Na postagem anterior (http://cemflores.blogspot.com.br/2014/11/teses-sobre-conjuntura-nacional.html)
demos início a uma sequência de publicações sobre a conjuntura econômica
brasileira, os impactos da crise do imperialismo e dos rearranjos da economia
mundial, a crise econômica que atravessamos atualmente e seus impactos nas
classes dominadas.
Publicamos, abaixo, a segunda parte (de um total de quatro), que
analisa um dos fenômenos constitutivos da regressão
a uma situação colonial de novo tipo, a saber, a desindustrialização. Na
postagem seguinte, analisaremos outro fenômeno constitutivo da regressão, a tendência de reprimarização
e especialização na produção de commodities
para exportação. A série terminará com uma quarta postagem, relativa aos
impactos da crise econômica sobre a classe operária e demais trabalhadores.
IV. Desindustrialização
“a indústria sofreu um processo de
reorganização em que perdeu não só setores industriais relevantes, como também
elos de cadeias produtivas de segmentos industriais importantes, cedendo cada
vez mais o papel de setor dinâmico que a indústria ocupava na economia para os
setores do agronegócio, da mineração para exportação, para o setor de
fabricação e montagem de bens de consumo ou partes desses bens para exportação
em empresas de capital externo ou a ele associado”.
“formatação de uma nova estrutura industrial
já não mais integrada horizontalmente e verticalmente pelo encerramento de um
conjunto, ou de elos, parcelas das cadeias produtivas, de ramos de atividades
industriais, segmentos industriais que se faziam desde a extração e manufatura
de matérias primas e insumos ao produto final até o encerramento de setores da
produção de bens de consumo, que assim passam a ser importados ou somente
montados no país (nesse último caso, por monopólios estrangeiros). Com isso,
perdem-se segmentos industriais relevantes ou rompem-se elos em cadeias
produtivas. A desindustrialização é, portanto, um fenômeno constitutivo da regressão a uma situação colonial de novo
tipo”.
(Formação
econômico-social brasileira: regressão a uma situação colonial de novo tipo,
https://sites.google.com/site/cemescolasrivalizem/home/textos-novos/Regress%C3%A3o.pdf?attredirects=0&d=1)
Desde que escrevemos o texto sobre regressão, em 2006, a realidade parece confirmar, cada vez mais, o
acerto das principais tendências nele apontadas. A indústria é o setor da
economia mais afetado pela crise atual, bastando para isso uma olhada nas
tabelas do IBGE reproduzidas na postagem anterior (http://cemflores.blogspot.com.br/2014/11/teses-sobre-conjuntura-nacional.html).
Dentro do setor industrial se diferenciam claramente os desempenhos da indústria
de transformação – especificamente sobre a qual recai a
desindustrialização, fenômeno constitutivo da regressão a uma situação colonial de novo tipo – e da indústria
extrativa mineral, produtora de commodities
para exportação, principalmente minério de ferro e, crescentemente, petróleo, e
“beneficiária”, digamos assim, da referida regressão.
O primeiro e principal dado empírico a quantificar a
desindustrialização no país é a estatística da participação da indústria de
transformação no PIB. Conforme o gráfico 1, podem ser observados dois períodos
inteiramente distintos. Continuando tendência de industrialização que já vinha
dos anos 1920/1930, os dados mostram crescimento praticamente ininterrupto da
relação indústria de transformação/PIB do pós-guerra ao final dos anos 1970. Em
seguida, ressalvados alguns poucos suspiros, a tendência é ladeira abaixo... Em 2008, a participação da indústria de
transformação na economia brasileira, pouco abaixo de 16%, já era menor que no
início da década de 1950. Cálculo mais recente indica que essa participação
caiu para 13,3%, em 2012[i].
