceram 17% em quatro anos", segundo matéria de O Globo de
25/09/17. Essa realidade afeta cada vez mais os jovens, ver: http://www.huffpostbrasil.com/2017/10/06/por-que-os-jovens-universitarios-estao-tao-suscetiveis-a-transtornos-mentais_a_23214960/.
2 comentários:
Meus caros, qual é o link em que fica disponível os boletins macroeconomicos da FGV? Gostaria de ter acesso aos passados e aos futuros. Saudações.
http://portalibre.fgv.br/main.jsp?lumChannelId=4028818B3BDE4A56013C071D0C174AD1
Postar um comentário