A história acontece novamente. E como sabemos
todos, a tragédia vira farsa. Sai Dilma, entra Mantega. Sai a pompa da sala de
reuniões presidencial do Palácio do Planalto e entra a representação do
Ministério da Fazenda em São Paulo. Tal qual março de 2012, o março de 2014
está presenciando mais uma infindável peregrinação do governo do PT ao altar de
Mamon.
Como
os leitores deste blog Cem Flores já devem ter percebido, trata-se de mais uma
rodada de reuniões entre o governo petista e a burguesia brasileira. A
burguesia determina quais as medidas cabe ao seu governo implantar, visando
ampliar a acumulação do capital e as taxas de lucro. O governo de
plantão trata de encontrar as formas institucionais de cumprir as determinações
de seus patrões. Uma análise concreta e exemplificativa desse fato está no
nosso post “Como o Comitê Central da Burguesia Decide as Medidas de Política
Econômica” (http://cemflores.blogspot.com.br/2012/07/como-o-comite-central-da-burguesia.html).
Diante da mediocridade das taxas de crescimento
do país no governo Dilma – resultado das novas condições de acumulação de
capital na economia mundial nesses seis anos de crise do imperialismo, implicando
alterações na divisão internacional do trabalho e os impactos dessas
modificações sobre o Brasil– a burguesia exige cada vez mais do seu governo.
Os custos estão altos, o que reduz o lucro? O
governo providencia a redução do IPI, da contribuição previdenciária dos trabalhadores
e de outros tributos. Os juros no país são escorchantes? Não para a burguesia.
O governo emite R$400 bilhões para que o BNDES empreste à burguesia com juros
de, no máximo, 5% ao ano. Os lucros do capital financeiro se reduziram?
Aumentem-se os juros! E também não se cobre imposto de renda dos ganhos do
capital estrangeiro que especula aqui. Novos espaços para a acumulação de
capital? Crie-se um multibilionário programa de privatizações do pré-sal, do
pós-sal, dos aeroportos, das rodovias, dos portos, das ferrovias e o que mais
for preciso. As regras não são do agrado dos patrões? Modifiquem-se as regras,
aumente-se o lucro estimado. Nesse caso, como em vários outros, o governo
petista parafraseia Groucho Marx: “Estes
são os meus princípios. Se não lhes agrada, tenho outros”!
Pode-se dizer que a série 2014 de genuflexões
petistas ao altar do capital começou no final de janeiro, com a ida de Dilma a
Davos. Na ocasião, Dilma se apresentou praticamente como a autora da Abertura
dos Portos às nações amigas: “O Brasil é, hoje, uma das mais amplas
fronteiras de oportunidades de negócios. Nosso sucesso nos próximos anos estará associado à parceria com os
investidores do Brasil e de todo o mundo. Sempre
recebemos bem um investimento externo. Meu governo adotou medidas para
facilitar ainda mais essa relação” (negritos e sublinhados nossos).
Vejam que quando o assunto é sério, o discurso
é escrito previamente, de forma clara e direta. E ela não foge ao script. Ou
seja, nada de improvisos incompreensíveis... Analisamos essa primeira
genuflexão do ano em “A Peregrinação de Dilma a Davos, a Meca do
Capital” (http://cemflores.blogspot.com.br/2014/02/a-peregrinacao-de-dilma-davos-meca-do.html).
Um mês depois seria a vez de Lula. O
ex-presidente, atualmente milionário palestrante nacional e internacional em
eventos empresariais, escreveu artigo no jornal Valor Econômico, reproduzido no
sítio do Instituto Lula (http://www.institutolula.org/artigo-de-lula-por-que-o-brasil-e-o-pais-das-oportunidades/), em que praticamente repete o fundamental do
discurso de Dilma em Davos. A pérola do servilismo e da auto-complacência
intitula-se “Por que o Brasil É o País
das Oportunidades”.
Para não nos alongarmos demais, transcrevemos o
parágrafo conclusivo: “Recentemente
estive com investidores globais no Conselho
das Américas, em Nova Iorque, para mostrar como o Brasil se prepara
para dar saltos ainda maiores na nova etapa da economia global. Voltei convencido de que eles têm uma
visão objetiva do país e do nosso potencial, diferente de versões
pessimistas. O povo brasileiro está construindo uma nova era – uma era de
oportunidades. Quem continuar
acreditando e investindo no Brasil vai ganhar ainda mais e vai crescer
junto com o nosso país” (negritos e sublinhados nossos).
Ganhar ainda mais! Música para os ouvidos da
burguesia...
E agora é a vez de Mantega. Conforme relato da
Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/03/1423069-fazenda-tenta-se-aproximar-de-empresas.shtml), o Ministro da Fazenda vai fazer serviço
completo. Já fez reunião com 12 economistas de mercado, em seguida serão os
empresários (ver imagem acima, na qual estão marcados os empresários que
participaram da reunião de março de 2012) e por fim, banqueiros.
De acordo com a Isto É Dinheiro, “Mantega
vai ouvir as sugestões do setor produtivo e transmitir o recado de que a presidente quer montar um fórum de
diálogo com representantes da indústria”. E vai anotar também. Anotar todas
as medidas novas que a burguesia lhe terá determinado.
Este rápido apanhado das iniciativas recentes
de Dilma, Lula e Mantega para agradar a burguesia brasileira e internacional busca
mostrar, uma vez mais, que o aparelho de Estado capitalista serve para
atender aos interesses da burguesia; serve para estimular sua acumulação
de capital e o aumento de sua taxa de lucro, cuja contrapartida é o aumento da
exploração da classe operária.
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