Gráfico 1
Bonelli, R. e Pessôa, S. (2010). Desindustrialização
no Brasil: um resumo da evidência. Fundação Getúlio Vargas, Instituto Brasileiro
de Economia (FGV/IBRE) Textos para Discussão nº 7, março, pg. 17. http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/11689/Desindustrializa%C3%A7%C3%A3o%20no%20Brasil.pdf?sequence=1
Para “completar” o gráfico 1, utilizamos as informações das Contas
Nacionais (tanto para o PIB quanto para a indústria) do banco de dados agregado
do Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA, http://www.sidra.ibge.gov.br/) para o período de 2008 ao segundo trimestre
de 2014. As séries corroboram a continuidade
da desindustrialização no país. O gráfico 2 apresenta a evolução do PIB, da
indústria total, da indústria de transformação e da extrativa mineral, a partir
do primeiro trimestre de 2008 (=100).
Gráfico 2
As principais conclusões, a nosso ver, são:
1)
a
indústria segue menos dinâmica que o PIB, representando, portanto, a cada
período, parcela menor do produto, confirmando a tendência de queda desde o
final dos anos 1970, além de ser fator de contenção da expansão do PIB;
2)
na
indústria observam-se comportamentos antagônicos entre a indústria de
transformação e a extrativa mineral. Enquanto esta cresceu 15% desde 2008,
aquela apresentou queda de 5%[ii], trajetória
esperada de acordo com nossa análise da regressão
(ver a epígrafe deste item);
3)
a
indústria de transformação permanece, durante todo o período, abaixo do nível
atingido no terceiro trimestre de 2008 (102,1). Isso representa a existência de
uma enorme capacidade ociosa instalada – capital que não funciona como capital,
não gera mais-valia – e também um grande fator de contenção de novos
investimentos; e
4)
no
curto prazo, a partir de meados do ano passado, a indústria de transformação
iniciou novo ciclo recessivo, puxando para baixo o conjunto da indústria. Nesse
mesmo período, a extrativa mineral apresentou recuperação (estimulada,
principalmente, pelo petróleo), voltando a se alinhar ao desempenho do PIB como
um todo.
Em relação ao mencionado comportamento díspar apresentado por dois
segmentos da indústria, transformação e extrativa mineral, o mesmo se acentuou
a partir de meados de 2013, quando se acentua a crise no país, tornando-se
mesmo antagônicos. Enquanto a forte recessão da indústria de transformação é um
dos principais fatores da crise atual (que tem entre seus determinantes a
reorganização da produção dos monopólios à escala internacional, os rearranjos
da economia mundial, e a crescente concorrência nesses mercados), a extrativa
mineral segue trajetória de crescimento, ainda que também afetada pela crise do
imperialismo, especialmente a redução dos preços internacionais das commodities. No entanto, isso não impede
a continuidade da expansão da produção no setor, basicamente voltado para a
realização externa, como pode ser constatado no gráfico 3, que utiliza dados de
produção física da indústria da pesquisa de Produção Industrial Mensal do IBGE.
Gráfico 3
Em relação ao investimento, a chamada Formação Bruta de Capital
Fixo (FBCF) está em queda faz quatro trimestres, acumulando -11,2% no período.
Com essas quedas, a FBCF já voltou ao nível do começo de 2010. Como o
investimento deve ser entendido como a capitalização de mais-valia, o
determinante de sua expansão/retração é a perspectiva de lucro, qual a taxa de
lucro o capitalista espera obter desse novo investimento após a realização de
sua produção. Vários aspectos relevantes para definir essa perspectiva
estão atualmente desfavoráveis, tais como o nível atual e esperado da produção
(ambos caindo); a magnitude dos investimentos já realizados (excessivos, dada a
capacidade ociosa); os ganhos de lucratividade (atualmente menores); etc.
Dentre os aspectos que permanecem favoráveis à acumulação capitalista estão a
redução dos ganhos reais dos salários, influenciada pelas demissões na
indústria; as seguidas “desonerações tributárias”[iii],
reduzindo o custo de produção; e os baixos custos em financiar os
investimentos, já que um setor da classe dominante não paga as taxas de juros
“de mercado” para investir, mas sim as taxas de juros reais negativas do BNDES
(por volta de 5% em termos nominais), subsidiadas por emissão de dívida pública
(capital fictício).
As desonerações tributárias deverão significar redução de custos
de produção de R$ 112 bilhões neste ano, acumulando quase meio trilhão de reais
desde 2010, conforme dados da Receita Federal. Por sua vez, os repasses do
Tesouro ao BNDES para financiar os lucros já chegam a quase outro meio trilhão
de reais[iv].
