“Aos gritos de "Ei, Fifa, paga a minha
tarifa", centenas de pessoas pularam as roletas da estação ferroviária
Central do Brasil na noite desta terça-feira, 28, durante ato contra o aumento
das passagens organizado pelo movimento Passe Livre do Rio”, anuncia matéria do
Estado de São Paulo do último dia 28.
E mais: acompanhando os organizadores, “rapidamente
a enorme fila de pagantes se desfez e muitos seguiram a orientação da multidão
eufórica: ‘Pula que é de graça!’”.
Ainda segundo a matéria, “Algumas pessoas não
entendiam o que estava acontecendo. Uma mulher chegou a perguntar ao major que
comandava os policiais se podia mesmo passar sem pagar. ‘Aí é com a senhora’,
respondeu o policial. Ela se afastou um pouco dele e pulou. Nem precisava.
Passageiros pulavam na frente dos policiais.”
Foto:
http://passapalavra.info/2014/01/90955/comment-page-1#comment-180904
"Não é nem pelos R$ 2,90 da passagem, mas pela
sacanagem que fazem com o trabalhador", disse, após pular a roleta, o
funcionário público Fernando Antônio dos Santos, que aderiu ao protesto. Ele
mora em Realengo, na zona oeste, e trabalha no centro. "Aqui ninguém
respeita a gente. A passagem não é barata e o trem não tem ar-condicionado.
Quando quebra, além de não avisar nada ainda ficam rindo", disse Santos,
referindo-se ao secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, fotografado
dando uma gargalhada durante vistoria realizada após o acidente da semana
passada.
O desabafo acima é sobre esta imagem, que estampou
a primeira página de um jornal de grande circulação no Rio de Janeiro, na qual o
secretário de transportes, à direita, dá uma gargalhada enquanto conversa com o
presidente da Supervia.
http://extra.globo.com/noticias/rio/secretario-de-transportes-do-rio-admite-falha-mas-da-gargalhada-durante-vistoria-em-local-de-descarrilamento-11369035.html
A manifestação e o catracaço ocorreram menos de uma
semana depois de mais um acidente com os sucateados trens da Supervia, empresa
privatizada no final dos anos 1990. A principal melhoria nesses 15 anos de
administração privada do transporte público foi pintar os trens. Realmente um
luxo. Ar condicionado? Para que? Só porque estamos numa cidade que tem
temperaturas médias acima dos 30° em boa parte do ano? Se a maior parte dos
ônibus não tem ar condicionado, porque os trens teriam? A lógica é impecável.
Segundo dados públicos, “de janeiro a setembro do
ano passado, incidentes relacionados, sobretudo a panes mecânicas e problemas
na rede aérea, levaram a Agetransp a multar a SuperVia em R$ 281,5 mil e abrir
66 boletins de ocorrência. Desde o começo da concessão, em 1998, até setembro
do ano passado, as multas somaram R$ 5,1 milhões.”
Não bastasse o sucateamento dos trens, que por si
só justificariam a revolta dos passageiros com as péssimas condições do
transporte, são frequentes imagens com esta, onde funcionários da Supervia usam
cordão de crachá para "chicotear" passageiros.
No último dia 22 de janeiro, o descarrilamento numa
das principais estações de trem do Rio de Janeiro deixou cerca de 600 mil
pessoas a pé, uma vez que não puderam usar suas passagens da Supervia nos
ônibus ou no metrô. Caos? Não é o que o secretário de transportes enxergou:
"Não houve caos. Houve uma ocorrência de
grande porte em um grande sistema viário, como pode acontecer em qualquer lugar
do mundo".
ADVERTÊNCIA: a fotografia abaixo NÃO foi feita na
Suíça.
Do lado dos passageiros, é unânime: "Os trens
estão sucateados, falta uma mudança mesmo, os trens estão com mais de 30 ou 40
anos. É difícil você ver um trem com ar condicionado. Quando vê, é um atraso
constante", afirma uma passageira. Segundo ela, a situação fica pior
devido às interrupções no sistema. "No dia que o trem ficou paralisado,
que houve acidente em São Cristóvão, eu fiquei presa na estação São Francisco
Xavier, machuquei o braço, pisaram no pé, cheguei no serviço 10h30 da manhã,
saí de casa 5h25. Cheguei no serviço, em Botafogo, toda cansada,
amassada", lembra.
Ainda segundo o hilário secretário, problemas em
trens do Rio "existirão sempre".
Não é o que indicam as manifestações, nem o
catracaço. Após décadas de privatizações, propagandas mentirosas, falsas
promessas e outras formas de explorar e humilhar o povo trabalhador, as ruas
recomeçaram a ser o palco de protestos, mostrando que está em curso uma
retomada da ofensiva dos trabalhadores na luta de classes.
Como diz a paródia de um funk de sucesso, "rala burguesada"!
NOTA: O catracaço na Central do Brasil já produziu
efeitos: Em nota, a assessoria do governo do Estado afirmou que “o governador
Sérgio Cabral decidiu manter os valores atuais das tarifas de trens (R$ 2,90),
barcas (R$ 3,10) e metrô (R$ 3,20)”.
http://www.valor.com.br/politica/3415882/contra-protestos-rio-congela-tarifas-de-trem-barca-e-metro#ixzz2sO639QPg
Sem dúvida uma vitória da resistência popular, mas,
como diz o ditado, “alegria de pobre dura pouco”:
Segundo a nota, o governador encomendou, à
Secretaria de Estado de Fazenda, um estudo para definir como compensar as
concessionárias dos serviços de trens, a SuperVia, controlada pela Odebrecht; e
metrô, a empresa Metrô Rio, da Invepar. A manutenção dos preços nas barcas será
subsidiada pelo Fundo Estadual de Transporte, de acordo com lei estadual
aprovada em 2011.
Afinal, em ano eleitoral não se pode desagradar os
principais financiadores das campanhas para governador e prefeito...
Um comentário:
Hoje, 6 de fevereiro, houve novo protesto, mas desta vez, não houve catracaço: o batalhão de choque da PM, repetindo sua atuação nas manifestações do ano passado, 'baixo ou pau' nos manifestantes, dispersando o protesto com gás lacrimogêneo. Afinal, a propriedade privada é sagrada! No começo da noite, mais uma vitória da resistência popular: a SuperVia liberou as catracas na Central do Brasil "para evitar tumultos em protesto". Rala burguesada! Viva o catracaço!
http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2014-02/supervia-libera-catracas-na-central-do-brasil-para-evitar-tumultos-em-protesto
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