Caros camaradas, Muito boa a charge que vocês reproduziram sobre a situação da Ucrânia. De fato, todas as notícias e indícios que consegui acompanhar na imprensa e em sítios e blogs sobre aquele país mostram participação efetiva de grupos neonazistas. Inclusive claramente identificados com a invasão hitlerista na II Guerra e com o combate ao Exército Vermelho e a URSS. E agora com os ataques a militantes e instalações do PC da Ucrânia. Mas acho que isso é apenas um aspecto do caso e, infelizmente, vocês não escreveram a respeito. Para tentar contribuir com esse debate - e usando os próprios materiais do Cem Flores - acho que é fundamental analisar o caso ucraniano utilizando o conceito marxista de luta de classes e o conceito leninista de imperialismo, além de considerar a atual crise do imperialismo. Nada diferente do que vocês fizeram no documento sobre a conjuntura internacional de janeiro deste ano. Todos sabemos, ao menos desde Lenin - e vocês corretamente destacaram isso no documento de janeiro -, que, na época do imperialismo, terminada a divisão do mundo entre as potências imperialistas, uma nova divisão não se faz de maneira pacífica, harmônica, em jantares de gala diplomáticos. Trata-se, sempre, de relação de forças, conflitos de diversos tipos e intensidades e, no limite, guerras. Trata-se, enfim, da luta de classes das classes dominantes, entre as burguesias dos países imperialistas envolvidos, com a participação da burguesia do país dominado (aliando-se a um dos lados em conflito ou rachando). Só que no modo de produção capitalista não há perenidade (talvez nem sequer estabilidade) na divisão do mundo. O funcionamento da lei do valor, condicionando a acumulação do capital em escala mundial e nos distintos países, além de fatores históricos, políticos, militares, ideológicos, etc., impulsionam tendências para que se redefinam constantemente / periodicamente essa divisão (como vocês identificaram na tendência de alteração da "nova divisão internacional do trabalho"). O capitalismo é mesmo um bicho contraditório! CONTINUA
Essas tendências se agravam na crise do imperialismo, ainda mais uma tão seria quanto esta. É o que vocês chamam de agravar todas as contradições... No caso da Ucrânia, ficando nos aspectos mais gerais, abstraindo de detalhes específicos que espero secundários (mesmo porque não tenho tanta informação a respeito), pode-se dizer que se trata de uma disputa interimperialista entre Rússia, União Européia (dominada de forma crescente pela Alemanha) e Estados Unidos. O pano de fundo parece ser a crise econômica do pais, em recessão desde 2012, enfrentando queda nas suas exportações de produtos primários (agrícolas e minerais), fuga de capitais e perda de reservas, conjuntamente com o aumento do serviço de sua dívida externa. Não é a toa que muito se falou nos 15 bilhões de dólares de empréstimos que a Rússia enviaria à Ucrânia e que as potências imperialistas ocidentais prometeram cumprir com recursos do FMI. Por sobre essa crise econômica, e agravado por ela, está um gigantesco caldo histórico / étnico das relações Ucrânia/Rússia, agravado pelas ligações econômico-militares entre os dois países. Só para ficar em dois exemplos, o gasoduto que parte da Rússia para abastecer a Europa, via Ucrânia, e a base naval russa de Sebastopol, na Crimeia (agora novamente anexada a Rússia). Como se diz no popular, nesta crise "o buraco é mais embaixo", de tal forma que a ocupação militar russa na Crimeia segue incontestada, com o exército ucraniano batendo em retirada e a Europa e os EUA paralisados. A questão ucraniana, no entanto, segue longe de ser resolvida. Sem querer simplificar em demasia algo muito complexo, trata-se, na minha opinião, de uma disputa interimperialista, na qual a burguesia ucraniana se divide, oscila, entre os dois lados. Dessa disputa não resultará nada de positivo para o proletariado e demais classes dominadas da Ucrânia. O proletariado ucraniano, como o de todos os demais países, deve buscar sua organização independente para fazer frente à burguesia, seja ela ucraniana, russa, alemã ou americana.