“Ou seja, apenas essas duas iniciativas ‘emergenciais’
para retomar o lucro da burguesia aproximam-se da inimaginável quantia de um
trilhão de reais” (ver Notas sobre a Conjuntura da Luta de Classes
e as Eleições de 2014, que apresentamos para o debate organizado pelo
Blog Marxismo 21, http://cemflores.blogspot.com.br/2014/09/notas-sobre-conjuntura-da-luta-de.html).
Ou seja, as estatísticas mais recentes comprovam as teses
levantadas ainda em 2006, sobre a regressão
a uma situação colonial de novo tipo e sobre a desindustrialização como um de seus fenômenos constitutivos:
1)
a
indústria como um todo segue perdendo participação no PIB, o que significa que
a indústria de transformação não “puxa” mais o crescimento do PIB, ao contrário;
2)
essa
queda – na verdade uma recessão de longo prazo na indústria – constitui o
principal fator da recessão atual;
3)
existem
duas dinâmicas no setor industrial, com o desempenho da indústria de
transformação (desindustrialização) diferindo radicalmente da expansão da
extrativa mineral; e
4)
verificam-se
alterações estruturais na indústria, com o fortalecimento da extrativa mineral,
que realiza a maior parte de sua produção no exterior, reduzindo o papel do
mercado interno para sua realização e lucratividade; e a redução da indústria
de transformação, com perda de seu encadeamento (redução/eliminação de cadeias
de produção de insumos industriais e da verticalização da estrutura industrial)
e o aumento da participação de importados no mercado interno.
Sobre esses pontos, pensamos que bastam duas estatísticas.
Primeiro, a “balança comercial de
produtos da indústria de transformação por intensidade tecnológica”,
calculada pelo IEDI (http://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_608.html). Em 2013, houve déficits de US$ 59,7
bilhões para toda a indústria e de US$ 93,4 bilhões no setor de alta ou
média-alta tecnologia. Em 2005, nas contas do IEDI, a indústria fora
superavitária em US$ 31,1 bilhões, e a alta e média-alta tecnologia,
deficitárias em apenas US$ 7,9 bilhões. Um grande avanço da desindustrialização
na “década petista”!
Gráfico 4
Carta IEDI
n. 608 – Comércio Exterior de Bens da Indústria de Transformação: Exportando
Menos, Importando Bem Mais. 24/01/2014. http://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_608.html.
O outro indicador, o “coeficiente
de penetração das importações na indústria de transformação”, calculado
pela Fiesp (http://www.fiesp.com.br/indices-pesquisas-e-publicacoes/pesquisa-custo-brasil-e-a-taxa-de-cambio-na-industria-de-transformacao-2013/), compara o valor da importação de produtos
industrializados com o total das vendas industriais do país. Para o conjunto da
indústria de transformação, o percentual, que em 2003 era de 10,5%, passou para
23,7%, em 2013. Isso significa que, nessa década, o total das importações
industriais cresceu doze vezes mais rápido que a produção industrial interna.
No setor de máquinas e equipamentos, o indicador atinge 72%[v].
Gráfico 5
Fiesp. Custo Brasil e a Taxa de Câmbio na Indústria
de Transformação 2013. Junho de 2014, pg. 11. http://www.fiesp.com.br/indices-pesquisas-e-publicacoes/pesquisa-custo-brasil-e-a-taxa-de-cambio-na-industria-de-transformacao-2013/.
Como afirma artigo do Grupo de Economia da Fundação do
Desenvolvimento Administrativo (Fundap):
“o
avanço da importação, ao atingir por período prolongado bens com similar
nacional, leva as empresas a readequarem suas escalas de produção, abrindo-se à
maior importação de produtos finais e matérias primas, fator que reduz elos das
cadeias produtivas e diminui os efeitos do crescimento da indústria sobre os
demais setores da economia”[vi].
