Recebemos dois comentários na postagem da charge que reproduzimos sobre a Ucrânia em 03 de março de 2014. O coletivo do Cem Flores considera importante sua divulgação por concordarmos, no fundamental, com as posições apresentadas.
Como diz nosso colaborador anônimo "trata-se de uma disputa interimperialista, na qual a burguesia se divide, oscila entre os dois lados.
Dessa disputa não resultará nada de positivo para proletariado e demais classes dominadas da Ucrânia. O proletariado ucraniano, como o de todos os demais países, deve buscar sua organização independente para fazer frente à burguesia, seja ela ucraniana, russa, alemã ou americana".
Em 19 de março
de 2014.
Caros
camaradas,
Muito
boa a charge que vocês reproduziram sobre a situação da Ucrânia. De fato, todas
as notícias e indícios que consegui acompanhar na imprensa e em sítios e blogs
sobre aquele país mostram participação efetiva de grupos neonazistas. Inclusive
claramente identificados com a invasão hitlerista na II Guerra e com o combate
ao Exército Vermelho e a URSS. E agora com os ataques a militantes e
instalações do PC da Ucrânia.
Mas acho que isso é apenas um aspecto do caso e, infelizmente, vocês não escreveram a respeito. Para tentar contribuir com esse debate - e usando os próprios materiais do Cem Flores - acho que é fundamental analisar o caso ucraniano utilizando o conceito marxista de luta de classes e o conceito leninista de imperialismo, além de considerar a atual crise do imperialismo. Nada diferente do que vocês fizeram no documento sobre a conjuntura internacional de janeiro deste ano.
Todos
sabemos, ao menos desde Lenin - e vocês corretamente destacaram isso no
documento de janeiro -, que, na época do imperialismo, terminada a divisão do
mundo entre as potências imperialistas, uma nova divisão não se faz de maneira
pacífica, harmônica, em jantares de gala diplomáticos. Trata-se, sempre, de
relação de forças, conflitos de diversos tipos e intensidades e, no limite,
guerras. Trata-se, enfim, da luta de classes das classes dominantes, entre as
burguesias dos países imperialistas envolvidos, com a participação da burguesia
do país dominado (aliando-se a um dos lados em conflito ou rachando).
Só
que no modo de produção capitalista não há perenidade (talvez nem sequer
estabilidade) na divisão do mundo. O funcionamento da lei do valor,
condicionando a acumulação do capital em escala mundial e nos distintos países,
além de fatores históricos, políticos, militares, ideológicos, etc.,
impulsionam tendências para que se redefinam constantemente / periodicamente
essa divisão (como vocês identificaram na tendência de alteração da "nova
divisão internacional do trabalho"). O capitalismo é mesmo um bicho
contraditório!
Essas
tendências se agravam na crise do imperialismo, ainda mais uma tão seria quanto
esta. É o que vocês chamam de agravar todas as contradições...
No
caso da Ucrânia, ficando nos aspectos mais gerais, abstraindo de detalhes
específicos que espero secundários (mesmo porque não tenho tanta informação a
respeito), pode-se dizer que se trata de uma disputa interimperialista entre
Rússia, União Européia (dominada de forma crescente pela Alemanha) e Estados
Unidos.
O
pano de fundo parece ser a crise econômica do pais, em recessão desde 2012,
enfrentando queda nas suas exportações de produtos primários (agrícolas e
minerais), fuga de capitais e perda de reservas, conjuntamente com o aumento do
serviço de sua dívida externa.
Não
é a toa que muito se falou nos 15 bilhões de dólares de empréstimos que a
Rússia enviaria à Ucrânia e que as potências imperialistas ocidentais
prometeram cumprir com recursos do FMI.
Por
sobre essa crise econômica, e agravado por ela, está um gigantesco caldo
histórico / étnico das relações Ucrânia/Rússia, agravado pelas ligações
econômico-militares entre os dois países. Só para ficar em dois exemplos, o
gasoduto que parte da Rússia para abastecer a Europa, via Ucrânia, e a base
naval russa de Sebastopol, na Crimeia (agora novamente anexada a Rússia).