Camaradas do Cem Flores, Muito interessantes os comentários do anônimo de ontem sobre a questão da Ucrânia. Buscando contribuir para esse debate, traduzi alguns parágrafos da versão em inglês de documento recente do KKE sobre a questão ucraniana. Acho que o KKE vai na mesma linha de ressaltar o conflito interimperialista que se trava na Ucrânia atualmente. Nessa situação, só cabe ao proletariado a busca de seu caminho próprio na luta de classes, ao lado das demais classes dominadas e contra a burguesia ucraniana e as potências imperialistas.
KKE: Declaração do Escritório de Imprensa do Comitê Central do KKE sobre a Ucrânia e o Referendo na Crimeia
"O KKE desde o primeiro momento denunciou a intervenção imperialista dos EUA-OTAN-União Européia na Ucrânia e o golpe de Estado das forças reacionárias, com a participação de nazistas..." "Tendo como nosso critério os interesses do povo, nós consideramos que a assimilação da Crimeia na Rússia não trata de forma efetiva da intervenção, nem soluciona a essência de qualquer dos problemas reais do povo da Crimeia, nem significa qualquer normalização da situação ou uma solução de longo prazo de paz e cooperação dos povos da região com prosperidade e progresso. A maioria do povo está sofrendo tanto na Ucrânia quanto na Rússia, vivendo nas condições da barbarie capitalista...". "A secessão na Crimeia e sua assimilação na Rússia fortalecerão ainda mais a corrente nacionalista, tanto na Ucrânia quanto na Rússia. Ela vai colocar milhões de trabalhadores na armadilha do confronto com base nas nacionalidades, obscurecendo as causas reais do conflito, tanto quanto a única alternativa de solução que existe para os trabalhadores e que se encontra em outro caminho de desenvolvimento, o socialismo".
Esqueci de colar o link para o documento do KKE. Segue: http://inter.kke.gr/en/articles/Statement-of-Press-Office-of-the-CC-of-the-KKE-on-the-Ukraine-and-the-referendum-in-the-Crimea/.
4 comentários:
Caros camaradas,
Muito boa a charge que vocês reproduziram sobre a situação da Ucrânia. De fato, todas as notícias e indícios que consegui acompanhar na imprensa e em sítios e blogs sobre aquele país mostram participação efetiva de grupos neonazistas. Inclusive claramente identificados com a invasão hitlerista na II Guerra e com o combate ao Exército Vermelho e a URSS. E agora com os ataques a militantes e instalações do PC da Ucrânia.
Mas acho que isso é apenas um aspecto do caso e, infelizmente, vocês não escreveram a respeito. Para tentar contribuir com esse debate - e usando os próprios materiais do Cem Flores - acho que é fundamental analisar o caso ucraniano utilizando o conceito marxista de luta de classes e o conceito leninista de imperialismo, além de considerar a atual crise do imperialismo. Nada diferente do que vocês fizeram no documento sobre a conjuntura internacional de janeiro deste ano.
Todos sabemos, ao menos desde Lenin - e vocês corretamente destacaram isso no documento de janeiro -, que, na época do imperialismo, terminada a divisão do mundo entre as potências imperialistas, uma nova divisão não se faz de maneira pacífica, harmônica, em jantares de gala diplomáticos. Trata-se, sempre, de relação de forças, conflitos de diversos tipos e intensidades e, no limite, guerras. Trata-se, enfim, da luta de classes das classes dominantes, entre as burguesias dos países imperialistas envolvidos, com a participação da burguesia do país dominado (aliando-se a um dos lados em conflito ou rachando).
Só que no modo de produção capitalista não há perenidade (talvez nem sequer estabilidade) na divisão do mundo. O funcionamento da lei do valor, condicionando a acumulação do capital em escala mundial e nos distintos países, além de fatores históricos, políticos, militares, ideológicos, etc., impulsionam tendências para que se redefinam constantemente / periodicamente essa divisão (como vocês identificaram na tendência de alteração da "nova divisão internacional do trabalho"). O capitalismo é mesmo um bicho contraditório!