Evidentemente, a perda de importância relativa da indústria de
transformação – tanto na indústria geral, quanto no conjunto da economia –, o
crescimento da extrativa mineral e suas exportações, bem como o aumento das
importações industriais (principalmente chinesas), tendências que caracterizam
a desindustrialização, repercutem na conformação da classe dominante
brasileira. A regressão, de forma mais geral, ao afetar de maneira diferenciada o
dinamismo e a lucratividade dos diversos setores econômicos do país, força
alterações na composição das classes dominantes, provoca disputas entre as suas
distintas frações (contradição no seio das classes dominantes) e também altera
os seus programas.
Assim, a regressão, ao
implicar desindustrialização, acarreta crescente contestação da importância da
tradicional burguesia industrial. Contestação que se apresenta como pautas
próprias de outros segmentos das classes dominantes, não obstante as posições burguesas comuns contra a classe
operária e demais trabalhadores, como a defesa de reformas trabalhistas,
maior “flexibilidade” (sic!) nas relações trabalhistas, reduções de custo da
força de trabalho, etc.
Por um lado, contestação pela burguesia do agronegócio, tanto os latifundiários
quanto, e talvez especialmente, pelo setor industrial de beneficiamento dos
produtos primários (carnes, por exemplo), em busca de maior protagonismo. É
exemplo significativo o caso da JBS – frigorífico monopolista de capital
nacional criado a partir da aquisição das outras empresas do ramo
(centralização do capital), financiado pelo do BNDES – como o maior financiador
das campanhas eleitorais deste ano[vii].
Por outro lado, pelos segmentos exportadores da extrativa mineral.
Um pequeno exemplo vem da “briga” pública, nas páginas da Folha de São Paulo,
entre o presidente da Vale e os presidentes de associações de classe dos
setores de máquinas e equipamentos, vestuário, brinquedos, indústria gráfica,
têxtil e confecções[viii]
a respeito da política econômica do governo petista.
Além disso, as novas tendências da economia mundial e brasileira
alteram o tradicional programa da burguesia industrial, tradicionalmente
voltado para a “defesa” do mercado interno, com “incentivos” (benefícios)
fiscais e tributários, empréstimos subsidiados, compras governamentais, índices
de nacionalização e enorme “proteção” tarifária. Exemplo disso é o documento “A
Reorientação do Desenvolvimento Industrial”, do Instituto de Estudos do
Desenvolvimento Industrial (IEDI), de agosto de 2014 (http://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_639.html)[ix].
Os dois eixos propostos pelo IEDI para essa “reorientação” são: em
primeiro lugar, a redução do “custo
Brasil” (obviamente com reformas trabalhistas para a “redução do custo do trabalho” e a solução do “problema” da “baixa flexibilidade do trabalho”); e, em
segundo, a elaboração de uma “nova
política de comércio exterior”. Neste segundo “eixo”, a novidade: o IEDI critica
sem meias palavras a “atual diretriz da
política industrial, baseada em incentivos fiscais e proteção de mercado”
por sua “orientação excessivamente
defensiva e protecionista”, de “proteção
do mercado interno”. A partir dessa crítica, defende a “revisão de todos os programas que demandam
incentivo fiscal, proteção e requisitos de ‘conteúdo nacional’, o que tende a
elevar custos e reduzir a produtividade da economia”.
Concretamente, os “desenvolvimentistas” do IEDI pedem “maior aproximação com os grandes centros do
comércio mundial”. Isso ocorreria através da maior integração com as “cadeias globais de produção”; maior
integração do capital estrangeiro para “elevar
a presença brasileira nas cadeias internacionais de valor”; abertura
comercial e redução de impostos sobre importação (exemplo, bens
intermediários); e avanços nos acordos comerciais com EUA, Europa e Ásia.
Dá a impressão de que a burguesia industrial brasileira está na
mesma situação dos americanos derrotados no Vietnã: todos correndo para pegar o
último helicóptero para fugir de Saigon, com medo de serem deixados para
trás...
Ou seja, setores da burguesia industrial já passam a considerar a
desindustrialização como fato consumado diante da concorrência de manufaturas
importadas, especialmente chinesas. Começam, assim, a desembarcar dos antigos
paradigmas “desenvolvimentistas” (coisa que os “neoliberais” já haviam feito
muito antes): construir uma indústria “nacional”; implantar um expressivo setor
produtor de bens de produção (Departamento 1) para internalizar integralmente o
ciclo industrial; manter o mercado interno “cativo” à produção nacional; etc.
