Largo da Batata/São Paulo-SP |
Blog Cem Flores
Ônibus parados nas garagens. Trens e metrôs funcionando precariamente. Manifestações em aeroportos. Bloqueios em rodovias. Escolas sem aulas. Trabalhadores fora dos seus locais de trabalho, se manifestando nas ruas e nas praças país afora. Repressão das forças policiais do aparelho repressivo do estado burguês.
Isso foi o que aconteceu nessa sexta, dia 28 de abril, quando os trabalhadores praticamente pararam o Brasil, de norte a sul, por um dia.
Pararam para resistir contra a ofensiva do capital que se traduz no desemprego, na retirada de conquistas e na piora de suas condições de vida. Mais concretamente, greve geral contra as “reformas” da previdência e trabalhista.
Como se simbolicamente, no próprio dia da greve geral o IBGE divulgou que o desemprego aumentou para 13,7% (um ano atrás era 10,9%), representando mais de 14 milhões de trabalhadores sem emprego.
Na quarta, dia 26, a Câmara dos Deputados do Capital, eleita pelos banqueiros, empreiteiros, latifundiários e empresários de modo geral – ou seja, a Odebrecht é apenas uma parte dessa história – aprovou a “reforma” trabalhista de Temer. Por essa proposta, “acordos” entre sindicatos pelegos e patrões podem cancelar conquistas traduzidas em lei; criam-se contratações sem vínculo empregatício e, portanto, sem garantias trabalhistas (a chamada uberização); a jornada de trabalho pode ser tanto ampliada ao nível da exaustão quanto reduzida ao nível que os patrões quase não precisem pagar (hipocritamente chamada de “jornada intermitente”); entre muitas outras barbaridades.
E não esqueçamos que essa “reforma” trabalhista está vindo depois da aprovação da lei da terceirização ampla, geral e irrestrita. Ou seja, precarização, redução de salários, retrocesso em conquistas e maior exploração do trabalho pelo capital.
A próxima rodada de “reformas” já está apresentada, com a da previdência. Aposentadoria só aos 65 anos, tempo de contribuição de 49 anos para a aposentadoria integral, virtual inviabilização legal da aposentadoria dos trabalhadores rurais, etc.
Contra isso os trabalhadores buscaram resistir na sexta. Contra a ofensiva do capital e contra as suas “reformas”. Contra a perda das conquistas duramente conquistadas e contra a piora de suas condições de vida. Contra o aumento da exploração no trabalho.
Recife/PE |
Essa foi a tônica da greve geral. Resistência. Luta. Mobilização.
A greve geral do dia 28 de abril foi grande, representativa, amplamente distribuída por todo o país e pautada pela disposição dos trabalhadores em resistir.
Nada a ver com as negativas do governo e seus asseclas. Nada a ver com sua representação na mídia burguesa (apenas grupos de vândalos, quase “terroristas”). Mas também a greve se deslocou da perspectiva dos partidos, centrais sindicais, sindicatos e movimentos pelegos e reformistas.
Esses reformistas – lembrar a definição de Lênin: o reformismo é uma posição burguesa no movimento operário – tratam as massas trabalhadoras e suas manifestações apenas como alavancas para suas posições eleitoreiras e institucionais. Veja-se o “mais radical” (sic!) dentre esses: Guilherme Boulos, do MTST. Em artigo para convocar a greve geral, conclui com um apelo ao Congresso Nacional!!!: “aos parlamentares, ainda há tempo de escutar a maioria” (Folha de São Paulo, 28 de abril, página A3).
Ou seja, como dissemos no artigo Teses Sobre a Crise do Capital e a Luta de Classes no Brasil, de 16 de abril:
“O proletariado enfrenta essa ofensiva burguesa em condições muito desfavoráveis, fortemente atingido pelo desemprego, pela redução de salários e pela deterioração de suas condições de vida; com baixo nível de organização para a luta sindical; e sem sua organização política, isto é, sem posição própria na luta de classes. A esmagadora maioria das centrais sindicais, dos sindicatos e dos chamados “movimentos populares” assume posições reformistas/revisionistas, de conciliação de classes e de união nacional, quando não posições abertamente burguesas na luta de classes. Decorrente dessas posições, sua atuação concreta vai da defesa do governo Dilma (MTST: embora criticando sua política de conciliação de classes e/ou seus “erros”!?), dos elogios aos militares (MST), dos acordos com empresas para efetivar demissão de trabalhadores, até todos os tipos de negociatas e conchavos institucionais”
Dessa maneira, o importante é reforçar o aspecto concreto das manifestações na greve geral do dia 28: essas mobilizações foram expressão de uma tentativa de resistência das massas trabalhadoras. Resistência nos limites de sua capacidade e de sua organização. Resistência que busca ultrapassar esses limites.
Resistência que deve continuar de todas as formas possíveis. Na segunda-feira, na comemoração do Dia Internacional dos Trabalhadores, o 1º de Maio. Comemoração como a ocasião exige: com protestos e manifestações.
Afinal, já ensinava Cartola aos seus irmãos e irmãs de classe:
Se o operário soubesse
Reconhecer o valor que tem seu dia
Por certo que valeria
Duas vezes mais o seu salário
Mas como não quer reconhecer
É ele escravo sem ser
De qualquer usurário
Abafa-se a voz do oprimido
Com a dor e o gemido
Não se pode desabafar
Trabalho feito por minha mão
Só encontrei exploração
Em todo lugar*
Os operários sabem e saberão cada vez mais o seu valor, Mestre Cartola.
A luta diária é dura e a organização, difícil. Mas os grilhões serão quebrados. O capitalismo, sua exploração, os burgueses e seus asseclas, abutres e parasitas, serão enterrados.
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