Como
se diz no popular, nesta crise "o buraco é mais embaixo", de tal
forma que a ocupação militar russa na Crimeia segue incontestada, com o
exército ucraniano batendo em retirada e a Europa e os EUA paralisados. A
questão ucraniana, no entanto, segue longe de ser resolvida.
Sem
querer simplificar em demasia algo muito complexo, trata-se, na minha opinião,
de uma disputa interimperialista, na qual a burguesia ucraniana se divide,
oscila, entre os dois lados.
Dessa
disputa não resultará nada de positivo para o proletariado e demais classes
dominadas da Ucrânia. O proletariado ucraniano, como o de todos os demais países,
deve buscar sua organização independente para fazer frente à burguesia, seja
ela ucraniana, russa, alemã ou americana.
Em
20 de março de 2014 outro colaborador anônimo comentou:
Camaradas
do Cem Flores,
Muito
interessantes os comentários do anônimo de ontem sobre a questão da Ucrânia.
Buscando contribuir para esse debate, traduzi alguns parágrafos da versão em
inglês de documento recente do KKE sobre a questão ucraniana.
Acho
que o KKE vai na mesma linha de ressaltar o conflito interimperialista que se
trava na Ucrânia atualmente. Nessa situação, só cabe ao proletariado a busca de
seu caminho próprio na luta de classes, ao lado das demais classes dominadas e
contra a burguesia ucraniana e as potências imperialistas.
KKE:
Declaração do Escritório de Imprensa do Comitê Central do KKE sobre a Ucrânia e
o Referendo na Crimeia
"O
KKE desde o primeiro momento denunciou a intervenção imperialista dos
EUA-OTAN-União Européia na Ucrânia e o golpe de Estado das forças reacionárias,
com a participação de nazistas..."
"Tendo
como nosso critério os interesses do povo, nós consideramos que a assimilação
da Crimeia na Rússia não trata de forma efetiva da intervenção, nem soluciona a
essência de qualquer dos problemas reais do povo da Crimeia, nem significa
qualquer normalização da situação ou uma solução de longo prazo de paz e
cooperação dos povos da região com prosperidade e progresso. A maioria do povo
está sofrendo tanto na Ucrânia quanto na Rússia, vivendo nas condições da
barbarie capitalista...".
"A
secessão na Crimeia e sua assimilação na Rússia fortalecerão ainda mais a
corrente nacionalista, tanto na Ucrânia quanto na Rússia. Ela vai colocar
milhões de trabalhadores na armadilha do confronto com base nas nacionalidades,
obscurecendo as causas reais do conflito, tanto quanto a única alternativa de
solução que existe para os trabalhadores e que se encontra em outro caminho de
desenvolvimento, o socialismo".
Esqueci
de colar o link para o documento do KKE. Segue:
http://inter.kke.gr/en/articles/Statement-of-Press-Office-of-the-CC-of-the-KKE-on-the-Ukraine-and-the-referendum-in-the-Crimea/.
2 comentários:
Ler este texto inserido no jornal do Luta Popular orgão central do PCTP/MRPP:
http://lutapopularonline.org/index.php/internacional/1012-a-uniao-europeia-a-ucrania-e-o-espaco-vital-alemao
Gostaria de acrescentar uma com uma análise bem detalhada da situação na Ucrânia:
Olá amigos, gostaria de recomendar este detalhado texto sobre o que realmente há por trás dos protestos na Ucrânia:
Ucrânia, Autópsia de um Golpe de Estado
http://www.anovaordemmundial.com/2014/03/ucrania-autopsia-de-um-golpe-de-estado.html
Basicamente, houve uma enorme ingerência do ocidente antes e durante supostos protestos, que vieram a colocar as mesmas cabeças corruptas que perderam as últimas eleições, e que estavam por trás da falsa revolução laranja. Vale a pena ler e compartilhar.
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