Na conjuntura atual, esse programa passa a ser substituído pelo de uma “especialização” industrial, a partir
das/integrada às chamadas cadeias globais de valor – expressão da produção
cada vez mais internacionalizada dos grandes monopólios transnacionais que
repartem o mundo entre si. Em alguns poucos casos, como carnes, cerveja e
siderurgia[x]
e poucos outros (soja e minério de ferro, se tivessem cadeia significativa;
talvez petróleo), a burguesia industrial brasileira pode almejar algum
protagonismo. Aos outros segmentos industriais, caberá, se tanto, participar da
montagem final dos produtos (quando não houver a importação de bens finais) para
o mercado doméstico ou dos vizinhos ou participar de algum momento
intermediário dessa produção.
[i] De acordo com a matéria A indústria esmagada (Carta Capital,
nº 815, 03.09.2014, pg. 49).
[ii] Mesmo na indústria de transformação, o resultado dentre seus
setores é díspar: “No plano interno, o
retrocesso acima referido, de 5% para a produção média da indústria desde a
crise global, esconde casos de gravidade extrema. Assim, no segmento de produtos têxteis, vestuário e calçados
e em amplos complexos industriais – a
exemplo do metal-mecânico e eletroeletrônico – a perda de produção chegou a
quase 30%. O mais baixo índice médio
decorreu da significativa expansão de setores com elevado peso na estrutura
industrial, como alimentos, bebidas,
produtos derivados do petróleo e produtos de limpeza, cosméticos e higiene
pessoal” (A Reorientação do
Desenvolvimento Industrial.
Carta IEDI 639, 29.08.2014, http://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_639.html. Negritos nossos).
[iii] Sobre esse tema, ver nossos artigos “Como o Comitê Central da
Burguesia decide as medidas de política econômica”, de julho de 2012 (http://cemflores.blogspot.com.br/2012/07/como-o-comite-central-da-burguesia.html); “A peregrinação de Dilma a Davos, a Meca do Capital”, de
fevereiro de 2014 (http://cemflores.blogspot.com.br/2014/02/a-peregrinacao-de-dilma-davos-meca-do.html); e “Mais uma Reunião do Comitê Central da Burguesia”, de março de
2014 (http://cemflores.blogspot.com.br/2014/03/mais-uma-reuniao-do-comite-central-da.html).
[iv] Estimativas recentes do custo do subsídio envolvido nesses
empréstimos do BNDES (custo de captação do Tesouro Nacional mediante emissão de
dívida pública, grosso modo a taxa Selic, 11%, menos o custo que o BNDES cobra
nos empréstimos, aproximadamente TJLP, 5%) atingiram R$ 23 bilhões apenas para
o ano de 2014 (http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,custo-dos-subsidios-do-tesouro-ao-bndes-chega-a-r-23-bilhoes-este-ano-imp-,1558885).
[v] Para essas duas estatísticas (déficit comercial da indústria de
transformação por intensidade tecnológica, do IEDI, e coeficiente de penetração
das importações, da Fiesp) existe fonte alternativa, a Fundação Centro de
Estudos do Comércio Exterior (Funcex, http://www.funcex.org.br/). O artigo A
indústria esmagada (Carta Capital, nº 815, 03.09.2014, pgs. 46-49),
usando dados da Funcex, apresenta o coeficiente de penetração das importações
para 9 setores (sem o total), mostrando crescimento em todos eles na comparação
de 2012 com 1996. Da mesma forma, publica gráfico com a evolução do “resultado líquido do comércio externo de
manufaturados”, passando de superávit de US$ 5 bilhões, na média de 2003-2006,
para déficit de US$ 105 bilhões, em 2013. Evidentemente, essa última série é
mais abrangente que a utilizada pela Fiesp. Não obstante, qualquer que seja a
fonte, as estatísticas apontam tendências idênticas.