CONTINUA
Essas tendências se agravam na crise do imperialismo, ainda mais uma tão seria quanto esta. É o que vocês chamam de agravar todas as contradições...
No caso da Ucrânia, ficando nos aspectos mais gerais, abstraindo de detalhes específicos que espero secundários (mesmo porque não tenho tanta informação a respeito), pode-se dizer que se trata de uma disputa interimperialista entre Rússia, União Européia (dominada de forma crescente pela Alemanha) e Estados Unidos.
O pano de fundo parece ser a crise econômica do pais, em recessão desde 2012, enfrentando queda nas suas exportações de produtos primários (agrícolas e minerais), fuga de capitais e perda de reservas, conjuntamente com o aumento do serviço de sua dívida externa.
Não é a toa que muito se falou nos 15 bilhões de dólares de empréstimos que a Rússia enviaria à Ucrânia e que as potências imperialistas ocidentais prometeram cumprir com recursos do FMI.
Por sobre essa crise econômica, e agravado por ela, está um gigantesco caldo histórico / étnico das relações Ucrânia/Rússia, agravado pelas ligações econômico-militares entre os dois países. Só para ficar em dois exemplos, o gasoduto que parte da Rússia para abastecer a Europa, via Ucrânia, e a base naval russa de Sebastopol, na Crimeia (agora novamente anexada a Rússia).
Como se diz no popular, nesta crise "o buraco é mais embaixo", de tal forma que a ocupação militar russa na Crimeia segue incontestada, com o exército ucraniano batendo em retirada e a Europa e os EUA paralisados. A questão ucraniana, no entanto, segue longe de ser resolvida.
Sem querer simplificar em demasia algo muito complexo, trata-se, na minha opinião, de uma disputa interimperialista, na qual a burguesia ucraniana se divide, oscila, entre os dois lados.
Dessa disputa não resultará nada de positivo para o proletariado e demais classes dominadas da Ucrânia. O proletariado ucraniano, como o de todos os demais países, deve buscar sua organização independente para fazer frente à burguesia, seja ela ucraniana, russa, alemã ou americana.
Camaradas do Cem Flores,
Muito interessantes os comentários do anônimo de ontem sobre a questão da Ucrânia. Buscando contribuir para esse debate, traduzi alguns parágrafos da versão em inglês de documento recente do KKE sobre a questão ucraniana.
Acho que o KKE vai na mesma linha de ressaltar o conflito interimperialista que se trava na Ucrânia atualmente. Nessa situação, só cabe ao proletariado a busca de seu caminho próprio na luta de classes, ao lado das demais classes dominadas e contra a burguesia ucraniana e as potências imperialistas.
KKE: Declaração do Escritório de Imprensa do Comitê Central do KKE sobre a Ucrânia e o Referendo na Crimeia
"O KKE desde o primeiro momento denunciou a intervenção imperialista dos EUA-OTAN-União Européia na Ucrânia e o golpe de Estado das forças reacionárias, com a participação de nazistas..."
"Tendo como nosso critério os interesses do povo, nós consideramos que a assimilação da Crimeia na Rússia não trata de forma efetiva da intervenção, nem soluciona a essência de qualquer dos problemas reais do povo da Crimeia, nem significa qualquer normalização da situação ou uma solução de longo prazo de paz e cooperação dos povos da região com prosperidade e progresso. A maioria do povo está sofrendo tanto na Ucrânia quanto na Rússia, vivendo nas condições da barbarie capitalista...".
"A secessão na Crimeia e sua assimilação na Rússia fortalecerão ainda mais a corrente nacionalista, tanto na Ucrânia quanto na Rússia. Ela vai colocar milhões de trabalhadores na armadilha do confronto com base nas nacionalidades, obscurecendo as causas reais do conflito, tanto quanto a única alternativa de solução que existe para os trabalhadores e que se encontra em outro caminho de desenvolvimento, o socialismo".
Esqueci de colar o link para o documento do KKE. Segue: http://inter.kke.gr/en/articles/Statement-of-Press-Office-of-the-CC-of-the-KKE-on-the-Ukraine-and-the-referendum-in-the-Crimea/.
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