[vi] “Nível de atividade no governo Dilma: determinantes do baixo crescimento
econômico”. In: Boletim de Economia [28], de junho de 2014. Disponível
em http://novo.fundap.sp.gov.br/arquivos/PDF/Boletim_de_Economia_Fundap_28_jun2014_Conjuntura_Nivel_de_Atividade_no_governo_Dilma.pdf.
[vii] Apenas até o começo de setembro, a JBS já havia “doado” R$ 133
milhões para 3 candidatos a presidente, 12 a governos estaduais, 13 ao Senado,
168 candidatos a deputado federal e 197 a estadual, conforme http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/09/1519452-maior-doador-de-campanhas-concentra-repasses-a-governistas.shtml.
A
JBS permaneceu como maior “doadora” para candidatos e partidos nas eleições
deste ano, “ajudando” a eleger 160 parlamentares, com sua bancada sendo maior
que a soma dos eleitos pelo PT e PMDB (http://www.ihu.unisinos.br/noticias/537173-jaf-elegeu-a-maior-bancada-da-camara).
[viii] Ver http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/09/1512150-defasada-industria-de-sp-vive-um-fla-flu-com-dilma-diz-presidente-da-vale.shtml e http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/09/1512491-industria-rebate-presidente-da-vale-e-critica-politica-economica.shtml.
[ix] Dentre vários outros exemplos de programas recentes elaborados
pela burguesia industrial, com diferenças de enfoque, podemos citar “101
Propostas para Modernização Trabalhista”, da Confederação Nacional da
Indústria (CNI), de 2012 (http://arquivos.portaldaindustria.com.br/app/conteudo_18/2012/12/04/2728/20121204160144687771i.pdf), explicitamente utilizado pelo governo petista na elaboração das
medidas governamentais de redução de custos da força de trabalho e consequente
ampliação do lucro da burguesia, e “Por
Que Reindustrializar o País?”, da Federação das Indústrias de São Paulo
(Fiesp), de agosto de 2013 (http://www.fiesp.com.br/indices-pesquisas-e-publicacoes/por-que-reindustrializar-o-brasil/).
A CNI parece continuar como a preferida do governo petista. No 9º
Encontro Nacional da Indústria, no último dia 5 de novembro, o Ministro
Mercadante afirmou: “Essa agenda [do segundo
mandato de Dilma], prometeu
Mercadante, terá como base os 42 estudos apresentados pela CNI durante a
campanha eleitoral. “Na semana que vem,
as propostas da CNI estarão sobre a mesa do governo. Vamos avaliar ponto a
ponto e fazer a agenda da competitividade avançar”, destacou o ministro” (http://www.portaldaindustria.com.br/cni/imprensa/2014/11/1,50887/enai-2014-industria-deve-estar-no-centro-da-estrategia-de-desenvolvimento-do-brasil-diz-presidente-da-cni.html).
[x] A enumeração é de Maria da Conceição Tavares: “Considera
que a siderurgia, cerveja e carnes conseguiram se inserir nessas cadeias [grandes
cadeias globais]. As demais, dificilmente
conseguirão”. Em outro trecho, afirma que “Não há maneira de recuperar o espaço da indústria brasileira no mundo
nem na economia brasileira, porque exatamente nenhum avanço permitirá competir
com os asiáticos ... Considera a desindustrialização inevitável”. E ainda:
“A divisão internacional do trabalho
mudou. No caso brasileiro, é mais favorável ao agrobusiness que à indústria”.
Ver http://jornalggn.com.br/noticia/conceicao-o-fim-do-desenvolvimentismo-e-a-democracia-social?page=1.
Outro economista “desenvolvimentista”, Marcelo Miterhof, do BNDES,
também defende a participação das empresas brasileiras nas cadeias globais de
valor, defendendo “a possibilidade de o
país criar ou liderar suas próprias cadeias globais de valor”. Além das
carnes, o autor menciona os seguintes “candidatos”:
“energias renováveis (eólica, solar e
biocombustíveis), mineração, agricultura”. “Cadeias Globais de Valor”,
Folha de São Paulo, 28.08.2014. http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcelomiterhof/2014/08/1506910-cadeias-globais-de-valor.shtml.
3 comentários:
Pode-se falar em regressão tecnológica sintomática do modo de produção de capitalismo decadente. O Brasil insere-se em uma modalidade de globalização desigual.
Amigo, acho que o termo regressão e decadente, nesse contexto, pode ter um caráter simplista e errado. Regressão tecnológica onde? Para quem? Assim como a decadência do capitalismo pode significar mais riqueza a poucos, como vemos na última crise. Ou seja, é preciso captar o sentido dialético e articulado da condição dominada - qu não é absoluta ou fixa.
Sobre essa parte: os toscos futuristas falam que a desindustrializaçãotambem é um fato em vários lugares do centro, e a predominância dos serviços seria bem vindo. No centro a diferença seria a alta tecnologia ? Onde entra os serviços nisso tudo?
Caro Ailton,
A sua conceituação “regressão tecnológica sintomática do modo de produção de capitalismo decadente” e “modalidade de globalização desigual”, pelo que eu entendi - peço que corrija-me caso eu esteja equivocado – nos coloca um problema interessante e bom para debatermos. Peço que, se possível, nos detalhe mais sobre esse seu ponto de vista.
Seríamos um capitalismo decadente cujo um de seus sintomas seria uma regressão tecnológica? E mais: essa decadência seria ou se expressa em uma inserção a um tipo de modalidade de globalização desigual?
Seriam esses os problemas que você levanta?
Bom, se são esses, ou seja, se eu consegui captar corretamente seus argumentos, então vou tentar comentá-los e criticá-los.
Primeiro: Se a nossa inserção no imperialismo se dá de forma diferente (desigual) é porque i) a luta de classes, as relações de produção que se dão nesse sistema mundial, estipulam “lugares”, onde os grandes monopólios detentores dos estados nacionais e dos aparelhos internacionais reproduzem, sob a luta que travam entre si e conjuntamente contra os explorados, esses “lugares”; ii) lugares que não se confundem somente com coordenadas geográficas, mas com posições econômicas, políticas e ideológicas, haja vista que são formas concretas de disputa pela mais-valia, de salvaguarda do crescimento ou manutenção da taxa de lucro, de exploração da força de trabalho; iii) que o termo modalidade prejudica sua afirmação, pois ele remete a uma escolha e não a um processo concreto e determinado.
Segundo: um “capitalismo decadente” pode nos levar a pensar que ele seja obsoleto, que estivesse morrendo. Como disse o Anônimo de 10 de dezembro: “a decadência do capitalismo pode significar mais riqueza a poucos, como vemos na última crise. Ou seja, é preciso captar o sentido dialético e articulado da condição dominada – qu[e] não é absoluta ou fixa.” Digo captar o sentido dialético do próprio sistema: o imperialismo é senil mas é forte, aumenta, globaliza e concentra em um polo, por um lado, a miséria; e por outro, concentra, centraliza nas mãos de poucos capitalistas as riquezas, que a disputa entre essas empresas pelo butim da luta que travam contra os explorados é cada vez mais acirrada. Sua senilidade não diz que ele está morrendo, mas que está “louco”, pela barbárie que eleva, pelo luxo que escancara, agressivo e com um porrete na mão.
Terceiro: Regressão tecnológica ou ainda regressão industrial – e essa segunda é mais completa – tomadas de forma absoluta ou relativa, devem ser definidas em que situações concretas. Como disse o Anônimo de 10 de dezembro: “tambem é um fato em vários lugares do centro”. Ou seja, em alguns países dominantes tivemos desindustrialização em virtude do deslocamento de indústrias em busca de menores valores da força de trabalho (luta pelo aumento da taxa de lucro). Poderíamos dizer que nos setores onde o Brasil se especializou teve desenvolvimento tecnológico.
Portanto, tentando responder as suas problemáticas, entendo que temos regressão industrial e não tecnológica em alguns setores do capital no Brasil, frutos de sua forma (não modalidade) de inserção no sistema imperialista, que não é fruto de uma decadência e nem uma escolha qualquer essa inserção. É uma forma de nos mantermos nesse sistema.
Atenciosamente,
Abelardo Nazareno
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